LI PÔ, POETA E FILÓSOFO CHINÊS
Quando dormimos, nossos sonhos são todos reais.
Quando despertos, também eles são reais. Sejam eles pesadelos, idílicos, cheios
de graça, horríveis ou bons. Logo, é de se concluir que, anímicamente, vivemos
em dois mundos de todo em todo verdadeiros. O da vigília e o do sono.
Claro está que, se acordados, segue-se uma memória
daquilo que chamamos vida e, ao sonhar, estes somente acontecem quando estamos
adormecidos, sem dar seqüência de continuidade, via de regra.
Diria mesmo que, ao dormir despertamo-nos para os
sonhos e, ao acordar, despertamo-nos para a vigília.
Até aqui fiz clara minha ideia?
Assim, como escolher o mundo que habitamos?
O mundo desadormecido ou o mundo adormecido? Os
sonhos despertos, ou os sonhos dormindo.
Li Pô, mitológico sábio e poeta chinês, bebia
muitas vezes exageradamente. O rei, encontrando-o embriago, advertiu-o: “É
assustador, um homem sábio como você entregar-se deste modo a bebida. O álcool
é ácido no início e amargo no fim...És um tolo.” Li Pô, em silêncio olhou o rei
com pesarosa visão, e respondeu com voz arrastada: “O início é na verdade acre
e o fim é, de fato, amargo, mas ao meio nem todo seu reino cabe em meus
sonhos.”
Assim minha amiga(o), quando observar caído nas
sarjetas um moribundo entregue a bebida, ao ópio e as mazelas do vício, veja
caridosamente este destino, mas lembre-se que, talvez, em seus sonhos uma
criança empina pipa, joga maré entre amigos, a mãe de braços abertos o espera,
a alegria de uma festinha de aniversário enche-lhe a alma de felicidade até
que, como Li Pô, ele venha a morrer em uma possa d’água, abraçando a lua nela
refletida, cheio de alegria e felicidade. Trocou o “sonho” pela desgraçada
“realidade” da vida.
Até mais.
J. R. M. Garcia.