quinta-feira, 26 de setembro de 2013

=SAUDADE DE MIM=

DOCE INFÂNCIA

Qualquer leitor, vendo o título da crônica, poderá perguntar: “E daí? O que tenho eu a ver com este cara? Ele que sinta o quê quiser e não tô nem aí...”
E, se assim é, por quê abordo este tema?
Simples.
Respondo a este amigo leitor:
Será que você nunca sentiu saudade de si mesmo? Nunca mesmo? Nunca se viu, imotivadamente, em um pequeno campinho de futebol jogando bola; em uma quadra de tênis; em um ônibus vendo a paisagem passar; em um carro olhando um regato célere sob a ponte e pensou que já pescou, e gostaria de ali jogar sua varinha infantil de pesca?
Não? Isso nunca aconteceu a você?

SAÍDA DE AULAS

Você nunca se viu menino ainda, mais mocinha(o), assistindo os alunos saírem em algazarra da escola ao final da aula e sentiu-se entre eles?
Duvido sinceramente.
Isso são lembranças que fugidias nos assaltam quase como quadros do inconsciente. É comum.
Mas esta semana, não inconsciente, mas consciente mesmo e com fotos, deparei-me com um lance destes.
Perdi a carteira de motorista e fui tirá-la em uma repartição.
E lá veio a foto.
É de se rir. Um horror!
Não gostei do que vi.
A foto de um indivíduo atônito, obstúpido, pasmado, embasbacado, feio, velho, rugas profundas. Eu não restituiria a carteira para alguém tão feio.
Como há muito não tirava foto três por quatro, fiquei horrorizado.
Mas, de algum modo, bestificado ou não, ainda estou vivo.
E quem diz que isso não poderá acontecer a você meu amigo?
Por isso a crônica.
Entendeu?
Amanhã é sexta e, depois, um ótimo fim de semana para você.
Abraços.
J. R. M. Garcia.  


terça-feira, 24 de setembro de 2013

=ANGUSTIANTE RETORNO=

AVIÃO TIPO CORISCO

Em atenção aos leitores e ao eficiente gerente do “resort” onde habito, Sr. ΝΙΚΟΛΑΟΣ   ΧΑΡΙΛΑΟΣ   ΚΑΣΦΙΚΗΣ, um grego, vou terminar o fato verídico que narrei antes: O retorno da viagem a Pontes e Lacerda. Afinal, todo grego é curioso, vocês sabiam ?
Vamos lá.
Embarcamos a bordo do pequeno “corisco” e, em uma pista estreita e curta, alçamos voo em direção contrária ao vento. O piloto e o gerente do frigorifico à frente, eu atrás. Logo voltamos e tomamos o rumo da Serra das Araras.
Chegado a um determinado ponto adrede definido pelo piloto, começamos a fazer voltas. (o GPS ainda não existia). Subíamos sempre. Umas quatro voltas se bem me lembro. Em espiral ascendente.

SOBRE AS NUVENS

Por fim, suponho que cerca de 1.500 mts. de altura, vimos sobre a serra uma cortina de nuvens densas e o horizonte azul, livre a perder de vista. Subíramos acima da serração.  
Aí entendi o estratégia do piloto.
Ele subira, fora da serra, até a altura que, vendo em baixo a cortina de nuvens, ia pular a serra em cerca de meia hora mais ou menos e, do outro lado desceria também sem nada que lhe opusesse a visão.
Medida inteligente: pular as nuvens, a neblina, a serra e, do outro lado, descer.
Voamos aproximadamente uns trinta minutos.
O piloto começou a inverter a posição da quilha, a medida que fizera antes ao subir. Fazendo uma espiral descendente começamos a ir ao rumo em que ele, pelos instrumentos, supunha que estava a pista.
Pronto.


CABINE DO PILOTO EM VOO CEGO

Aí a coisa embaraçou e embaçou.
Mergulhamos novamente em uma neblina tão densa como a que fugíramos dentro da serra. Não se via nada.
A orientação era o altímetro e orar para que, de fato, tivéssemos “pulado” a serra e nenhum morro nos esperasse do outro lado dela para nos matar.

