Pontifica Machado de Assis, que “há um
meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor ! Que
desenfreado calor !”
E acrescenta mais: “Que ao dizer isso
agita-se as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a
sobrecasaca”.
Neste dia, 1º de Novembro de 1877, o
renomado escritor pátrio redigia a crônica e estava “bufando como um touro”,
sufocado pelo calor de sabe-se lá quantos graus.
O detalhe notável aqui, é que há mais
de dois séculos, o insuspeito escritor nomina como “trivialidade” o esmagador
calorão do Rio de Janeiro.
Mais de duzentos anos se passaram e
nada aconteceu de insuportável com o planeta.
Não imagino que Machado de Assis
tratasse como mera vulgaridade o mormaço quase insuportável do Rio, quando ele mesmo
“sacudia a sobrecasaca”.
E diz mais: “Que calor ! Que sol ! É de
rachar passarinho ! É de fazer uma criatura doida !”
Por quê agora colocamo-nos em
desespero, quando a marca do termômetro vai além de alguns graus?
E assim, em desespero, falamos no fim do
mundo, em redução da calota polar, em aumento das águas do oceano invadindo a
terra e vislumbramos todo um cenário apocalíptico.
O fenômeno midiático cria sim um clima
além da marca sensacionalista do barômetro e de outras medidas.
Mas na dúvida, amigo leitor, liguemos o ar
condicionado, pois é o que recomenda a TV.
Abraços minhas queridas e queridos.
J. R. M. Garcia.