Ernest Hemingway
Interpelado respondi.
Hemingway nada narra de idéias, pensamentos
filosóficos e ou interpretações sutis do espírito. Escreveu para o mundo. Conta
somente suas homéricas farras com Ava Gardner e outras, peripécias com
escritores, touradas na Espanha, caçadas pelo mundo, safáris, pescarias
luxuosas, festas, bebedeiras, brigas e mais cachaçadas.
E eu ?
Que tenho a narrar?
Nada.
Tabalheira com os filhos,
escolas, levando estes para divertirem-se em pescarias de córregos sujos,
parquezinhos, circos, fazendo brinquedozinhos para eles, festinhas infantis,
criações de coelhos no quintal, reuniões escolares etc. etc. E mais etc.etc.
Enquanto Hemingway, literalmente amarrava seu filho Bumbu ao pé da mesa e ia beber
pelas ruas de Paris. Eu, (coitado de mim!), passava noites fazendo inalação nos
meus. Se assim ele não fazia, viajava pelo mundo e escrevia disso.
É de se rir. Uma vida ao
seu gosto, praticando o que mais amava.
E eu?
No mais muito trabalho.
Muito esforço físico, muitas noites sem dormir, redigindo petições
quilométricas nas máquinas de escrever antigas. Lutando neste calor tropical do
Brasil, de terno, nas malhas do Direito inglório nos fóruns da pátria amada. Na
solidão da roça, idealizando o impossível, com o barro, o vento e a
chuva.
Até hoje tenho de memória (
e esta é péssima!) nome de remédios que comprava na farmácia para o uso das
crianças. Os meus contraindo doenças nas ruas de terra e jogando “bete” sob a
chuva. E Bumbu, de Hemingway , amarrado ao pé da mesa em Paris.
Verdade.
Ele é realmente o Nobel de
literatura. Foi para ela que ele viveu.
Eu ?
Tenho meu pagamento nos
filhos, na amada nora e genro.
Verdade. Verdade sim.
J. R. M. Garcia.