sábado, 29 de março de 2014

= CONFISSÃO =


Alguém que já existiu em mim, morreu.
Fui e não sou. Épocas houveram, as quais distanciam-se no tempo como sombras de um passado cada dia mais remoto.
Bom ou ruim não sei.
Na verdade, o fato real é que no afastamento deste espectro percebe-se  -sem de fato ter certeza-  que fui o quê não sou, ou que, não sendo, procuro o quê sempre fui.
Teria sido apenas uma imagem do que desejei ser?
Apenas uma vontade?
Uma espécie de ilusão que sonhei?
Fui uma mascara que nestes dias começo a abandonar.
Ou sempre fui de fato o que sou?
Por que, humildemente, partilho este fato com vocês?
Porque imagino que todos aqueles que realmente encontram de fato sua alma  - na verdade as vezes em provecta idade -   distanciam-se de si mesmo, encontrando algo  que é bastante diferente do que na verdade se é ou foi.
Creio que uma pessoa que não tem no espírito a evolução no decurso do tempo, passando por transformações anímicas, vendo e encarando fatos antigos como novos, tratando em sua alma estes enfoques que emocionalmente antes não conseguia sentir, é pouco menos que um ser insensível e pouco disposto a mutação. É como se sua alma estivesse parada no tempo.
Não sinto idênticas emoções nas mesmas manifestações artísticas, na lógica dos raciocínios exatos, nos parâmetros de proposições políticas e sociais, no encarar os paradigmas éticos e, tão pouco, dos ideais que antes cultivei, dos sonhos que outrora vi como possíveis, cabíveis e desejados.
Para um Blog não se recomenda textos longos.
Tenham um domingo abençoado.
Abraços.

J. R. M. Garcia.  

quinta-feira, 27 de março de 2014

= DECEPÇÃO =


Uma vez eu era um menino. Tinha ali por volta de cinco anos. Em um monte de cascalho achei uma pedra verde. Para mim ela era linda. Pensei em presenteá-la a uma pessoa muito querida. Esperei com ansiedade que esta pessoa viesse a hora do jantar. Com as mãos no bolso, com os dedinhos de criança acariciava a linda pedrinha verde; lizinha. Presenteei esta pessoa. Qual não foi minha tristeza ao ver em suas faces a decepção e enfaro.  Depois encontrei a mesma pedrinha jogada ao acaso em um canto do pequeno jardim.
De outra feita, no primeiro emprego que exerci por volta dos dez anos, com O primeiro salário que ganhei, comprei um broche de falsas pedras azuis para minha mãe. Mais tarde, tendo ela guardado o mimo, vi que o broche se enferrujara e não valia nada. Latão tosco e sem valor algum. E fiquei com vergonha dela ter guardado aquilo.  
Duas decepções horríveis, penso eu.
Dois presente idiotas, aleijados, inexpressivos e deprimentes.
Hoje tenho horror ao receber presentes e não sei nem o por quê. E dá-los, também, deixa-me terrivelmente acanhado.
E assim, pela vida -não a minha, mas de todos nós- vão se somando alegrias e tristezas, dúvidas e certezas, ilusões e fantasias, amor e ódio, quereres que não entendemos, ambigüidades que sombreiam momentos iluminados, épocas em que   imaginamos que tudo é muito bom, quando na verdade nada de bom existe.
Tenham um ótimo fim de semana. As sexta já está chegando. 
Abraços.

