Quando
me iniciei na advocacia -e isso já faz
meio século- comecei o exercício como o
quê chamavam, à época, “solicitador
acadêmico”. Eram dois professores da própria faculdade, os quais no escritório professavam a advocacia.
Um,
pouco estudioso, mas cuja inteligência era brilhante. Antes mesmo de
explanarmos o problema, já ele trazia a resposta. Outro, extremamente metódico,
cauteloso, previdente, estudioso, sistemático.
O primeiro bebia regularmente e o segundo de todo abstêmio. Um de excelente
humor, o outro circunspecto. Difícil
entender como duas pessoas tão diferentes
davam-se bem. Mas, na verdade, respeitavam-se muito. Diria mesmo que gostavam
da companhia um do outro.
O
fato.
Fui,
com ambos, acompanhar uma audiência de instrução e julgamento, em uma Comarca
distante uns 200 quilômetros. Lá, como a audiência estava marcada para as quinze horas
e, chegamos por volta de onze horas, fomos almoçar.
Um
deles começou a beber com estômago vazio, esperando o almoço. O outro somente
olhando. Olhava e, cada vez, o outro bebia mais. No fim, o timbre de voz já
ficou pastoso. E fomos para a sessão.
Pronto.
Chegando à audiência, o que bebera
estava infundadamente alegre, efusivo, falante. Cumprimentou o Juiz com um
abraço, mesmo sem este erguer-se. Deu a impressão que ele e o Juiz eram amigos
íntimos, o que não era verdade, pois não se conheciam.
E
o pior.
O Juiz, um ancião de certa idade, o
que bebera e estava alegre, passou a mão em sua cabeça sem cabelos e ,
alegremente, disse:
---Heee !!! Debaixo desta carequinha
aqui está toda sabedoria de nossas ciências jurídicas...É um sábio...
O juiz, entendendo
tudo, experiente, habilidoso, levantou, pediu licença e mandou recado pelo
escrivão: a audiência havia sido adiada.
O constrangimento
foi geral.
Todos ficaram
envergonhados.
Talvez, de forma
análoga, o Ministro Joaquim Barbosa devesse ter resolvido o impasse de ontem na
Suprema Corte.
E Viva a Copa.
Abraços.
J. R. M. Garcia.