AEROPORTO DE UBERLÂNDIA
Dezoito horas. Aeroporto de Uberlândia. A maioria dos guichês
abertos, menos um. Exatamente o que eu embarcaria. Companhia aérea, PASSAREDO.
Passageiros, alguns para embarque destino São Paulo e outros para o Rio.
Esperando todos. Meu
trecho era curto, um pulinho apenas. Mas os demais...
Chegou um, dois,
três funcionários e adentraram ao recinto interno do guichê, fechando a porta.
Mais um e ainda um outro. Todos lá dentro sem sequer um boa noite. Cá fora sem
ninguém saber qual era o silêncio.
De repente vem um
comunicado. Todos vôos da Passaredo cancelados. TODOS.
A noite era de
chuva. Ventava um pouco. E ali uma espécie de frustração misturada a uma raiva
muda, contida, reprimida.
E o tempo passa. No
guichê ninguém e lá dentro, atrás da porta, cinco funcionários que cá fora não
vinham.
Após uma hora, esta
vítima idiota com temperamento impulsivo que vos escreve, atravessa o balcão
sobre a balança de pesar bagagens, contorna a longa varanda interna e bate na
porta onde estavam os funcionários. Bate uma, duas vezes e a terceira já com
muita força. Aparece um empregado e interpelo-o: “Que procedimento esse
deixando-nos fora, quando lá dentro parecem estar em convenção.”
Daí inicia o tímido
tumulto. Mais de vinte pessoas resmungavam. Chamaram o segurança e fui
convidado a retirar-me.
Por quê a última
vez ?
Porquê em mais uma
ocasião entre as muitas, reivindiquei um
pouco de cidadania e respeito e vi o
silêncio dos ordeiros cordeiros ofereceram-se a tosquia. Éramos umas vinte e
poucas pessoas. Ninguém, nem um único cidadão, fez coro com minhas
reivindicações, quando lá dentro eu estava a bater na porta e forçar uma
resposta. Todos mudos. Ali eu poderia apanhar e nenhuma alma misericordiosa
haveria de interferir solidarizando comigo em razão de um pedido no interesse comum.
Em 64 foi a mesma coisa. Em 68 também. E, por muitas comarcas deste país, não
aceitei o escárnio com que desprezavam o profissional. Muitas brigas. Muitas
pendengas inúteis, solitárias, idiotas. Já fui atirado, preso, processado,
próximo a ser preso muitas vezes. Queremos paz gratuita, sem ônus, sem
responsabilidade, sem riscos. Queremos ordem sendo carneiros prontos ao sacrifício.
Fico de coração
dolorido. Mas somos assim mesmo: um povo sem compaixão, sem caridade, com muito
desamor embora falando em amor.
É triste !
Não compensa, meu
amigo. Essa é nossa cultura.
“Foi a ultima vez”.
Tenham uma semana
feliz.
J. R. M. Garcia.