Este fato é verídico.
Há na fazenda um córrego que a divide ao
meio. Suas margens eram ambas úmidas demais. Era o que chamamos brejo.
Isso deu-se há uns vinte anos passados.
Mas, naquela época, era assim.
O gado, quando a seca vem, no mês de
julho e agosto, o capim diminui e algumas reses vão à procura de capim verde, o
qual nasce, exatamente, nestas baixadas mais frescas. De forma que vão comendo
e caminhando, caminhando e comendo em direção a uma armadilha fatal: o
atoleiro. Não percebem que estão sendo presas no barro. Ao final é aquilo que
se diz vulgarmente: “a vaca foi pro brejo”. Significa que está no pântano,
presa na lama e, de lá, não conseguem sair. É como o coitado do individuo preso
nos bancos. Entendem ?
Naquele ano a seca foi terrível.
Contava-se o gado empastado às margens do dito córrego, e pronto: faltavam-se
duas ou três reses. E lá se ia todo pessoal da fazenda tentar tirar do charco
quantas coseguissem. Quando achava uma, duas rezes, ficava-se horas e horas ali
tentando removê-la.
Noite de lua, céu azul sem nuvens, céu estrelado, hora de
dormir e chega o vaqueiro avisando afobado: “Vaca atolada...” Pronto. O sossego
acabava. Iam ser horas e horas tentando retirar o infeliz animal daquele barro
pegajoso, que mais parecia areia movediça. Fomos uns quatro companheiros, com
cordas de couro, argolas e arreatas para tentar retirar a pobre vaca.
Horas e horas de luta. Ora era uma pata
que saia e outra afundava e, cada vez mais, ela ia entrando para o fundo infindável
daquele lamaçal. A coisa estava cada vez mais difícil. Também nós estávamos mergulhados
no barro até a cintura. Tudo lama, da cabeça aos pés. Suados, molhados, enlameados.
E, nada.
De repente, naquela escuridão, um grito
do vaqueiro mais forte: “Ôpaaaa !!!! Vamos agora...Firmei o pé aqui em uma raiz
bem abaixo dentro da barro....Cruzemos as mãos e força. Vamos ! ! !”
Ao primeiro puxão para a arrancada de
força, dei um grito com horrível dor: “Pááaraaaaaaaaaaaa !!!!!!!!!
Páááraaaaaaaaaaaa!!!! Vocês quebram minha pernaaaaaaaaaaaa...........”
A raiz que ele encontrará sob seu pé,
dentro do barro, lá em baixo no barro, era minha perna mergulhada na lama. Ao forçar
a rês para tirá-la do lodaçal, já minha perna estava para quebrar e a pele
sobre o osso, debaixo de sua botina, não existia mais.....
Agora era eu o atolado e com a perna sem
pele, vim arrastado para fora do lamaçal e fui cuidar da perna de osso
descascado.
É isso aí !