- PARTE DE UMA CARTA QUE
ENVIARAM-ME -
TALVEZ ESTAS PALAVRAS DE REFLEXÃO
SIRVAM PARA ALGUM JOVEM
“Mas, de uma forma ou de outra, vejo que já cumpri os desígnios da vida. Uma vida simples, curial, própria de um brasileiro mediano.
Estudei, trabalhei muito, mas tive meus “dias de glória” também. Poderia
chamá-los mediocremente assim? Acho que, talvez, com uma dose de cinismo, sim.
Desta forma, não vejo porquê tentar prorrogar este tempo
que supostamente Deus deu-me neste planetazinho. Não há motivos. Já vivi, vi
algumas coisas, experimentei muito neste meu pequeno mundo.
Assim, minhas expectativas são modestíssimas.
Dir-me-ão que, se agora deixo-me levar pelas pesadas cargas
de uma velhice de todo em todo provecta, males cairão sobre mim tal qual
acidentes cerebrais, diabetes, infartos lesivos de minhas plenas capacidades,
Alzaimer e mais e mais males imprevisíveis.
É possível que assim seja. Somente vejo ameaças e
ameaças de maiores males. Nunca a humilde esperança de alguma forma de
renascimento. Digamos, uma ilusão qualquer de que dias melhores virão. E isso é
mesmo uma verdade. Ninguém, em sã consciência, haveria de “prometer-me” dias
melhores.
A velhice, em si mesma, nunca imaginei que fosse tão
solitária e triste. Vejo-me só em cada festa que vou, em cada logradouro
público. Todos morreram ou encontram-se alquebrados. Eu ainda resisto. Não
quero, deste modo, esta luta que não leva a nada, ora. Já sei o fim. Já o
vejo. Por quê tentar adiá-lo? O final da partida é próximo.
Dir-me-ão. “Se você deixar-se apagar lentamente, sua
família quererá mantê-lo vivo de qualquer modo e, com isso, você infringirá
sofrimento em outros e em si mesmo.” Mas não creio que isso seja verdade, pois
ninguém quererá -nem agora- tolerar
um velho. E, de mais a mais, esta maquina parará e, com igual intensidade,
todos os males das doenças cairão de uma só vez sobre mim.
Será assim. Neste dias que virão tornar-me-ei um trambolho
de uma forma ou de outra. Seja por doenças invitáveis, seja pela perca do
interesse em minha pessoa, seja porque cargas d’água forem.
Mas, inevitavelmente será assim.
Deixemos que Deus realize nossos destinos. ”
TRANSCRITA POR
J. R. M. Garcia.