Há muito tempo.
Eram onze horas da manhã. Um sábado como hoje.
Em um bairro afastado eu procurava não sei se um pedreiro,
pintor ou encanador. Parava aqui, ali, procurava uma rua, outra, entrava em uma
viela e voltava.
Nada de achar. Praticamente o endereço não era correto.
Em um boteco de esquina, onde tinha à frente um terreno vago,
resolvi parar o carro e informar-me melhor.
Ditei o endereço e o dono nada sabia. Perguntei aos demais
fregueses e ninguém conhecia nem o nome do cidadão e nem a rua.
Já ia saindo quando vi, em um terreno baldio ao lado do bar, um
macaquinho de pequeno porte dependurado em um único poste fincado. O sol era
escaldante. Ao lado do local estavam tomadores de cerveja vendo o infeliz macaco, já com a coleira tendo arrancado seus
pelos do pescoço, pulando na corrente para cima e para baixo. Apenas uma bacia
de água suja, morna ao sol, ao lado do poste.
Parei. Olhei para o infeliz animal e para os tomadores de
cerveja. Eles olharam-me inquisidoramente.
Vi que o pobre coitado do macaco se mordia todo. Mordia a si
mesmo de raiva, desespero ou sei lá o quê. Talvez, se tivesse meios,
suicidaria.
Dirigi-me, por cautela, ao dono do bar. Acompanharam-me os
olhares dos cervejeiros. Expressei que aquilo não era certo. Propus comprar o
triste animal. Ele pediu-me um preço proibitivo.
Sai em silêncio, fui até a Delegacia próxima. Lá me disseram que
não tinham ordens para este tipo de diligência para apreensão de animais.
Aquela época não exista nem IBAMA, nem legislação própria que cuidasse dos
animais.
Fui para o Bosque Municipal. Lá me informaram onde morava o presidente da Associação Amiga dos Animais.
Era o que existia então. Fui procurá-lo. Encontrei um velhinho que teria mais
ou menos a idade que tenho hoje. Expliquei-lhe o fato e fomos para o distante
bairro onde os fatos aconteciam.
Chegamos. O velhinho era
realmente incisivo, enérgico. Interpelou o dono do bar, arrumou uma discussão
tremenda com os frequentadores e saímos em silêncio. Fomos a tal Delegaria. Lá
o respeitável velhinho só não ameaçou o Delegado porque ele estava ausente. No
fim dois guardas resolveram acompanhá-lo para não piorar a confusão. Ele foi no carro de polícia e eu
acompanhando.
Lá chegando, sem perguntar nada a ninguém, o frágil distinto
velhinho com um saco de linhagem colocou dentro o pequeno macaquinho. Entrou
comigo no carro e fomos embora rapidinho debaixo dos protestos, desaforos,
ameaças e xingamento dos bêbados. Somente os dois policiais impediram que
fossemos surrados.
Já eram mais de dezoito horas da tarde quando soltamos no Bosque
Municipal, o agora muito feliz macaquinho.
Deixei aquele senhor, vestido de anjo, na casa dele, agradeci e
fui para minha casa levar bronca da esposa, porque saíra com uma finalidade as
dez horas da manhã e nada fiz. Afinal vadiara a tarde toda.
Ótimo fim de semana amigas(os)
Abraços.
J. R. M. Garcia.