sexta-feira, 20 de julho de 2012

= DECEPÇÃO CRÔNICA =


Qualquer um que passa por este mundo está sujeito a vicissitudes. E, quanto mais atividades tiver, quanto mais pretender, quanto maior for sua participação  social, econômica, suas lides nesta vida, maior é o grau de situações em que se embrenha. Fazendo o bem ou mau, isso pouco importa. De qualquer forma é como se andássemos em um espinheiro. Sempre, aqui ou ali, um espinho nos fere.

     Há aquele conto do escorpião que, rogando ao sapo para que o carregasse às costas atravessando o rio, ao final, pica o sapo e este afunda morrendo afogado junto com o escorpião, o qual lhe era beneficiário. Desesperado, afogando-se, o sapo pergunta: “Por quê ? Por quê me mataste quando vamos morrer os dois ?” E o escorpião, aguardando a morte por afogamento, lhe responde: “É minha natureza. Não pude evitar.”

     E, morrem os dois.

     Outra fábula é da cobra coral linda, enrodilhada sobre a neve prestes a morrer congelada. O viandante a vê, apieda-se e a coloca aquecendo sob o casado. A primeira picada foi, naturalmente, no caridoso andarilho que morre da picada letal.

     Essa é a natureza cruel destes dois infelizes. Um mata a quem o salva, outro a quem o auxilia.

     E, assim, é esta vida.

     Mas o pior de tudo isso não é o mau que nos causa em si mesmo. É o mau que nos faz destruindo nossa fé em quem quer que seja. Este é seu grande pecado. Deixa-nos desconfiados, arredios, como a esperar o próximo bote, a próxima picada. Dá-nos medo de quem temos dó, compaixão. Este é o crime maior que comentem por sua natureza impiedosa e desditosa. Queremos e esforçamo-nos por esquecê-los, mas eles ficam presente em nossa alma como a marca de uma ferida que não sara, sempre somente piora em tamanho e dor.

     Enfim, é a decepção crônica.