sexta-feira, 23 de maio de 2014

= BELÉM, SEXTA-FEIRA =

Tarde chuvosa. Cinza. Úmida. Triste. Estilo São Paulo. De longe, aqui do apartamento, vê-se os prédios mais distantes entre nuvens baixas. Lá na rua todos de guarda chuvas passando apressadamente. Fim de tarde, né? Fim   de sexta. Quem não quer ir para casa?
No meu caso não. Tanto faz. Minha casa é sempre onde estou.
Lembro de outras tardes como esta em Goiás Velho, hotel de fronte o cemitério, demandando grileiros. Da sacada a gente via os enterros e eu lá parado esperando, esperando...dias e dias. Esperando quem? Ninguém, ora.
Recordo-me também de tardes assim na fazenda, chovendo muito e eu lá sozinho vendo o córrego da Bateia encher. Aquelas luzinhas fracas da casinha  e água e mais água caindo do céu. Goteiras muitas. Ir para onde? Para lugar nenhum. E o pior é que não via nem um único pé de capim plantado. Esse desespero corroía-me a alma. Partia meu coração.
E me vejo também no internato, na sacada, olhando o jardim, escurecendo, isolado de todos. Ali, a impressão é de que nunca mais haveria esperança, pois os dias iam e vinham com maior monotonia do que as batidas dos relógios nas paredes daquele imenso prédio.
E, assim, minha vida foi-se. A de todos, de uma ou de outra forma, vão-se também.
De lugar algum para nenhum lugar.
Bom fim de semana.
J. R. M. Garcia.