VISÃO DE UMA ATERRAGEM
Creiam-me: o tempo não se mede pelas horas e nem pelos dias. Mede-se sim pela intensidade de nossas emoções. Os instantes haviam congelado. Nada falávamos. Só o ronco estridente e acelerado do motor e o flaps de arrasto segurando.
O avião descendo, descendo, buscando o solo em um voo com poucos graus de inclinação na quilha. Digamos que tateávamos as nuvens como a mão de um cego passa sobre uma mesa em busca de algum objeto. Mas o objeto aqui, se fosse uma antena alta ou um serro, ou torres de energia elétrica, era morte certa. Mesmo acelerado o “corisco” não teria tempo. Seria o fim.
Transpirávamos. O dia era quente. Gotas de suor escorriam pelas faces do piloto, eu vi. Nada falávamos.
Enfim, por Deus, vimos em um buraco entre a névoa em que enxergamos o chão. Como um rato o piloto embicou ali o avião antes que fechasse. Foi rápido, muito rápido. Estávamos abaixo das nuvens a uns duzentos metros do chão.
E voamos assim em linha reta rumo ao aeroporto, que não era o de Cuiabá, como eu esperava. Descemos em um campo de pouso de grama a uns 30 km. de Cuiabá. Porquê isso não perguntei e não sei.  
Enfim, pousamos. Descemos rápido como se estivéssemos saindo de uma câmara de tortura. O gerente do frigorífico, que deixara de fumar, voltou a fumar pedindo-me um cigarro.
Fui com eles para Cuiabá.
Neste dia não voei mais, embora pudesse. Estava esgotado.
O que ganhei com isso ?
Quase nada. Uns poucos níquéis  Meus clientes fugiram para a Bolívia, que estava perto dali. 
Até mais.

J. R. M. Garcia.  

domingo, 22 de setembro de 2013

VELHICE:- TEMA ETERNO


        Um amigo, gestor do hotel onde moro atualmente, colocou sob a porta de meu apartamento, uma crônica muito bem escrita por Rosana Zaidan. O título: “BIOLOGIA PURA”.
        Texto firme. Enxuto. Sério.
     A cronista vê o envelhecimento sob vários ângulos. Ela afirma que os velhos “...enxergam mal, ouvem pior, andam com dores, trocam palavras...” e continua: “Uma ilha cercada de saudade.” “A verdade biológica é resposta para a dúvida metafísica.” “A velhice, portanto, é uma sonífera ilha.” “Um país da solidão.”
       Ao final reconhece que, a experiência que o velho eventualmente possua somente serve para ele mesmo, pois “os mais jovens não a compreendem”.
     Quanto a infância assim se expressa: “...a infância é uma batalha perdida”.
       Da juventude diz: “Vem a juventude...É o país das ilusões.”
      E, ao final, em um laivo poético recomenda: “Os netos, colheita de luz, oásis seiva, recomeço, milagre. A vida. De novo.”
    Há verdade nas impressões relatadas pela Autora. E muitas verdades.
        Mas, incorrigível cartesiano, pergunto:
Uái ! Se a infância é uma “batalha perdida”, a juventude “...é o país das ilusões” e a velhice “um país da solidão”, por que, com os netos, iniciar uma “colheita de luz, oásis de seiva..de novo”?
        Uma proposta paradoxal?
        Talvez não.  
     Tenham uma ótima semana e que Deus os proteja, sempre.
        J. R. M. Garcia.


        

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

COM MUITO CARINHO

"SE VOCÊ TIVER FÉ EM UM RAIO DE SOL, JÁ É O BASTANTE PARA DEUS ATENDÊ-LO"

DONA  EMÍLIA GARCIA. 

