“Quem
vem lá?”
O
grito ecoou no silêncio da madrugada.
Nenhuma
resposta.
Era
noite. Sem lua. No trilho fundo a mula ameaçava empacar.
Do
alto, com o casarão lá em baixo e a “curralama” vazia, ele pouco divisava nas
sombras.
O
casarão abandonado tinha fama de mal assombrado.
Esporeou a mula outra vez.
Agora
a coisa estava mesmo difícil e surreal.
A
cavalgadura empacava. Como o trilho era fundo, ele não conseguia fazer com que
a montaria voltasse de fasto e, ir para diante, ela ameaçava jogá-lo ao chão.
“Por
quê diacho, aquele vulto montado sobre o trilho fundo, nem respondia aos gritos
e, tão pouco, saia do caminho? Que droga!”
Assim
o cavaleiro pensava.
Deu
outro e mais outros gritos.
“Quem
vem lá!”
Nada.
Seu
revólver tinha nome. Chamava-se “nagão”. Ele apalpou-o sob a capa.
Pensou:
“Se
atiro aqui, esta maldita besta vai derrubar-me e deixar-me no chão. Ficará
pior.”
Era
como se o mundo houvesse parado naquele instante.
Nem
o vulto saía de sua posição de espera sobre o caminho fundo e, nem ele, fazia
com que sua miserável cavalgadura caminhasse para frente.
A
decisão tinha de ser imediata.
Pulou
por cima da cabeceira do arreio no barranco, e abriu fogo a tiros rumo ao
vulto.
O
berro foi enorme.
“Vai
me mataaaa...fi...da puuutaaaa.....”
O vulto
também, com as mesmas apreensões, saiu correndo pelo cerrado sem fim, com
destino ao nada e gritando.
Era
na verdade outro cavaleiro que vinha em sentido contrário, o qual ali se
encontrava com igual medo, horrorizado, vivendo a mesma quase tragédia.
Aconteceu
com um tio avô, lá nos sertões de Minas, no início do século passado.
Tenham
todos excelente semana.
J.
R. M. Garcia.