CHALAÇA E O PRÍNCIPE
O dia estava escuro, frio, úmido sob a luz difusa de uma aurora
que demorava a surgir. Contornando as águas escuras dos manguezais de Cubatão,
a comitiva já trotava no lusco fusco rumo a serra, em direção a São Paulo.
Muito agitado estava o espírito de todos. Eram jovens com menos de 30 anos.
Padre Belchior; Saldanha da Gama, 21 anos, Secretário Itinerante; Gomes da
Silva; também chamado “Chalaça”; Luís
Gama; João Carlota e João Carvalho. O chefe deles, apenas com 23 anos, vinha de
Santos onde, no dia anterior, passara inspecionando as seis pequeninas guaritas
daquele porto.
Com estes jovens seguia um rapaz epilético, com 23 anos, de
saúde frágil, sofrendo momentaneamente de dores intestinais, alçado a condição de
Príncipe Regente há menos de dois anos, sem qualquer experiência. Exímio cavaleiro montava uma “mula baia
gateada”, sem nenhum chame, para subir com alguma segurança os íngremes,
esburacados e enlameados caminhos da serra. Era como um tropeiro comum. Um
Príncipe muito pobre, sem exército, sem nada senão a comitiva de jovens que
seguia com ele. Tinha a embalar-lhe tão só o ânimo e sonhos peculiares da
juventude, e mais as 180 curvas em zig-zag da trilha esburacada, debruçada sobre
precipícios que conduzia a São Paulo.
Seria um dia agitado para todos. Era o dia 7 de Setembro de 1822
e proclamariam a Independência política do Brasil.
Mas, para surpresa do mundo, com um país de escravos, negros
forros, mulatos, indos e mestiços, gente paupérrima e muitos latifúndios, ele
foi e, do Ipiranga, sem aparato algum, proclamou a independência do Brasil
separado de Portugal.
Julguem-no como quiserem, mas para mim D.Pedro Iº foi herói.
Tenham ótimo fim de semana, pois sexta-feira já vem.
Abraços.
J. R. M. Garcia.