Tarde chuvosa. Cinza. Úmida. Triste.
Estilo São Paulo. De longe, aqui do apartamento, vê-se os prédios mais
distantes entre nuvens baixas. Lá na rua todos de guarda chuvas passando
apressadamente. Fim de tarde, né? Fim
de sexta. Quem não quer ir para casa?
No meu caso não. Tanto faz. Minha
casa é sempre onde estou.
Lembro de outras tardes como esta em
Goiás Velho, hotel de fronte o cemitério, demandando grileiros. Da sacada a
gente via os enterros e eu lá parado esperando, esperando...dias e dias. Esperando
quem? Ninguém, ora.
Recordo-me também de tardes assim na fazenda,
chovendo muito e eu lá sozinho vendo o córrego da Bateia encher. Aquelas luzinhas fracas
da casinha e água e mais água caindo do
céu. Goteiras muitas. Ir para onde? Para lugar nenhum. E o pior é que não
via nem um único pé de capim plantado. Esse desespero corroía-me a alma. Partia
meu coração.
E me vejo também no internato, na
sacada, olhando o jardim, escurecendo, isolado de todos. Ali, a impressão é de
que nunca mais haveria esperança, pois os dias iam e vinham com maior monotonia
do que as batidas dos relógios nas paredes daquele imenso prédio.
E, assim, minha vida foi-se. A de
todos, de uma ou de outra forma, vão-se também.
De lugar algum para nenhum lugar.
Bom fim de semana.
J. R. M. Garcia.