segunda-feira, 14 de outubro de 2013

= QUEM VEM LÁ !=



“Quem vem lá?”
O grito ecoou no silêncio da madrugada.
Nenhuma resposta.
Era noite. Sem lua. No trilho fundo a mula ameaçava empacar.
Do alto, com o casarão lá em baixo e a “curralama” vazia, ele pouco divisava nas sombras.
O casarão abandonado tinha fama de mal assombrado.
Esporeou a mula outra vez.
Agora a coisa estava mesmo difícil e surreal.
A cavalgadura empacava. Como o trilho era fundo, ele não conseguia fazer com que a montaria voltasse de fasto e, ir para diante, ela ameaçava jogá-lo ao chão.
“Por quê diacho, aquele vulto montado sobre o trilho fundo, nem respondia aos gritos e, tão pouco, saia do caminho? Que droga!”
Assim o cavaleiro pensava.
Deu outro e mais outros gritos.
“Quem vem lá!”

Nada.


Seu revólver tinha nome. Chamava-se “nagão”. Ele apalpou-o sob a capa.
Pensou:
“Se atiro aqui, esta maldita besta vai derrubar-me e deixar-me no chão. Ficará pior.”
Era como se o mundo houvesse parado naquele instante.
Nem o vulto saía de sua posição de espera sobre o caminho fundo e, nem ele, fazia com que sua miserável cavalgadura caminhasse para frente.
A decisão tinha de ser imediata.
Pulou por cima da cabeceira do arreio no barranco, e abriu fogo a tiros rumo ao vulto.
O berro foi enorme.
“Vai me mataaaa...fi...da puuutaaaa.....”
O vulto também, com as mesmas apreensões, saiu correndo pelo cerrado sem fim, com destino ao nada e gritando.
Era na verdade outro cavaleiro que vinha em sentido contrário, o qual ali se encontrava com igual medo, horrorizado, vivendo a mesma quase tragédia.
Aconteceu com um tio avô, lá nos sertões de Minas, no início do século passado.
Tenham todos excelente semana.
J. R. M. Garcia.