Contaram-me assim. Nem
sei se é verdade.
Ele era um
perfeccionista. Realizava seu “trabalho” obedecendo a um sistema que nunca
falhara. Não conhecia o mandante.
Recebia as informações via correio ou fax com fotos, o dossiê completo da
pessoa, as funções, locais onde frequentava e, enfim, o que necessário fosse para a execução. Na dúvida informaria mais. Era um anônimo hábil no que fazia
e, aliás, não se permitia nunca conhecer alguém fosse lá quem fosse. Conhecia defesa pessoal, uso de explosivos,
atirava eximiamente, não carregava armas se não no exercício de seu “trabalho”.
Era muito educado,
atencioso, sem vícios. Um assassino profissional, o qual professava filosofia e
conduta rígida sobre si mesmo. Não se permitia errar, pois acreditava que se
assim fizesse morreria nas próprias artimanhas de seu serviço. Aparecia e
desaparecia como se nunca tivesse existido pelas bandas onde exercia seu
“trabalho”. O pagamento era-lhe feito via bancária sem origem do pagador. Sempre
com intermediário, ele não existia para o mundo.
Uma espécie de anjo
da morte, se assim pode-se dizer.
O mau assim praticado
não lhe deixava remorsos na alma. A ninguém nunca amou e a ninguém conheceu que
fosse digno disso.
Feriu-se de forma banal ao abrir uma lata
de sopa. Foi a uma farmácia. Conheceu uma tailandesa muda. Ela curou-lhe o
ferimento, ensinou-lhe os rudimentos da cozinha local e ele aprendeu a
comunicar-se no código dos mudos. Conheceu o amor. Ficou fraco, ao que me
contaram. Não conseguia mais executar seu trabalho sem sentir pena. Nunca mais
conseguiu a frieza necessária para suas “tarefas”. Tentou deixar a
“profissão”. Seus “ex-amigos” não lhe
permitiram.
O mal e o bem parecem apartados por
muralhas rígidas e intransponíveis.
Seu corpo apareceu morto próximo ao Central Park em Nova
York.
Tenham um fim de
semana abençoado.
Abraços.
J. R. M. Garcia.