terça-feira, 24 de julho de 2012

= MANIA DE SER FELIZ =


               A medida que esta minha vida vai alongando-se no tempo, eu começo a observar alguns fatos curiosos.
        Ainda agora recebi um e-mail de meu filho, que assim dizia logo no “assunto” : “GRAVE E URGENTE”. Não era nada. Nem grave e nem urgente. Ao contrário, sorri.
        Hoje damos importância a fatos tão corriqueiros que tudo parece mesmo “GRAVE E URGENTE”.
        Fazer uma pergunta.
        Você que me lê, acha que uma pessoa que vive mais de 90 anos tenha sido feliz ou infeliz ?
        Que lhe parece ?
        Se infeliz tivesse, já teria morrido bem antes ou na década dos 70 anos.
        Os que chegam além dos 90 anos, provavelmente foram felizes.
        Por quê será ?
        Sem dar aqui exemplos históricos, tenho um tio que viveu acho que por 95 anos fumando, bebendo e um pouco farrista demais.
        Conheço o pai de uma amiga que viveu esta mesma idade, fazendo tudo que este tio fizera.
        Claro, felicidade não é garantia certa de longevidade.
        Se assim não é, mas bem parece que seja  -excetuando fator genético-  a vida parece carecer de grandes feitos ou de alegrias extraordinárias. O usual é o que basta. Pois estes dois homens que conheci e muitos outros que tive oportunidade de conviver, nada mais viveram senão o trivial.  
        Eu estava no velório de uma tia já bem entrada em anos. E meu tio, marido dela e bem mais velho que ela, cochilando na sala. Em um determinado momento começou uma conversa mais alta referindo-se as mazelas do Inferno. Uma conversa tosca para um velório, mas este tio acordou do cochilo e perguntou: “De que inferno estão falando ?” Um respondeu: “Do inferno que está este mundo...”. Ele levantou-se e saiu dizendo: “Xiiiiiiiiii !!!!!!!!!!!!!!!! Nisso de inferno nem entro...” E este tio criou oito filhas.
        Este é outro exemplo dos que duraram mais de 90 anos. Morreu dormindo, parece. Deve ter dormido tão profundamente que morreu.
        Agora, nos tempos que ora vão, parece que estamos condenados a sermos dinâmicos, alegres, vencedores, sem erros, sem defeitos, com perfis atléticos, porte ereto, vestirmos na moda, viajando para o exterior, contando nossos dias de férias e de trabalho, com cada coisinha em seu lugar, com um astral que estimulem nossos semelhantes, proibidos de sentirmo-nos tristes, preocupados, deprimidos, desiludidos, chateados, nervosos às vezes, com alegrias comedidas outras e vai por aí um padrão que recomendam nos livros de auto ajuda ditando, sempre, fórmulas mágicas e burras para assim o sermos.
        Ora, quê que é isso, meu Irmão ?
        Todos sabem que o mundo não é assim, já o dizia o velho Sócrates: “Sou homem e o vem do homem não me é estranho.”
        Bem. Aqui falei de um padrão geral que se adotou, não falo de doenças nem crônicas e nem eventuais. Lincoln foi um grande homem, mas teve, ao longo da vida, cinco anos de profunda depressão. Tomou, inclusive durante a Guerra da Secessão, remédios contra a depressão.
        Mas estas situações são anômalas. Pois no cotidiano a vida precisa sim de muita paciência e resignação, dando importância relevante ao que se deve e não ao que desejem que nós queiramos.
        Tenham um ótimo dia.
        J. R. M. Garcia.