quinta-feira, 6 de março de 2014

= JUNTOS, O MAL E O BEM NÃO SE MISTURAM =


 Contaram-me assim. Nem sei se é verdade.
      Ele era um perfeccionista. Realizava seu “trabalho” obedecendo a um sistema que nunca falhara.  Não conhecia o mandante. Recebia as informações via correio ou fax com fotos, o dossiê completo da pessoa, as funções, locais onde frequentava e, enfim, o que necessário fosse para a execução. Na dúvida informaria mais. Era um anônimo hábil no que fazia e, aliás, não se permitia nunca conhecer alguém fosse lá quem fosse.  Conhecia defesa pessoal, uso de explosivos, atirava eximiamente, não carregava armas se não no exercício de seu “trabalho”.
   Era muito educado, atencioso, sem vícios. Um assassino profissional, o qual professava filosofia e conduta rígida sobre si mesmo. Não se permitia errar, pois acreditava que se assim fizesse morreria nas próprias artimanhas de seu serviço. Aparecia e desaparecia como se nunca tivesse existido pelas bandas onde exercia seu “trabalho”. O pagamento era-lhe feito via bancária sem origem do pagador. Sempre com intermediário, ele não existia para o mundo.
    Uma espécie de anjo da morte, se assim pode-se dizer.
      O mau assim praticado não lhe deixava remorsos na alma. A ninguém nunca amou e a ninguém conheceu que fosse digno disso.
      Certa feita ele estava em Bangkok, capital da Tailândia.
      Feriu-se de forma banal ao abrir uma lata de sopa. Foi a uma farmácia. Conheceu uma tailandesa muda. Ela curou-lhe o ferimento, ensinou-lhe os rudimentos da cozinha local e ele aprendeu a comunicar-se no código dos mudos. Conheceu o amor. Ficou fraco, ao que me contaram. Não conseguia mais executar seu trabalho sem sentir pena. Nunca mais conseguiu a frieza necessária para suas “tarefas”. Tentou deixar a “profissão”.  Seus “ex-amigos” não lhe permitiram.
   O mal e o bem parecem apartados por muralhas rígidas e intransponíveis.  
     Seu corpo apareceu morto próximo ao Central Park em Nova York.
      Tenham um fim de semana abençoado.
      Abraços.
      J. R. M. Garcia.