Aliás,
este foi o único irmão de minha avó que conheci. E, mesmo assim, em dois
encontros casuais.
Uma pessoa curiosa, quando nada.
Ele gostava de dar tiros. Tinha mania de
nominar seus objetos pessoais, trazendo antropomorfismo as coisas. Seu revolver, por
exemplo, chamava-se “nagão” e ele o portava sempre. Este revolver tornou-se
mítico.
Nunca casou, nunca constituiu família,
sempre teve muitas namoradas. Viajou, para a época, grandes distâncias. Era
briguento e, às vezes, extremamente humilde. Para se ter uma idéia era, de
quanto em vez, nomeado oficial de justiça “ad oc” para diligências difíceis, em
locais remotos de grandes comarcas. A aquela época o oficial de justiça era
confundido com a parte e o cumprimento das diligências era na base do tiro
mesmo. Logo, muitas vezes, desempenhava estas desagradáveis e estranhas
funções.
Mas enfim nem sempre ele estivera do lado
formal da lei. Pois consta que por vários dias trocou tiros de dentro de uma
igreja, que ainda existe, com a polícia por alguns dias. Resistia a um mandato
de prisão.
Tinha uma letra linda, bordada. Fazia
poesias. Havia uma caderneta onde as teve guardadas, mas não me recordo da
qualidade delas.
Era extremamente curioso, de humor
fácil. Ainda vivo, quando a Rússia
lançou o primeiro satélite artificial, indagou-me o tamanho do mesmo.
Informei-o da dimensão do pequeno artefato. Ele dobrou de rir, achando um
estardalhaço que a mídia fazia à semelhante peçazinha de nada útil. Tentei
explicar-lhe detalhes, mas já não me dava atenção.
Viajou ao Rio a cavalo para conhecer a
capital federal, em uma comitiva de “cometas”. Assim, esteve sumido meses da
localidade longínqua e pequena onde morava. Voltando ficou meses proferindo
“conferências” sobre o que por lá vira.
Morreu só, lúcido, pleno de suas
faculdades, em provecta idade, supostamente dormindo, vindo a ser o óbito
constatado dois dias depois.
Estas são as lembranças que tenho de
Pacífico Garcia.
Tenham uma abençoada semana.
Abraços.
J. R. M. Garcia.