A medida que esta
minha vida vai alongando-se no tempo, eu começo a observar alguns fatos
curiosos.
Ainda agora recebi um e-mail de meu
filho, que assim dizia logo no “assunto” : “GRAVE E URGENTE”. Não era nada. Nem
grave e nem urgente. Ao contrário, sorri.
Hoje damos importância a fatos tão
corriqueiros que tudo parece mesmo “GRAVE E URGENTE”.
Fazer uma pergunta.
Você que me lê, acha que uma pessoa que
vive mais de 90 anos tenha sido feliz ou infeliz ?
Que lhe parece ?
Se infeliz tivesse, já teria morrido bem
antes ou na década dos 70 anos.
Os que chegam além dos 90 anos,
provavelmente foram felizes.
Por quê será ?
Sem dar aqui exemplos históricos, tenho
um tio que viveu acho que por 95 anos fumando, bebendo e um pouco farrista
demais.
Conheço o pai de uma amiga que viveu
esta mesma idade, fazendo tudo que este tio fizera.
Claro, felicidade não é garantia certa
de longevidade.
Se assim não é, mas bem parece que seja -excetuando fator genético- a vida parece carecer de grandes feitos ou de
alegrias extraordinárias. O usual é o que basta. Pois estes dois homens que
conheci e muitos outros que tive oportunidade de conviver, nada mais viveram
senão o trivial.
Eu estava no velório de uma tia já bem
entrada em anos. E meu tio, marido dela e bem mais velho que ela, cochilando na
sala. Em um determinado momento começou uma conversa mais alta referindo-se as
mazelas do Inferno. Uma conversa tosca para um velório, mas este tio acordou do
cochilo e perguntou: “De que inferno estão falando ?” Um respondeu: “Do inferno
que está este mundo...”. Ele levantou-se e saiu dizendo: “Xiiiiiiiiii
!!!!!!!!!!!!!!!! Nisso de inferno nem entro...” E este tio criou oito filhas.
Este é outro exemplo dos que duraram
mais de 90 anos. Morreu dormindo, parece. Deve ter dormido tão profundamente
que morreu.
Agora, nos tempos que ora vão, parece
que estamos condenados a sermos dinâmicos, alegres, vencedores, sem erros, sem
defeitos, com perfis atléticos, porte ereto, vestirmos na moda, viajando para o
exterior, contando nossos dias de férias e de trabalho, com cada coisinha em
seu lugar, com um astral que estimulem nossos semelhantes, proibidos de
sentirmo-nos tristes, preocupados, deprimidos, desiludidos, chateados, nervosos
às vezes, com alegrias comedidas outras e vai por aí um padrão que recomendam
nos livros de auto ajuda ditando, sempre, fórmulas mágicas e burras para assim
o sermos.
Ora, quê que é isso, meu Irmão ?
Todos sabem que o mundo não é assim, já
o dizia o velho Sócrates: “Sou homem e o vem do homem não me é estranho.”
Bem. Aqui falei de um padrão geral que
se adotou, não falo de doenças nem crônicas e nem eventuais. Lincoln foi um
grande homem, mas teve, ao longo da vida, cinco anos de profunda depressão.
Tomou, inclusive durante a Guerra da Secessão, remédios contra a depressão.
Mas estas situações são anômalas. Pois
no cotidiano a vida precisa sim de muita paciência e resignação, dando
importância relevante ao que se deve e não ao que desejem que nós queiramos.
Tenham um ótimo dia.
J. R. M. Garcia.