Não é de hoje. É de muito tempo. Nasci com um biorritmo
diferenciado da maioria das demais pessoas. A noite, para mim, eleva o
espírito. Leva-me a sonhar sonhos impossíveis, meros vôos de fantasias assim tão
tolas que, às vezes, até sorrio de mim mesmo. Imagino-me, em uma noite escura
como esta, voando acima da velocidade do som, pilotando um avião de guerra e
fazendo curvas maravilhosas com muita adrenalina, ouvindo em alto som as Quatro
Estações de Vivaldi.
Aqui tenho, no prédio, em meu andar, uma
espécie de torre que uso como "fumódromo". De lá vejo parte da cidade
e ali, entre um cigarro e outro, vou vendo regiões distantes até onde a cidade
termina no campo cercado por canaviais e, às vezes, vejo cá de longe, a
colheita que se efetua a noite nas máquinas, colhendo e levando-a a caminhões.
Passeio em meus pensamentos o passado em
viagens como esta sob chuvas pesadas, locais distantes deste país e, de
repente, imagino o pensamento de filósofos com suas teorias complexas dentro de
paradigmas de difícil compreensão.
Enfim, solto minha alma em liberdade sem pauta
de pensamentos. A noite esconde o rumor distante da cidade e o silêncio cai de
forma pesada nestas horas.
É estranho, mas experimento um prazer imotivado
com alegrias simples, mas que preenchem minha alma. Sem hora para dispor de
nada, volto para dentro de mim mesmo questionando, contemplando, propondo entre
tolices e idéias sérias, sem finalidades maiores. Ao longe, às vezes, ouço o grito alto de uma singrando o silêncio rumo ao nada. Apenas o gosto que se
sente da velocidade.
Um instante. Apenas um instante meu. Se
tirá-lo de mim, certamente sofro.
Esta noite e minha ?
J.R.M.Garcia.