quinta-feira, 19 de julho de 2012

= VACA ATOLADA =



Este fato é verídico.
Há na fazenda um córrego que a divide ao meio. Suas margens eram ambas úmidas demais. Era o que chamamos brejo.
Isso deu-se há uns vinte anos passados.
Mas, naquela época, era assim.
O gado, quando a seca vem, no mês de julho e agosto, o capim diminui e algumas reses vão à procura de capim verde, o qual nasce, exatamente, nestas baixadas mais frescas. De forma que vão comendo e caminhando, caminhando e comendo em direção a uma armadilha fatal: o atoleiro. Não percebem que estão sendo presas no barro. Ao final é aquilo que se diz vulgarmente: “a vaca foi pro brejo”. Significa que está no pântano, presa na lama e, de lá, não conseguem sair. É como o coitado do individuo preso nos bancos. Entendem ?
Naquele ano a seca foi terrível. Contava-se o gado empastado às margens do dito córrego, e pronto: faltavam-se duas ou três reses. E lá se ia todo pessoal da fazenda tentar tirar do charco quantas coseguissem. Quando achava uma, duas rezes, ficava-se horas e horas ali tentando removê-la.
Noite de lua, céu azul sem nuvens, céu estrelado, hora de dormir e chega o vaqueiro avisando afobado: “Vaca atolada...” Pronto. O sossego acabava. Iam ser horas e horas tentando retirar o infeliz animal daquele barro pegajoso, que mais parecia areia movediça. Fomos uns quatro companheiros, com cordas de couro, argolas e arreatas para tentar retirar a pobre vaca.
Horas e horas de luta. Ora era uma pata que saia e outra afundava e, cada vez mais, ela ia entrando para o fundo infindável daquele lamaçal. A coisa estava cada vez mais difícil. Também nós estávamos mergulhados no barro até a cintura. Tudo lama, da cabeça aos pés. Suados, molhados, enlameados. E, nada.
De repente, naquela escuridão, um grito do vaqueiro mais forte: “Ôpaaaa !!!! Vamos agora...Firmei o pé aqui em uma raiz bem abaixo dentro da barro....Cruzemos as mãos e força. Vamos ! ! !”
Ao primeiro puxão para a arrancada de força, dei um grito com horrível dor: “Pááaraaaaaaaaaaaa !!!!!!!!! Páááraaaaaaaaaaaa!!!! Vocês quebram minha pernaaaaaaaaaaaa...........”
A raiz que ele encontrará sob seu pé, dentro do barro, lá em baixo no barro, era minha perna mergulhada na lama. Ao forçar a rês para tirá-la do lodaçal, já minha perna estava para quebrar e a pele sobre o osso, debaixo de sua botina, não existia mais.....
Agora era eu o atolado e com a perna sem pele, vim arrastado para fora do lamaçal e fui cuidar da perna de osso descascado.
É isso aí !