ESTE BLOGUEIRO
Calados, pai, o menino e mãe andaram, uma última vez, pelo jardim interno
do edifício, através do pátio, indo até a piscina e subiram uma alameda de
velhas casuarinas. Entardecia. Quase noite. O vento soprava um lânguido rogo de súplica nestas
árvores tristes. Os três passaram pela diretoria e, pai e mãe, despediram-se do
reitor. Cruzaram os pórticos da ampla saída.
A hora havia chegado. Dois dias
haviam-se passado. Tinham de dizer adeus.
Com um abraço muito apertado,
estremo mesmo, quase a tirar-lhe o fôlego, o pai despediu-se. A mãe, de olhos úmidos mas firmes, abraçou-o também. Ele ficou parado, estático, vendo-os irem
através do grande portão de ferro pela rua afora até que, bem longe, vê os dois
vultos virarem a curva no último quarteirão. Eles não olharam para trás. Não
podiam olhar. Suas almas estavam oprimidas, contritas, não podiam conversar e o
pai, em silêncio, caiu em lágrimas em choro convulsivo.
PORTÃO DA SEPARAÇÃO
Permitiu-se que ali, escorado no enorme portão trancado, o filho ficasse a ver
agora a rua deserta até que a noite sobreveio de todo. A escuridão termina a
despedida.
Sua infância morrera ali
debruçado naquele enorme portão. Bagas grossas de lágrimas rolavam-lhe pelo
rosto, tal qual acontecera a seu pai mais além. Nunca mais aquele menino de
treze anos voltaria ver os pais. Um período de sua vida terminara. Veria sim
outras vezes, mas como aquele menino que era, nunca mais.
Voltaria um dia. Voltaria de
ano a ano. Mas nunca mais seria o mesmo. Nós mudamos. Todos mudam.
Jamais o filho voltou
para casa paterna. Em um instante outro
universo surge e o filho amalgama-se a este sem perder na lembrança o
passado...mas tudo já era diferente.
Que sentença foi essa ?
Que tormento foi esse ?
Que fatalidade se bateu sobre os três ?
Não se sabe. Ninguém nunca foi
capaz de explicar.
O filho nunca mais voltou.
As vezes passeava pela casa
paterna, mas nunca mais retornou.
Uma boa segunda feira Amigos.
J. R. M. Garcia.