Meus amigos.
Sei por, experiência pessoal, que a coisa mais difícil na vida é manter a serenidade quando tudo dá errado. Nossas forças fraquejam e imaginamos que o pânico não terá mais fim. Parece um pesadelo acordado.  
Horrível isso!
Mas, também, faz parte da vida de muitos de nós.
Mormente em uma caso como o meu.
Sem mérito ou demérito, a verdade é que me vi muitas vezes imerso em risco de vida, sob ameaças físicas, sob pressões legais -tanto na esfera penal como civil-, tendo de arcar com grandes prejuízos ao longo da vida, erros negociais absurdos, perdi grandes oportunidades, fracassei em muitos propósitos, errei, fui tolo, perdi familiares e, de uma forma ou de outra, cheguei até aqui.
De modo que, quando vejo, estes livros de autoajuda, desdenho-os. Sei que os que os escrevem nada mais são do que pessoas cujo sofrimentos, canseiras e experiências, nem chegam a roçar-lhes a alma. Sua metodologia é simplista, frugal, muito aquém do desespero que rodeia os infortunados quando margeiam ao desespero. São palavras soltas ao vento, tentando mitigar a ansiedade e o caos onde o outro está mergulhado.
Digo-lhes sem medo de errar. Se encontrarem-se em uma situação como a acima refiro-me, postem seus joelhos no chão. Orem. Orem com todas suas forças. Deus o ouvirá e, se não o ouvir, dar-lhe-á forças para superar o insuperável. Não trilhem os caminhos da palavra fácil, seja de pastores ou de livros. Não. Orem no seu silêncio e terminará sentindo que de Deus estará consigo. Tenham fé, quando nada mais for possível.
A vida é cheia de dificuldades, mas o ânimo intrépido e varonil de uma pessoa, cuja fé inspira-lhe os gestos, é tão forte quanto a maior grandeza do Universo.
Tenham um ótimo domingo e uma semana cheia de esperança.
Tenham um excelente fim de semana. 
A todos meu fraterno abraço.
J. R. M. Garcia.

domingo, 15 de setembro de 2013

=OPORTUNIDADE PARA FELICIDADE=

FELICIDADE É POSSÍVEL SIM 



Amigos.
Dê uma oportunidade a Felicidade.
Falar sobre a felicidade, é um problema de difícil abordagem.
Por quê?
Porque ela se encontra em quase todos os lugares e, muitas vezes, não se encontra em nenhum.
Ditar normas dizendo que para ser feliz é necessário fazer assim e deste modo, é errado.
Dizem alguns que, resumindo: “a felicidade é onde você a encontra”.
Modo simplista de resumir uma idéia de tamanha complexidade.
A pergunta óbvia é: E onde você a encontra?
Disso eu não sei.
Mas sei de alguns estados espirituais, sem os quais é impossível ser feliz.
Imagino que a felicidade não pode adentrar em um coração sem humildade, sem renuncia e sem resignação.
humildade verdadeira, a que nos deixa ver o mundo com clareza, é o ato de rirmos de nós mesmos, de nossas tolices, de nossos erros, de nossa falta de atenção, de nossa ausência de autocrítica, na percepção entre um fato sério e urgente, de outro  simples e passageiro.
renúncia  é o fato de buscarmos o muito que não temos, desprezando o pouco que temos. Este parece ser um erro comum na gente.
resignação importa em consolarmo-nos com o que jamais teremos. Além do possível, buscar o impossível, vai  às raias da loucura, pois o mundo é vasto e nosso apetite é insaciável.
Enfim...Estas medidas poderão parecer medíocres, mas dá alguma certeza alguma certeza, penso eu.
Uma ótima semana. 
Fiquem com Deus.  


