TEMPOS DIFÍCEIS
Amigos.
Respeito-os muito e, por isso, continuo hoje o capítulo
que ontem prometi. Agradeço-os pelas muitas visitas ao Blog.
Como disse-lhes ontem, chegamos ao alpendre da casa em
festa.
Fomo servidos imediatamente.
O poeta, elegantemente vestido, com o pão que esquecera
debaixo do braço, entrou primeiro. Pressentia mulheres. Queria vê-las.
Lá sentou-se na primeira cadeira que encontrou. Estava
cansado da “zoeira” da noite. Eu também entrei e logo sentei-me.
Estranho que não havia músicas. Todos conversando
baixinho. Quase em murmúrios.
Minha primeira ideia foi a de que entrara em uma casa de
culto religioso à aquela hora.
Estranho. Muito estranho.
Olhei para o poeta e ele não se tocou. Talvez estivesse
mais bêbado que eu. Quiz falar alguma coisa, mas contive-me. Não tinha o que
dizer. Apenas imaginei que era uma festa diferente. Muito diferente.
Novamente mais salgados.
Adorei.
Estava com fome. Beber dá fome quando a ressaca já vem
vindo.
O poeta parou de servir-se. E, aliás, estava muito
pálido. O quê, para aquelas horas, achei normal. Ele tinha o corpo mais frágil
que o meu.
Também observei que não havia muitos frequentadores e nem
música e nada de gente dançando. A maioria pertencia a terceira e última idade.
Eu já estava inquieto sem compreender o nexo da festa.
Agora já não estava bêbado.
Mas o poeta nada. Nem se tocava. Parece que deu uma curta
cochilada. Mas logo levantou-se e entrou para o cômodo seguinte, sempre com o
pão debaixo do braço. Esquecera-o, imagino.
Foi para uma sala maior.
Acompanhei-o.
A FESTA
Quando vi, o bardo correu para fora trombando
em mim e ele quase caindo, com ânsia de vômito.
E gritou alto: “É um velório... Deus me
livre....”
Olhei então e vi, claramente visto, que se
tratava de um velório.
Claro que todos já, a esta hora, estavam
tocando-nos do local com fortes empurrões, e, por pouco, não entramos em uma
surra sem piedade.
O que julgáramos festa era um velório.
Descemos correndo pela rua, já sem sinal da
bebedeira que antecedera nossa entrada ali e o poeta vomitando sobre seu
elegante traje, mas sempre com o pão debaixo do braço.
Dormimos até tarde na “república”.
Ao acordarmos o poeta sem camisa, mas ainda
vestido, acercou-se de mim e disse:
“Acho que estou piorando, sabe ! Tive um sonho terrível
esta noite. Sonhei que estávamos em um velório e fomos expulsos. Coisa estranha
este sonho ! Preciso parar de beber tanto.” E foi procurar o pão para comer.
Um abraço a todos.
Ótima sexta-feira.
J. R. M. Garcia.