quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

=ÉPOCA SOMBRIA= (PRIMEIRO CAPÍTULO)

TEMPOS     DIFÍCEIS
Penso que alguns ou muitos de vocês, saibam que fui aos treze anos para o internato de jesuítas. Antigamente isso existia.
Lá fiquei até os 18 anos e, depois, passei a viver em hoteis e “repúblicas” por nove anos consecutivos. EmSão Paulo e Ribeirão Preto.
Talvez, por isso, hoje moro em um hotel.
Nestes anos de hoteis e ”repúblicas” aconteceu de tudo. Escapar vivo desta maratona da juventude já era um teste para viver mais um pouco daí em diante.  Maconha, craque não existiam e se existissem eram drogas fracas.  E a heroina era cara e pouco disseminada. Mas tinhamos uma droga terrível e mortal. As Metanfetaminas nominadas de várias formas, era o que se chama hoje nos dicionários médicos “droga antiga, mas poderosa”,  somadas ao alcool, iamos a loucura quase total. O pulso subia a cem, cento e vinte, a pressão arterial aumentava e é como se dentro da cabeça um turbilhão de coisas zoavam.   Perdi alguns amigos sob efeito delas. Quando mortos ficavam azul. E, até hoje, não sei o porquê. Se alguém souber explique-me esta coloração interessante.
Tinhamos turmas. Viviamos a noite enturmados e alcoolizados. Anos e anos passei por este desgaste terrível.
Estudava-se ?
Sim. Durante os três primeiros anos enfrentei o Bandeirantes, em São Paulo. À aquela época um colégio realmente sério. E foi lá que entrei em contato com as Metanfetaminas. Quinze dias bebia e quinze dias estudava como um louco, sem dormir, para aproveitar as notas do mês. Ali vi um primeiro colega tombar azul. Estava magro como um palito e sem dormir há dias. Morreu, simplesmente. Mas estudava-se sim. Esquecia-se o que estudava, mas passava de ano.
Em Ribeirão Preto, época em que morava em um hotel sobre o Pinguim, a gente fazia exames até bêbados, mas passava-se. E a isso ainda somava as aulas que eu dava de Trigonometria, em um dos primeiros cursinhos preparatórios para engenharia.
Conto-lhes isso para que sintam a ambiência dissoluta da vida que vivíamos, sem tirar nem por. Aliás. Dissoluta é eufemismo. Não me orgulho disso. Detesto este período. Mas, infelizmente, o vivi.
VESTIMENTA CLÁSSICA

 Sempre gostei das Letras e tinha um amigo excelente poeta. Hoje creio que morto. Mas um poeta extraordinário. Versejava como as águas da chuva caem nas bicas e rolam sem rumo pelas calçadas.  Coisa linda ouvi-lo declamar ! Pode ser que Álvarez de Azevedo, Castro Alves, Emílio de Meneses, Bilac tenham-se igualado a ele, mas ultrapassá-lo não.
Ele trajava-se esmeradamente à moda romântica antiga. Colete, abotoaduras de ouro, punhos grandes, paletó, colarinho duro e gravata. Sempre. Bêbado ou não, sempre foi assim.
Uma noite, madrugada já no bruxulear da aurora nascente, vínhamos ele e eu, trançando as pernas pela rua. Ele, elegantemente vestido, mas com um pão sob o braço. Pretendia comê-lo ao chegar à “república”.
Deparamos com um amontoado de gente. “Uma festa”, pensamos. E logo deduzimos. “Vamos lá. A festa está no fim e ninguém nos notará. Vamos comer e beber.”
Respiramos fundo, firmamos os passos e retos como somente os bêbados são capazes de fazer, fomos direto para a festa.
Entramos firmes. Não queríamos ser notados.
Ele comia pouco, pois usava muito “remédio”. Eu tinha bom apetite e imaginava as iguarias da festa. E, por azar nosso e de todos, uma bandeja passou servida de coxinhas e café logo ao chegarmos ao alpendre. Deliciamo-nos.
Bem, amigos !
Para um blog, já os fiz ler muito hoje.
Amanhã a gente acaba esta história verídica no Segundo Capítulo.
Abraços.
J. R. M. Garcia.