segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

PRESENTE DE NATAL



Esta é a mais remota lembrança que tenho de Natal.

Pode ser absurdo, mas não é.

E, também, pode não ser absurdo. Um fato comum, talvez. Contudo jamais o narrei a ninguém. E, realmente, não sei porquê não o fiz.

Quem primeiro ensinou-me a contar até 10 foi um velhinho   -muito velinho mesmo. E curioso ainda mais, é que ele tinha barbas longas e brancas como a neve. Nem sei o que aconteceu com ele. Eu tinha mais ou menos 5 anos. Claro, ele sumiu em uma morte que imagino tenha sido feliz. Não lembro seu nome.

Ele morava longe de minha casa. Em um arrebalde, em uma casinha pobre, caindo aos pedaços. Certamente conhecia minha família, pois dia sim dia não, ia até minha casa ensinar-me a contar.

Nas primeira vezes tive medo dele, pela barba grande e os cabelos compridos. Depois, quando vi que minha mãe o conhecia, já o recebia com alegria.


Ele no começo, ensinando-me, contava em seus próprios dedos. Depois, já que eu me interessava, deixava que ele pegasse em meus dedos e ia falando: “Este é um, este é dois, este é três...” Até que chegava no quinto dedo.

Quando passou para a outra mão tive uma enorme confusão. Para mim, imaginava que os números terminavam no quinto dedo.

Mas ele, com delicadeza, insistiu que deveria passar para a outra mão. E, assim, aprendi a contar até 10.

Eu não sabia o quê era Natal e nem que se dava presentes à esta época. Mas mesmo assim meu pai deu-me algumas coisinhas e disse que eram presentes. Fiquei contente e surpreso, pois era raro isso à aquela época.

Mas a surpresa veio do velhinho.


Ele pareceu lá em casa, dizendo que meu presente era....e tirou de um saco de linhagem.

Um lindo pequeno arco, com três flechas, feito à mão e envernizado, com talos de bambus grossos enrodilhados muito bem à fogo, incrustado e amarrados. Explicou-me como manejar a linda peça.

Todos olharam a beleza da peça que ele produzira.

E, surpresa geral.

O meu primeiro alvo...............foi meu pai.

Tenham um feliz dia de Natal sem estes presentes primitivos e perigosos.

Abraços.

J. R. M. Garcia.