=FRONTEIRA BRASIL E URUGUAI (LIVRAMENTO - RIVERA)=
Muitas décadas se passaram.
Era
noite. Sexta-feira. O mês, junho. O ano, não me recordo. Fazia frio e, no céu, uma luona deste
tamanhão. Ventava.
Para
mim, por terra, era a primeira vez que atravessava a divisa. Mas, por várias
vezes, já havia estado lá.
Agora,
além do frio na pele, um outro friozinho diferente vinha-me lá bem no fundo do
estômago que, depois, torna-se em dor ardente.
Era
minha esperança que, pelas inúmeras visitas feitas à alfândega, pelo menos os
escalões mais inferiores conheciam-me e, de mais a mais, foram constantes meus
almoços com todos eles. Deveriam saber, pelo menos, o número de caminhões que
passariam por ali, no horário já combinado. Mas, saber exatamente o que
aconteceria ao não parar os veículos, isso ninguém poderia saber. A multa
liquidava de todo em todo o negócio e, não parar, poderíamos levar tiros. Essa
a alternativa. O investimento era esse. Era para isso que eu estava ali. Passar
estes caminhões na noite fria, na fronteira entre Rivera e Santana do
Livramento, sem tiros, prisões ou multas.
GADO GIROLANDO
A
carga eram vacas holandesas, puras de origem, (PO), vindas do Uruguai para
iniciar, no Brasil, a criação de um gado misto. Os impostos eram, à época,
punitivos. O governo brasileiro sempre quis ser sócio de todo infeliz
empreendedor e, entrando sem a licença deste ladrão, ele pune. Evitar isso
é politicamente incorreto, mas
perfeitamente ético e moralmente válido.
E
assim, com uma moto à frente e outra atrás, comboiando os caminhões em péssima
estrada de terra, lentamente, íamos em fila, com luzes apagadas, contornando o
posto da alfândega para implantarmos o primeiro plantel do que se chamou,
depois, o gado girolando.
Fomos
felizes. Hoje este gado existe com este nome.
E
foi assim.
Um
abraço em todos vocês.
Ótimo
fim de semana.
J.
R. M. Garcia.