domingo, 27 de outubro de 2013

= VERDADE. VERDADE SIM. =

Ernest Hemingway

Interpelado respondi.

     Hemingway nada narra de idéias, pensamentos filosóficos e ou interpretações sutis do espírito. Escreveu para o mundo. Conta somente suas homéricas farras com Ava Gardner e outras, peripécias com escritores, touradas na Espanha, caçadas pelo mundo, safáris, pescarias luxuosas, festas, bebedeiras, brigas e mais cachaçadas.
       E eu ?
       Que tenho a narrar?
       Nada.
   Tabalheira com os filhos, escolas, levando estes para divertirem-se em pescarias de córregos sujos, parquezinhos, circos, fazendo brinquedozinhos para eles, festinhas infantis, criações de coelhos no quintal, reuniões escolares etc. etc. E mais etc.etc.
       Enquanto Hemingway, literalmente amarrava seu filho Bumbu ao pé da mesa e ia beber pelas ruas de Paris. Eu, (coitado de mim!), passava noites fazendo inalação nos meus. Se assim ele não fazia, viajava pelo mundo e escrevia disso.
     É de se rir. Uma vida ao seu gosto, praticando o que mais amava. 
     E eu?
    No mais muito trabalho. Muito esforço físico, muitas noites sem dormir, redigindo petições quilométricas nas máquinas de escrever antigas. Lutando neste calor tropical do Brasil, de terno, nas malhas do Direito inglório nos fóruns da pátria amada. Na solidão da roça, idealizando o impossível, com o barro, o vento e a chuva.  
   Até hoje tenho de memória ( e esta é péssima!) nome de remédios que comprava na farmácia para o uso das crianças. Os meus contraindo doenças nas ruas de terra e jogando “bete” sob a chuva. E Bumbu, de Hemingway , amarrado ao pé da mesa em Paris.
       Verdade.
     Ele é realmente o Nobel de literatura. Foi para ela que ele viveu.
      Eu ?
    Tenho meu pagamento nos filhos, na amada nora e genro. 
       Verdade. Verdade sim.
       J. R. M. Garcia.