COBRA JARACUÇU NADANDO
Quando eu tinha oito ou nove anos, à
margem do calabouço de uma roda d’água que girava as roldanas de uma serraria,
uma cobra veio rápida sobre a água na minha direção. Era, ainda que criado na
roça, a primeira vez que deparei com semelhante cena. Horrível ! Fiquei mudo, branco
e encontraram-me lá estático, próximo ao desmaio, quando me acudiram.
Depois, muito depois, próximo a
cidade de Passos, em outra fazenda, semelhante trauma voltou a assombrar-me.
Minha filha Agnes, ao entardecer, no
lusco fusco do findar do dia, entrou em um riacho para atravessarmos, ela e eu
a pé, o poço raso e largo naquele local.
Ela poderia ter, quando muito, onze
anos.
Eu ia à frente, escolhendo o caminho
com os pés descalços, sob a água.
Ao olhar a correnteza descendente,
sobre a água, veio deslizando uma cobra negra de aproximadamente uns quatro
metros.
Gritei para a filha desesperado. Foi
um urro louco, primitivo como se um neandertal berrasse para sua cria em rota
de morte.
Aos saltos ela saiu da água e eu fiquei
a mercê da incrível peçonha que, agora, rumava na minha direção.
Três metros, dois, um e eu a esperar
seu bote frio. Com um par de botas em uma das mãos, esperava evitar as fauces
de sua bocarra.
Fiquei tonto, sem ar, rígido em mim
mesmo com a descarga de adrenalina.
Era um cipó que vinha, tal qual uma
cobra, deslizando na correnteza em nossa direção. À luz pálida da escuridão, víramos
ambos o corpo deslizante da surpreendentemente comprida terrível serpente.
Sem nenhum heroísmo ia morrer ali.
E, foi assim.
J. R. M. Garcia.