sexta-feira, 6 de junho de 2014

VÔO AGÔNICO


Uberlândia para Marabá, via Brasília.  Um vôo que detesto. Matutino. Seis horas da manhã, começa o “Check-In”. Mas, à trabalho, todos são obrigados a inconveniências. Embarco, morrendo de preguiça e sono. 
Geralmente, quando viajo só, vou ali nos quatro primeiros lugares da frente. O espaço é maior e, assim, gozo dos privilégios que a idade, justa ou injustamente, confere-me.
Sento. O avião posiciona-se na cabeceira da pista dentro do horário, rola e alça-se. Vamos.
Passado uns 10 minutos, antes mesmo de atingir a velocidade e altura de cruzeiro, uma senhora que adentrara sob o auxilio de uma cadeira de rodas, com sua filha ao lado a cuidar, começa gemer baixinho.
Impressiono-me.
Olho-a. Extremamente pálida. Transpirando apesar do ar condicionado. A filha enxugava seu suor.
Mais um pouco ela grita. Grita acusando uma dor que, ao que parecia era lancinante. A comissária de bordo oferece água, suco, café, panos úmidos à filha para tentar aliviar. A comissária preocupa. Os passageiros preocupam-se, também. Uma médica apareceu de um assento lá do fundo e conversa com a filha, já que a senhora doente não fixava atenção em nada. Eu ouvi, em voz baixa, que a filha explicitou a médica que se tratava de uma doença terminal e dolorosa. Os anestésicos não atuaram.
A doente já chorava e discretamente, mas audível, ela invoca Jesus: “Auxilie-me meu Jesus...Pelo amor de Deus...Eu preciso morrer...Não resisto esta dor...”
Confesso francamente que não tenho experiência alguma com estas situações e fiquei atordoado ali ao lado da filha dela, vertendo lágrimas. Eu, na verdade, um tolo. A comissária também foi pega de surpresa. Todos foram pegos desprevenidos.
O vôo foi rápido e tranqüilo graças a Deus. O piloto avisara ao aeroporto. Uma maca foi erguida por um elevador ao lado da outra porta e ela desceu já serena em uma maca, com uma injeção que lhe aplicaram instantaneamente ali dentro mesmo os paramédicos.
Senti vergonha de mim mesmo. Senti-me animado para a tarefa para onde ia por 30 dias no sertão do Pará. Vergonha de minha má vontade e preguiça. Orei uma prece para esta senhora que nunca conhecerei.
Todos desceram e outra população muito diferente encheu o avião e erguemos para a Marabá.
Nunca esquecerei a lição.
Todos devem ter aprendido muito ou desaprendido, nesta curta agonia.
Tenham um ótimo, alegre e feliz fim de semana. Todos vocês são felizes, sabiam? Podem, ainda, ser felizes.
Abraços.

J. R. M. Garcia.