segunda-feira, 23 de julho de 2012

= MINHA PRIMEIRA AUDIÊNCIA =



                 Fato verídico, o que narro logo nas primeiras páginas de meu livro, CONFISSÕES DE UM ADVOGADO.
             Minha primeira audiência foi um tanto, digamos, singular.                                 Nunca entrara em uma sala de audiências.

          Era ainda solicitador acadêmico. Prestava serviços no escritório de um dos mais dignos advogados que conheci, Professor Rubem Cione.          Uma manhã ele me disse: “Venha de paletó e gravata à tarde. Você vai acompanhar-me em uma audiência.”          Naquele tempo Ribeirão Preto tinha apenas três varas. Lá fomos nós. A primeira vara, onde seria a audiência, ficava no primeiro andar.          “Vá para a sala de audiência e espere-me lá.” Falou-me.          Foi o quê fiz.          Entrei, a sala estava vazia, pois era a nossa a primeira audiência. Fiquei sentado aguardando.          Decorrido alguns minutos entrou uma pessoa, o qual imaginei ser o escrivão. Mandou que sentasse ao seu lado na mesa. Sentei. Ele indagou-me:          --Seu nome?          Respondi. Ele datilografou.           --Data de nascimento?          Respondi. Ele datilografou.          --Número da identidade?          Respondi. Ele datilografou.          Ele continuou a datilografar e, tendo terminado, ficamos ali por alguns instantes em silêncio.          Logo entrou uma pessoa absolutamente circunspecta que, sentando-se à cabeceira da mesa, em posição mais elevada, tomou nas mãos um processo e leu-o em silêncio rapidamente.          Em seguida dirigiu-se a mim:          --O senhor sabe por que está sendo processado?          Fiquei entre um misto de curioso e muito assustado, pois eu não sabia que estava sendo processado.          Respondi: “Não sei não senhor”.          Ele abaixou a cabeça, franziu o cenho e, sisudo, olhou para o escrivão, que também estava surpreso indagando-me:          --No dia 20 de Novembro de 1964, o senhor não brigou com seu cunhado na Vila Tibério, por volta das...          Comecei a gaguejar alguma coisa quando, neste momento, Professor Rubem Cione -que se atrasara- adentrou à sala e desfez todo o equívoco.          O que se dera é que o escrivão, desejando adiantar o termo de audiência, vendo-me na sala, qualificou-me. O Juiz, tomando dos autos, não tendo acompanhado a qualificação, começara a audiência.          Não me lembro mais quem era o Juiz –parece-me que Dr. Dalton da Silveira Vita- mas lembro-me bem que ele desculpou-se comigo. Naquele tempo os juízes ainda desculpavam-se. Hoje, -é uma pena!-, apenas alguns ainda desculpam-se.          No fim todos nós estávamos rindo à pregas soltas.          J. R. M. Garcia.