domingo, 11 de maio de 2014

= FOI A ÚLTIMA VEZ =

AEROPORTO   DE   UBERLÂNDIA 

      Dezoito horas. Aeroporto de Uberlândia. A maioria dos guichês abertos, menos um. Exatamente o que eu embarcaria. Companhia aérea, PASSAREDO. Passageiros, alguns para embarque destino São Paulo e outros para o Rio.
       Esperando todos. Meu trecho era curto, um pulinho apenas. Mas os demais...
        Chegou um, dois, três funcionários e adentraram ao recinto interno do guichê, fechando a porta. Mais um e ainda um outro. Todos lá dentro sem sequer um boa noite. Cá fora sem ninguém saber qual era o silêncio.
        De repente vem um comunicado. Todos vôos da Passaredo cancelados. TODOS.
        A noite era de chuva. Ventava um pouco. E ali uma espécie de frustração misturada a uma raiva muda, contida, reprimida.
      E o tempo passa. No guichê ninguém e lá dentro, atrás da porta, cinco funcionários que cá fora não vinham.
      Após uma hora, esta vítima idiota com temperamento impulsivo que vos escreve, atravessa o balcão sobre a balança de pesar bagagens, contorna a longa varanda interna e bate na porta onde estavam os funcionários. Bate uma, duas vezes e a terceira já com muita força. Aparece um empregado e interpelo-o: “Que procedimento esse deixando-nos fora, quando lá dentro parecem estar em convenção.”
      Daí inicia o tímido tumulto. Mais de vinte pessoas resmungavam. Chamaram o segurança e fui convidado a retirar-me.
        Por quê a última vez ?
   Porquê em mais uma ocasião entre as muitas, reivindiquei um pouco de cidadania e respeito e  vi o silêncio dos ordeiros cordeiros ofereceram-se a tosquia. Éramos umas vinte e poucas pessoas. Ninguém, nem um único cidadão, fez coro com minhas reivindicações, quando lá dentro eu estava a bater na porta e forçar uma resposta. Todos mudos. Ali eu poderia apanhar e nenhuma alma misericordiosa haveria de interferir solidarizando comigo em razão de um pedido no interesse comum. Em 64 foi a mesma coisa. Em 68 também. E, por muitas comarcas deste país, não aceitei o escárnio com que desprezavam o profissional. Muitas brigas. Muitas pendengas inúteis, solitárias, idiotas. Já fui atirado, preso, processado, próximo a ser preso muitas vezes. Queremos paz gratuita, sem ônus, sem responsabilidade, sem riscos. Queremos ordem sendo carneiros prontos ao sacrifício.
        Fico de coração dolorido. Mas somos assim mesmo: um povo sem compaixão, sem caridade, com muito desamor embora falando em amor.
        É triste !
        Não compensa, meu amigo. Essa é nossa cultura.
        “Foi a ultima vez”.
        Tenham uma semana feliz.
        J. R. M. Garcia.