RESIGNAÇÃO
Retorno ao tema deixado em pedaços, como folhas ao vento, sobre a ideia
da resignação. Dele não me furtarei. Abandonei-o, mas volto a tomá-lo em mãos. Quero repassá-lo com você.
Como disse antes: “Em meu modesto e humilde entender, os conceitos explicativos
sobre a palavra resignação, não me satisfazem. Não que seja um linguista.
Provavelmente formei-me culturalmente sob conceitos diversos. Vejo o termo
muito mais dentro do aspecto da racionalização, do que sob um aspecto de
sofrimento.”
Pesquisei, com toda atenção, não só na Etimologia como no Léxico, um
desenho que me aproximasse do que penso.
O que encontrei foram vagas afirmações sobre abdicação, desistência, renunciação, "renúncia espontânea a uma graça ou um
cargo”; “submissão paciente aos sofrimentos da vida”(Aurélio). E por aí vai.
Na Psicologia a resignação é um recuo, um afastamento, uma demonstração
de desânimo. Ora, isso é o que me desanima mais. A Psicanálise, a vir com esse
pensamento, deixou-me perplexo.
ESCRAVO
Antes de mais nada, resignação não é
escravidão, não é conformismo, não é renúncia. Ao contrário. Resignar-se é
libertar-se, é tornar-se livre, é buscar o novo quando já o quê era não existe
mais.
Darwin não disse isso, mas poderia ter dito:
É destruindo
que se constrói e é construindo que se destrói. Se tivesse dito, seria o
resumo lapidar de sua Teoria.
Para mim, resignar-se é, antes de tudo,
adaptar-se ao insuperável como uma marca de necessidade à vida.
Aleatoriamente tomemos alguns exemplos de resignação. Exemplos
exagerados para realçar a tema.
Sócrates, (não o brasileiro, mas o Filósofo Grego),
praticamente força o Tribunal dos Quinhentos, que o julgou com sentença de
morte. Oportunidades várias foram-lhe oferecidas para fugir antes e depois do
julgamento. Não. Ele não aceitou. O que ele queria, era a eternidade de sua
filosofia entrando pelos nossos olhos neste momento. Logo, ele não se resignou
à sentença, pois dali nasceu-lhe a Eternidade.
Garcia Lorca não aceita o perdão de Franco, que
o admirava, preferindo a sentença de morte na busca, também, da eternidade de
seus versos e poemas.
Jesus
-na belíssima análise que se lhe faz da vida Plínio Salgado- vendo fulminada suas possibilidades de uma
revolta que dele esperavam, não se resigna à crucificação, mas continua sua
vida e doutrina após sua morte com a célebre resposta a Pilatos, que afronta os
judeus e a Judéia em geral: “Tu o disseste.”
Evidentemente estes são exemplos clássicos e
dramáticos. Mas, como a vida não é feita de heróis, qualquer um pode praticar e
exercer a resignação.
RESIGNAÇÃO VITORIOSA
Logo, resignação não é um sentimento pacífico
de adaptação. É sim um grito de liberdade para a adaptação presente ou futura
vida.
Quando tudo tolda-lhe em falanges contra si, é
o momento de cessar a luta. Mas cessar como ? Através da resignação. E começar
outra luta, como ? Através da resignação também. Somente o que muda, são os
processos adaptativos às circunstâncias que o cercam. A resignação não é ponto
final, mas apenas uma vírgula de passagem.
Assim, a resignação é sim um grande sentimento
de vida, de luta, de ideal, de busca, de enfrentamento.
Errado estão os etimólogos, os linguistas, os
Léxicos e pior ainda os psicólogos, que associam o termo a ideias funéreas de
desistência, de renúncia, de abdicar, de ceder, de abster-se, de cessão.
Tenham um ótimo fim de semana e recordem-se:
resignação não é cessação.
Abraços.
J. R. M. Garcia.