J. R. M. Garcia.


sábado, 14 de setembro de 2013

=O MACAQUINHO E EU=


Há muito tempo.
Eram onze horas da manhã. Um sábado como hoje. 
Em um bairro afastado eu procurava não sei se um pedreiro, pintor ou encanador. Parava aqui, ali, procurava uma rua, outra, entrava em uma viela e voltava.
Nada de achar. Praticamente o endereço não era correto.
Em um boteco de esquina, onde tinha à frente um terreno vago, resolvi parar o carro e informar-me melhor.
Ditei o endereço e o dono nada sabia. Perguntei aos demais fregueses e ninguém conhecia nem o nome do cidadão e nem a rua.
Já ia saindo quando vi, em um terreno baldio ao lado do bar, um macaquinho de pequeno porte dependurado em um único poste fincado. O sol era escaldante. Ao lado do local estavam tomadores de cerveja vendo o infeliz  macaco, já com a coleira tendo arrancado seus pelos do pescoço, pulando na corrente para cima e para baixo. Apenas uma bacia de água suja, morna ao sol, ao lado do poste.
Parei. Olhei para o infeliz animal e para os tomadores de cerveja. Eles olharam-me inquisidoramente.
Vi que o pobre coitado do macaco se mordia todo. Mordia a si mesmo de raiva, desespero ou sei lá o quê. Talvez, se tivesse meios, suicidaria.
Dirigi-me, por cautela, ao dono do bar. Acompanharam-me os olhares dos cervejeiros. Expressei que aquilo não era certo. Propus comprar o triste animal. Ele pediu-me um preço proibitivo.
Sai em silêncio, fui até a Delegacia próxima. Lá me disseram que não tinham ordens para este tipo de diligência para apreensão de animais. Aquela época não exista nem IBAMA, nem legislação própria que cuidasse dos animais.
Fui para o Bosque Municipal. Lá me informaram onde morava o  presidente da Associação Amiga dos Animais. Era o que existia então. Fui procurá-lo. Encontrei um velhinho que teria mais ou menos a idade que tenho hoje. Expliquei-lhe o fato e fomos para o distante bairro onde os fatos aconteciam.
Chegamos.  O velhinho era realmente incisivo, enérgico. Interpelou o dono do bar, arrumou uma discussão tremenda com os frequentadores e saímos em silêncio. Fomos a tal Delegaria. Lá o respeitável velhinho só não ameaçou o Delegado porque ele estava ausente. No fim dois guardas resolveram acompanhá-lo para não piorar a confusão.  Ele foi no carro de polícia e eu acompanhando.
Lá chegando, sem perguntar nada a ninguém, o frágil distinto velhinho com um saco de linhagem colocou dentro o pequeno macaquinho. Entrou comigo no carro e fomos embora rapidinho debaixo dos protestos, desaforos,  ameaças e xingamento dos bêbados. Somente os dois policiais impediram que fossemos surrados.   
Já eram mais de dezoito horas da tarde quando soltamos no Bosque Municipal, o agora muito feliz macaquinho.
Deixei aquele senhor, vestido de anjo, na casa dele, agradeci e fui para minha casa levar bronca da esposa, porque saíra com uma finalidade as dez horas da manhã e nada fiz. Afinal vadiara a tarde toda.
Ótimo fim de semana amigas(os)
Abraços. 
J. R. M. Garcia. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

=ESPERANÇA=

Esperança.
Palavra mágica. Expressão maravilhosa do espírito.
Quando tudo termina, quando a vida se aproxima do fim, o que cerca a pessoa se esgota, mas uma força indefinida,  vinda de onde ninguém sabe, eleva a alma em destino à luz.
Esperança.
Sonho? Ilusão? Fantasia? Loucura?
Difícil dizer sobre isso.
Mas sem essa ilusão, sem esta fantasia, sem este querer quase inatingível,  a vida termina neste planeta. Acaba.
Esperança.
Tudo e nada. Começo e fim.
Sem ela, porém, nada compensa.
A esperança e a fé caminham juntas.
Um raio de luz, talvez vindo de um Deus qualquer, traz esta força indizível ao Destino.
Esperança.
Em toda forma de vida ela existe. Sem ela a matéria é bruta.
Esperança.
Esperança.
Esperança.

J.R.M.Garcia.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

=O LOBO E A OVELHA =(FÁBULA DE ESOPO)

Isso acontece milhares de vezes ao longo de nossa vida. Uma fabula tão comum que Esopo a redigiu na  Grécia antiga há 700 ano antes de Cristo. O ser humano, em suas entranhas, mudou quase nada.
Vejam.

LOBO   e   OVELHA
Uma ovelha estava bebendo água no rio quando o lobo apareceu. De dentes à mostra ele pôs-se a berrar:
- Sua ovelha porcalhona, vou devorá-la por sujar a água que estou bebendo.
- Como posso sujar sua água se estou mais abaixo que o senhor?
- OK - disse o lobo, tratando de achar outra justificativa - então vou devorá-la porque soube que no ano passado você me xingou.
- Como posso tê-lo xingado se no ano passado eu nem tinha nascido? Tenho apenas seis meses.
- Se não foi você, foi seu irmão.
- Como pode ser meu irmão se sou filha única?
O lobo impaciente, vendo que a conversa já ia longe demais pro seu gosto, berrou furioso:
- Se não foi você, foi seu pai, ou sua mãe, ou seu avô, ou alguém da sua família.
E, "NHAC", devorou a ovelha num bocado.
.
MORAL DA HISTÓRIA. Quando as intenções não são boas, não há argumentos convincentes.

