BAÍA DO GUAJARÁ
Não?
Confiram.
Hoje domingo, dia
sereno, hotel vazio de modo a deitar dormir, ver filmes, ouvir música, dar uma
volta na feirinha da praça, nadar, tomar água de coco. Por aí.
Entendi de pensar ao
contrário: “Vou às docas...”
Fui.
Muito interessante
tudo ali. Várias lojas, um mini shopping, restaurantes, um pequeno museu náutico,
fotos antigas dependuradas nas paredes. Almocei e fui ver o movimento dos
barcos com grandes lanchas que zuniam por ali.
Pensei: “Estas balsas
devem fazer o movimento costeiro da cidade. Saem daqui, param em um bairro e
voltam. Achei isso extremamente lógico. Como se fossem ônibus. Sem me informar,
(Ah, santa estupidez !), tomei uma delas. E ela foi para baia afora. Sempre
distanciando mais da cidade. Cada vez mais longe.
Informei-me.
O cidadão, espantado
com a pergunta, disse-me:
--Esta balsa vai para Barcarena e Vila dos Cambos.
Surpreso ainda fiz a
estúpida pergunta:
--Como? Isso é outra cidade.
Resposta seca
--Claro que é? Para que cidade os senhor quer ir?
--Quero ir para Belém.
O dito cujo olhou-me
como se eu fosse um lunático.
--De Belém é de onde você vem. Ôôôô !!!! Exclamou.
E encarou-me realmente.
--Mas eu queria um barco para Belém, ora.
--Quê isso! Tá tirano uma
na minha cara, chapa?
Nem tentei explicar. Resolvi
mudar de lugar.
Mais para o meio da imensa
baia de Guajará, o barco começou a jogar. Maré enchendo. Sentados 115 e de pé o
que Deus permitir. Uma senhora começou a vomitar. Uma outra criança de colo
também. Mudei de lugar outra vez.
E aí tudo piorou.
Piorou e muito.
Começou a chover. A
ventar. A balançar aquele barco com uns vinte centímetros acima da borda d’água.
Maré enchendo sempre. Todo mundo balançando. De pé alguns. Velocidade oito nós
(30 km. por hora mais ou menos).
Por Deus, penso eu,
chegamos até Barcarena. Uma cidadezinha de vinte mil habitantes.
Mais quarenta minutos
chegamos em Vila Cabanos.
Fiquei na dúvida se
embarcava de volta ou não.
Desisti desta
embarcação e peguei uma outra que vinha da ilha de Marajó. Mais veloz, mas tudo
igual e, agora, já era noite. Chuva e vento, a mesma coisa.
Quando vi as luzes de
Belém, quatro horas depois, ao longe.....rezei para minha Padroeira.
E o pior de tudo
ainda não foi isso.
Foi quando aqui no
hotel, contando o quê passei para o "maitre",
ele me disse:
--Doutor. Quê isso! O senhor já não tem mais idade para estas
coisas....
Quase chorei.
Tenham uma ótima semana.
J.R.M.Garcia.