Esta
é a mais remota lembrança que tenho de Natal.
Pode
ser absurdo, mas não é.
E,
também, pode não ser absurdo. Um fato comum, talvez. Contudo jamais o narrei a
ninguém. E, realmente, não sei porquê não o fiz.
Quem
primeiro ensinou-me a contar até 10 foi um velhinho -muito velinho mesmo. E curioso ainda mais,
é que ele tinha barbas longas e brancas como a neve. Nem sei o que aconteceu
com ele. Eu tinha mais ou menos 5 anos. Claro, ele sumiu em uma morte que
imagino tenha sido feliz. Não lembro seu nome.
Ele
morava longe de minha casa. Em um arrebalde, em uma casinha pobre, caindo aos
pedaços. Certamente conhecia minha família, pois dia sim dia não, ia até minha
casa ensinar-me a contar.
Nas
primeira vezes tive medo dele, pela barba grande e os cabelos compridos.
Depois, quando vi que minha mãe o conhecia, já o recebia com alegria.
Ele
no começo, ensinando-me, contava em seus próprios dedos. Depois, já que eu me
interessava, deixava que ele pegasse em meus dedos e ia falando: “Este é um,
este é dois, este é três...” Até que chegava no quinto dedo.
Quando
passou para a outra mão tive uma enorme confusão. Para mim, imaginava que os
números terminavam no quinto dedo.
Mas
ele, com delicadeza, insistiu que deveria passar para a outra mão. E, assim,
aprendi a contar até 10.
Eu
não sabia o quê era Natal e nem que se dava presentes à esta época. Mas mesmo
assim meu pai deu-me algumas coisinhas e disse que eram presentes. Fiquei
contente e surpreso, pois era raro isso à aquela época.
Mas
a surpresa veio do velhinho.
Ele
pareceu lá em casa, dizendo que meu presente era....e tirou de um saco de
linhagem.
Um
lindo pequeno arco, com três flechas, feito à mão e envernizado, com talos de
bambus grossos enrodilhados muito bem à fogo, incrustado e amarrados.
Explicou-me como manejar a linda peça.
Todos
olharam a beleza da peça que ele produzira.
E,
surpresa geral.
O
meu primeiro alvo...............foi meu pai.
Tenham
um feliz dia de Natal sem estes presentes primitivos e perigosos.
Abraços.
J.
R. M. Garcia.