segunda-feira, 9 de setembro de 2013

=MINHA PRIMEIRA AUDIÊNCIA=

JUSTIÇA

        Sou ou fui advogado, vocês sabem. 
        Minha primeira audiência foi um tanto -digamos-  singular.
Era ainda solicitador acadêmico. Os estudantes podiam, à época, exercer estas funções. Prestava serviços gratuitos no escritório de um dos mais dignos advogados que conheci, Professor Rubem Cione.       
         Nunca entrara em uma sala de audiências.
     Uma manhã ele me disse: “À tarde venha de paletó e gravata. Você vai acompanhar-me em uma audiência.”
      Lá fomos nós. A primeira vara, onde seria a audiência, ficava no primeiro andar.
       “Vá para a sala de audiência e espere-me lá.” Falou-me.
       Foi o quê fiz.
     Entrei, a sala estava vazia, pois era nossa a primeira audiência. Fiquei sentado aguardando.
Decorrido alguns minutos entrou uma pessoa, o qual  imaginei ser o escrivão. Mandou que sentasse ao seu lado à mesa. Sentei. Ele indagou-me:
       --Seu nome?
       Respondi. Ele datilografou. 
       --Data de nascimento?
       Respondi. Ele datilografou.
       --Número da identidade?
       Respondi. Ele datilografou.
      Ele continuou a datilografar e, tendo terminado, ficamos ali por alguns instantes em silêncio.
      Logo entrou uma pessoa circunspecta que, sentando-se à cabeceira da mesa, em posição mais elevada, tomou nas mãos o processo e leu-o em silêncio rapidamente.
       Em seguida dirigiu-se a mim:
       --O senhor sabe por que está sendo processado?
       Respondi. Ele datilografou. 
       --Data de nascimento?
       Respondi. Ele datilografou.
       --Número da identidade?
       Respondi. Ele datilografou.
      Ele continuou a datilografar e, tendo terminado, ficamos ali por alguns instantes em silêncio.
      Logo entrou uma pessoa circunspecta que, sentando-se à cabeceira da mesa, em posição mais elevada, tomou nas mãos o processo e leu-o em silêncio rapidamente.
       Em seguida dirigiu-se a mim:
       --O senhor sabe por que está sendo processado?

ASSUSTADÍSSIMO

         Fiquei entre um misto de curioso e muito assustado, pois eu não sabia que estava sendo processado.
          Respondi: “Não sei não senhor”.
       Ele abaixou a cabeça, franziu o cenho e, sisudo, olhou para o escrivão, que também estava surpreso, indagando-me:
       --No dia 20 de Novembro de 1964, o senhor não brigou com seu cunhado na Vila Tibério, por volta das...
      Comecei a gaguejar alguma coisa quando, neste momento, Professor Rubem Cione  -que se atrasara- adentrou à sala e desfez todo o equívoco.
       O que se dera é que o escrivão, desejando adiantar o termo de audiência, vendo-me na sala, qualificou-me. O Juiz, tomando dos autos, não tendo acompanhado a qualificação deu-me como réu.  E eu, em santa ingenuidade, supusera que o escrivão qualificara-me como participante do ato como solicitador.
          Não me lembro mais quem era Juiz , mas lembro-me bem que ele desculpou-se comigo. Naquele tempo os juízes ainda desculpavam-se. Hoje, -é uma pena!-, apenas alguns ainda desculpam-se.

GARGALHADA  GERAL 

         No fim todos nós estávamos rindo a pregas soltas.
       Bem! Esta foi minha primeira audiência. Mas certamente milhares de outras vieram por este "brasilsão" de Deus.
       Abraços.
       J. R. M. Garcia.

P.S. Do livro de minha autoria “CONFISSÕES DE UM ADVOGADO”.