Dormi.
Quando acordei estava em um deserto imenso. Somente
areia por todos os lados a perder de vista. Tão estranho era este deserto, que
nem sombra de mim mesmo existia.
Um pouco à frente uma moça com vestes brancas olhava
o areal.
Estranho aquilo tudo.
Por quê estava ali?
Estava
consciente, sóbrio, mas nada sentia seja do vento, do calor. Nada.
Se aproximava da moça à frente, ela
se afastava também.
Logo, eu estava absolutamente só.
Morto eu não estava, pois a moça
estava ali.
Ocorreu-me
estas perguntas.
“Isto é solidão, estar consigo mesmo?
Solidão só quando o si mesmo é um deserto?
Devo fazer do deserto um jardim?
Devo povoar um país deserto?
Devo abrir o jardim encantado do deserto?”
Carl Jung.
Pensei:
“Ah ! Entendi...”
Estava na companhia de minha alma.Tenho
tido, de algum tempo para cá, a impressão de que poucos de nós temos a
oportunidade e sobre tudo a coragem e, talvez, mais: a loucura de estarmos com
nossa própria alma.
E, à medida que avanço no pouquinho que consigo,
assusto-me.
Tenho
às vezes a amarga ciência de que, ao adiantar tenho de recuar, uma vez que
parece tal qual um vasilhame, onde a utilidade está exatamente no espaço vazio
em seu interior.
Talvez
a alma seja útil porque ela é exatamente isso, um vácuo também. É,
possivelmente, na areia do deserto onde a vida é gravada em letras cuja cor
somente Deus saiba.
Mas
não estou certo disso.
Enfim,
acordei do sonho. Não estava morto, ainda.
Tenham
uma ótima semana!
J.
R. M. Garcia.