J. R. M.  Garcia. 

quarta-feira, 26 de março de 2014

= VIVA A PREGUIÇA =


Meu sobrinho é advogado. Ele é trabalhador. Roda as comarcas destes brasis  levando varadas e jogando pedras em todas estas infelizes comarcas. Agora, em sã consciência, escandalizado, interpelou-me –advogado sempre interpela-  com a última crônica, reivindicando que esclarecesse "esta coisa" de louvar a preguiça.
Pois aceito a interpelação de meu querido e mui amado Sobrinho.
Repito.
Amo a preguiça em todos seus matizes.
Não consigo mentir em assuntos tão sérios.
Por quê louvo-a?
Realmente nunca vi, seja em que sentido for, uma idéia nova surgir na mente de um trabalhador inveterado.
Na Grécia, na Roma antiga e mesmo no Egito ou na Mesopotâmia, os filósofos e fundadores de grandes religiões e civilizações nunca trabalhavam. Quando muito meditavam em regime especial, mas sempre sossegados, sem a balburdia da sociedade que os rodeavam. Eram, muitas vezes, tratados a pão e mel.
Os criadores dos códigos, das leis, dos paradigmas que norteiam a Humanidade, são resultados de pessoas que se afastaram do labor cotidiano e colocaram-se a olhar para o alto e meditarem.
Aliás, há uma corrente antropológica, a qual afirma que o ser humano apenas galgou a evolução científica, quando foi capaz de manter uma classe pensante capaz de organizar seus rumos.
Sou, pois, contra o labor diário e imagino mais louvável a meditação preguiçosa, descompromissada, onde nasce a arte em todas suas manifestações, a física, as religiões etc.
Estou com os monges budistas gordões, gemendo seus mantras infindáveis à sombra de frondosas árvores centenárias.
Mas o assunto é muito extenso para a curta crônica de um Blog.
      Tenham um fim de semana abençoado. Já, já ele virá aí com as folgas de estilo. 
      Abraços.
      J. R. M. Garcia.  




segunda-feira, 24 de março de 2014

= LOUVADO SEJA A PREGUIÇA =

FELIZ  IMAGEM MEU  IRMÃO

Francamente. Minha preguiça é muito maior que a sua. Escrevo aqui mergulhado sob um fardo de duas toneladas. Se isso serve-lhe de consolo, eu lhe digo mais. Ninguém tem mais preguiça no mundo que eu.
De vez em quando tenho um ataque de ânimo. Você nem imagina o esforço que faço para ficar quietinho e deixar fluir ao largo da vida esta vontade. Respiro até mais lentamente. As vezes, seduzido pela possível imersão da vida em um manto de silêncio e sono eterno, até desejo uma boa morte.
A vida é muito complicada e nela já cometi uma quantidade inumerável de erros. Continuar a cometê-los seria aumentar a lista de inconveniências para mim e para todos os demais errantes e bobos como eu mesmo.
Diga-me, meu amigo, como vocês lidam com esta tão adorável preguiça?
Vou parando por aqui. Qualquer dia tecerei aqui um rasgo de elogios a esta qualidade infinita da alma. Tanto é uma virtude -penso eu-  que até hoje cultivam-na em grande quantidade.
Vou esperar que a sexta-feira surja daqui mais alguns dias para, sem remorsos, aconselharem todos vocês a irem dormir.
Uma ótima semana sem muitos trabalhos (palavra maldita)
Abraços.
J. R. M. Garcia.    