Texto transcrito de Nicéas Romeo Zanchett


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

=MINHA PRIMEIRA AUDIÊNCIA=

JUSTIÇA

        Sou ou fui advogado, vocês sabem. 
        Minha primeira audiência foi um tanto -digamos-  singular.
Era ainda solicitador acadêmico. Os estudantes podiam, à época, exercer estas funções. Prestava serviços gratuitos no escritório de um dos mais dignos advogados que conheci, Professor Rubem Cione.       
         Nunca entrara em uma sala de audiências.
     Uma manhã ele me disse: “À tarde venha de paletó e gravata. Você vai acompanhar-me em uma audiência.”
      Lá fomos nós. A primeira vara, onde seria a audiência, ficava no primeiro andar.
       “Vá para a sala de audiência e espere-me lá.” Falou-me.
       Foi o quê fiz.
     Entrei, a sala estava vazia, pois era nossa a primeira audiência. Fiquei sentado aguardando.
Decorrido alguns minutos entrou uma pessoa, o qual  imaginei ser o escrivão. Mandou que sentasse ao seu lado à mesa. Sentei. Ele indagou-me:
       --Seu nome?
       Respondi. Ele datilografou. 
       --Data de nascimento?
       Respondi. Ele datilografou.
       --Número da identidade?
       Respondi. Ele datilografou.
      Ele continuou a datilografar e, tendo terminado, ficamos ali por alguns instantes em silêncio.
      Logo entrou uma pessoa circunspecta que, sentando-se à cabeceira da mesa, em posição mais elevada, tomou nas mãos o processo e leu-o em silêncio rapidamente.
       Em seguida dirigiu-se a mim:
       --O senhor sabe por que está sendo processado?
       Respondi. Ele datilografou. 
       --Data de nascimento?
       Respondi. Ele datilografou.
       --Número da identidade?
       Respondi. Ele datilografou.
      Ele continuou a datilografar e, tendo terminado, ficamos ali por alguns instantes em silêncio.
      Logo entrou uma pessoa circunspecta que, sentando-se à cabeceira da mesa, em posição mais elevada, tomou nas mãos o processo e leu-o em silêncio rapidamente.
       Em seguida dirigiu-se a mim:
       --O senhor sabe por que está sendo processado?

ASSUSTADÍSSIMO

         Fiquei entre um misto de curioso e muito assustado, pois eu não sabia que estava sendo processado.
          Respondi: “Não sei não senhor”.
       Ele abaixou a cabeça, franziu o cenho e, sisudo, olhou para o escrivão, que também estava surpreso, indagando-me:
       --No dia 20 de Novembro de 1964, o senhor não brigou com seu cunhado na Vila Tibério, por volta das...
      Comecei a gaguejar alguma coisa quando, neste momento, Professor Rubem Cione  -que se atrasara- adentrou à sala e desfez todo o equívoco.
       O que se dera é que o escrivão, desejando adiantar o termo de audiência, vendo-me na sala, qualificou-me. O Juiz, tomando dos autos, não tendo acompanhado a qualificação deu-me como réu.  E eu, em santa ingenuidade, supusera que o escrivão qualificara-me como participante do ato como solicitador.
          Não me lembro mais quem era Juiz , mas lembro-me bem que ele desculpou-se comigo. Naquele tempo os juízes ainda desculpavam-se. Hoje, -é uma pena!-, apenas alguns ainda desculpam-se.

GARGALHADA  GERAL 

         No fim todos nós estávamos rindo a pregas soltas.
       Bem! Esta foi minha primeira audiência. Mas certamente milhares de outras vieram por este "brasilsão" de Deus.
       Abraços.
       J. R. M. Garcia.

P.S. Do livro de minha autoria “CONFISSÕES DE UM ADVOGADO”.