sábado, 1 de fevereiro de 2014

= UM VELHO, O CÃO E A ONÇA =


Perto da sede, em um córrego que passava ali no fundo, haviam alguns homens roçando um pasto.
Quando o dono da fazenda chegou nesta manhã, foi informado de que estes dois roçadores de pastos estavam trabalhando mais para cima, na nascente deste córrego.
Passado alguns minutos, aproximando pela estrada, surgem com as foices às costa os dois peões que teriam de estar roçando o pasto na cabeceira do dito córrego.
O patrão os viu, aguardou que chegassem e logo interpelou:
--Por quê não estão na roçada?
      Resposta pronta de um mais expedito.
--Vô lá não patrão...Lá tem onça...Vi ela rosnar no eito petico d’gente. Lá só de espingarda.
      O dono tinha temperamento forte e respondeu.
--Com preguiça até onça a gente vê. Oncinha como esta eu mato a foice.
      E de imediato, nervoso, pegou uma foice de cabo curto, que estava com um dos homens e, a passos largos, rumou para o local. Um cachorro policial acompanhou.
      E foi.
      Brincando com o cachorro:
--Vamos lá Leão...Vamos demonstrar as estes homenzinhos que eles são preguiçosos, medrosos...
      E foi.
     Mais meia hora e o cão começou a latir raivosamente e foi aquela correria. A onça, o cão e o homem atrás com a foice. Uma fila ensandecida que corria em direção ao mato fechado. Dez, quinze minutos se tanto e os latidos do cão eram continuados, como se tivesse encantoado a onça.
O homem, já com seus 60 anos, atravessou uma grota funda e, ao subir do outro lado topa, cara a cara, com a onça. Titubeia um segundo. Já o cão estava acossando-a, firme em sua posição. O cão sangrava muito, pois em um tapa ela arrancara-lhe a orelha. O velho cobre-se de fúria. E ela então pôs-se a sofrer o ataque do cão ferido e do velho a sua frente, com a foice de cabo curto. Errou a primeiro golpe de foice e o cão ganiu ferido com outra patada. A onça voltou-se na direção do velho e ele afastou dois passos. Novamente o cão, já ferido, ataca novamente e eis que, tendo a onça momentaneamente distraído, o velho acertou-lhe um golpe. Um único golpe, mas mortal, porquanto no pescoço.
O velho caiu sentado e o cão, deitado sobre as patas da frente gania, chorava, uivava. Não se sabe se de alegria, tristeza ou descarga de pura adrenalina.
O homem, agora exausto, voltou devagar, cansado, com passadas lentas para a fazenda, comunicando aos peões que fossem buscar o cão, que não deixara a presa sem vigília e a onça morta.
Hoje o córrego chama Ribeirão da Onça.
Este fato foi muito comentado na cidade próxima e dele fizeram crônicas.  
Sei bem desta história, porque o velho era meu pai.
Um ótimo fim de semana a todas(os).

J. R. M. Garcia.