terça-feira, 18 de março de 2014

= PRÍNCIPE POBRE =

CHALAÇA E O PRÍNCIPE

O dia estava escuro, frio, úmido sob a luz difusa de uma aurora que demorava a surgir. Contornando as águas escuras dos manguezais de Cubatão, a comitiva já trotava no lusco fusco rumo a serra, em direção a São Paulo. Muito agitado estava o espírito de todos. Eram jovens com menos de 30 anos. Padre Belchior; Saldanha da Gama, 21 anos, Secretário Itinerante; Gomes da Silva; também chamado “Chalaça”;  Luís Gama; João Carlota e João Carvalho. O chefe deles, apenas com 23 anos, vinha de Santos onde, no dia anterior, passara inspecionando as seis pequeninas guaritas daquele porto.
Com estes jovens seguia um rapaz epilético, com 23 anos, de saúde frágil, sofrendo momentaneamente de dores intestinais, alçado a condição de Príncipe Regente há menos de dois anos, sem qualquer experiência.  Exímio cavaleiro montava uma “mula baia gateada”, sem nenhum chame, para subir com alguma segurança os íngremes, esburacados e enlameados caminhos da serra. Era como um tropeiro comum. Um Príncipe muito pobre, sem exército, sem nada senão a comitiva de jovens que seguia com ele. Tinha a embalar-lhe tão só o ânimo e sonhos peculiares da juventude, e mais as 180 curvas em zig-zag da trilha esburacada, debruçada sobre precipícios que conduzia a São Paulo.
Seria um dia agitado para todos. Era o dia 7 de Setembro de 1822 e proclamariam a Independência política do Brasil.
Mas, para surpresa do mundo, com um país de escravos, negros forros, mulatos, indos e mestiços, gente paupérrima e muitos latifúndios, ele foi e, do Ipiranga, sem aparato algum, proclamou a independência do Brasil separado de Portugal.
Julguem-no como quiserem, mas para mim D.Pedro Iº foi herói.
Tenham ótimo fim de semana, pois sexta-feira já vem.
Abraços.
J. R. M. Garcia.      

domingo, 16 de março de 2014

= O SEU, O MEU DESTINO =


Aqui pensando, pensando, pensando...
O quê pode um sujeito, sem nenhum ânimo dominante, a não ser pensar?
Fico imaginando quantas vezes pensei e, na verdade, conduzi os fatos de mau a pior?
E, agora?
Uma coisa é bastante certa e disso eu sei.
Para que presentemente aqui eu esteja a tamborilar este teclado, em uma noite solitária de segunda feira, todos os zilhões de fatos, deste o começo deste universo, terão de ter acontecido com tal precisão que resulte, agora, neste meu estar neste minuto  analisando este fatos. Se um apenas destes fatos não acontecessem, tal e qual aconteceram, eu jamais estaria aqui. Talvez tivesse me tornado em uma barata, uma ameba ou até nem mesmo jamais eu tivesse existido.
Logo, um Destino existe. Previsível não é, mas que existe lá isso existe.
Assim e deste modo, mais não posso fazer senão cumprir aqui meu modesto Destino nas mãos do Criador.
Tenham uma semana de muita alegria, pois logo aí já vem a sexta feira.
Um abração a todas(os) vocês.    
      J. R. M. Garcia


terça-feira, 11 de março de 2014

= “AI DE TI, COPACABANA” =


Acordei agora. São quatro horas da manhã. Uma chuva imensa ameaça cair.
Não tenho café para tomar. Nem mesmo frio. Se vou fazer tenho receio de, incomodando, ser repreendido.  Mas contento com uma colher de xarope para sossegar a tosse.
Outro dia, comentando um livro de Morris West, “A EMINÊNCIA”, disse a minha irmã que era um livro profético, pois previra a eleição de um Papa argentino, jesuíta e com características deste atual, Bergóglio. Comentei que, talvez, profetas ainda existissem. Com surpresa para mim ela, entendida o assunto, disse-me que a Igreja Católica, tanto acredita em atuais previsões, que nos convida a orar pelos profetas do passado e pelos atuais que habitam entre nós.
Como sou católico fico preocupado com isso.
Há uma poesia épica muito famosa, escrita pelo não menos famoso Rubem Braga, que encanta a abertura de um de seus livros: “AI DE TI, COPACABANA”.
Rubem Braga, que amava o Rio de Janeiro e lá viveu, não é destas coisas, mas leiamos parte desta crônica.
“Ai de ti, Copacabana, porque eu fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.
Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e destes risadas, ébrias e vãs no seio da noite.
Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estas perdida e cega no meio de tuas iniqüidades e de tua malícia.
........
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Pinta-te qual mulher pública e coloca todas a tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas...
E o cronista continua verberando ameaças terríveis e horríveis.
Rubem sempre alegre, romântico, equilibrado, um solteirão notívago falar nestes termos?
E muito mais agora que os oceanos ameaçam sair de seu leito e, como águas aumentadas, avançam para os baixios!
Um abraço a todos vocês.
Tenham um excelente fim de semana.  
Fiquem com Deus.   



