Meu sobrinho é advogado. Ele é trabalhador. Roda as comarcas
destes brasis levando varadas e jogando pedras em todas estas infelizes comarcas. Agora, em sã consciência, escandalizado, interpelou-me –advogado sempre
interpela- com a última crônica,
reivindicando que esclarecesse "esta coisa" de louvar a preguiça.
Pois aceito a interpelação de meu querido e mui amado Sobrinho.
Repito.
Amo a preguiça em todos seus matizes.
Não consigo mentir em assuntos tão sérios.
Por quê louvo-a?
Realmente nunca vi, seja em que sentido for, uma idéia nova
surgir na mente de um trabalhador inveterado.
Na Grécia, na Roma antiga e mesmo no Egito ou na Mesopotâmia, os
filósofos e fundadores de grandes religiões e civilizações nunca trabalhavam. Quando muito
meditavam em regime especial, mas sempre sossegados, sem a balburdia da
sociedade que os rodeavam. Eram, muitas vezes, tratados a pão e mel.
Os criadores dos códigos, das leis, dos paradigmas que norteiam
a Humanidade, são resultados de pessoas que se afastaram do labor cotidiano e
colocaram-se a olhar para o alto e meditarem.
Aliás, há uma corrente antropológica, a qual afirma que o ser
humano apenas galgou a evolução científica, quando foi capaz de manter uma
classe pensante capaz de organizar seus rumos.
Sou, pois, contra o labor diário e imagino mais louvável a
meditação preguiçosa, descompromissada, onde nasce a arte em todas suas
manifestações, a física, as religiões etc.
Estou com os monges budistas gordões, gemendo seus mantras
infindáveis à sombra de frondosas árvores centenárias.
Mas o assunto é muito extenso para a curta crônica de um Blog.
Tenham um fim de semana abençoado. Já, já
ele virá aí com as folgas de estilo.
Abraços.
J. R. M. Garcia.