quinta-feira, 6 de março de 2014

= JUNTOS, O MAL E O BEM NÃO SE MISTURAM =


 Contaram-me assim. Nem sei se é verdade.
      Ele era um perfeccionista. Realizava seu “trabalho” obedecendo a um sistema que nunca falhara.  Não conhecia o mandante. Recebia as informações via correio ou fax com fotos, o dossiê completo da pessoa, as funções, locais onde frequentava e, enfim, o que necessário fosse para a execução. Na dúvida informaria mais. Era um anônimo hábil no que fazia e, aliás, não se permitia nunca conhecer alguém fosse lá quem fosse.  Conhecia defesa pessoal, uso de explosivos, atirava eximiamente, não carregava armas se não no exercício de seu “trabalho”.
   Era muito educado, atencioso, sem vícios. Um assassino profissional, o qual professava filosofia e conduta rígida sobre si mesmo. Não se permitia errar, pois acreditava que se assim fizesse morreria nas próprias artimanhas de seu serviço. Aparecia e desaparecia como se nunca tivesse existido pelas bandas onde exercia seu “trabalho”. O pagamento era-lhe feito via bancária sem origem do pagador. Sempre com intermediário, ele não existia para o mundo.
    Uma espécie de anjo da morte, se assim pode-se dizer.
      O mau assim praticado não lhe deixava remorsos na alma. A ninguém nunca amou e a ninguém conheceu que fosse digno disso.
      Certa feita ele estava em Bangkok, capital da Tailândia.
      Feriu-se de forma banal ao abrir uma lata de sopa. Foi a uma farmácia. Conheceu uma tailandesa muda. Ela curou-lhe o ferimento, ensinou-lhe os rudimentos da cozinha local e ele aprendeu a comunicar-se no código dos mudos. Conheceu o amor. Ficou fraco, ao que me contaram. Não conseguia mais executar seu trabalho sem sentir pena. Nunca mais conseguiu a frieza necessária para suas “tarefas”. Tentou deixar a “profissão”.  Seus “ex-amigos” não lhe permitiram.
   O mal e o bem parecem apartados por muralhas rígidas e intransponíveis.  
     Seu corpo apareceu morto próximo ao Central Park em Nova York.
      Tenham um fim de semana abençoado.
      Abraços.
      J. R. M. Garcia.  


      

terça-feira, 4 de março de 2014

= SACO CHEIO =


O Papa errou na pronuncia de uma palavra que, à primeira vista, parece ter dado o som de um palavrão. Não foi durante a missa, mas antes dela, em uma homília chamada Angelus Domini onde, no final, se faz a oração que leva este nome.
Daí a exploração do equívoco criar margem à versões na mídia, onde se diz que ele estava de “saco cheio” como se exclamasse a dita palavra.
Aliás, o homem Bergoglio deveria estar. Mas o Papa Francisco não está.
E isso me leva a considerações análogas aqui no Brasil.
Estamos de saco cheio de impostos em excesso, créditos baratos com juros altos, carros à prestação, tudo à prestação, trânsito abarrotado, transportes públicos indignos de humanos, energia elétrica sob ameaça de apagões, assaltos, assassinatos (50.000 por ano), subempregos, escolas precárias, ônibus queimados toda semana, estatísticas falsas, políticos ladrões, saúde pública zero, desnível social que ameaça nossa estabilidade, judiciário quase parando, burocracia imensa, Petrobras e Vale em processo de quebra, ameaça dos mensaleiros serem soltos etc. etc.
E mais: parece que não vemos saída em curto prazo.
Isso sim, amigo Berglóglio e Papa Francisco, é que é desespero a médio prazo.
Mas, o senhor, como nós, temos fé também.
Oremos todos juntos.
J. R. M. Garcia.