Uberlândia para Marabá, via
Brasília. Um vôo que detesto. Matutino.
Seis horas da manhã, começa o “Check-In”. Mas, à trabalho, todos são obrigados
a inconveniências. Embarco, morrendo de preguiça e sono.
Geralmente, quando viajo só, vou ali
nos quatro primeiros lugares da frente. O espaço é maior e, assim, gozo dos
privilégios que a idade, justa ou injustamente, confere-me.
Sento. O avião posiciona-se na
cabeceira da pista dentro do horário, rola e alça-se. Vamos.
Passado uns 10 minutos,
antes mesmo de atingir a velocidade e altura de cruzeiro, uma senhora que
adentrara sob o auxilio de uma cadeira de rodas, com sua filha ao lado a
cuidar, começa gemer baixinho.
Impressiono-me.
Olho-a.
Extremamente pálida. Transpirando apesar do ar condicionado. A filha enxugava
seu suor.
Mais
um pouco ela grita. Grita acusando uma dor que, ao que parecia era lancinante.
A comissária de bordo oferece água, suco, café, panos úmidos à filha para
tentar aliviar. A comissária preocupa. Os passageiros preocupam-se, também. Uma
médica apareceu de um assento lá do fundo e conversa com a filha, já que a
senhora doente não fixava atenção em nada. Eu ouvi, em voz baixa, que a filha
explicitou a médica que se tratava de uma doença terminal e dolorosa. Os
anestésicos não atuaram.
A
doente já chorava e discretamente, mas audível, ela invoca Jesus: “Auxilie-me
meu Jesus...Pelo amor de Deus...Eu preciso morrer...Não resisto esta dor...”
Confesso
francamente que não tenho experiência alguma com estas situações e fiquei
atordoado ali ao lado da filha dela, vertendo lágrimas. Eu, na verdade, um
tolo. A comissária também foi pega de surpresa. Todos foram pegos
desprevenidos.
O
vôo foi rápido e tranqüilo graças a Deus. O piloto avisara ao aeroporto. Uma
maca foi erguida por um elevador ao lado da outra porta e ela desceu já serena
em uma maca, com uma injeção que lhe aplicaram instantaneamente ali dentro
mesmo os paramédicos.
Senti
vergonha de mim mesmo. Senti-me animado para a tarefa para onde ia por 30 dias
no sertão do Pará. Vergonha de minha má vontade e preguiça. Orei uma prece para
esta senhora que nunca conhecerei.
Todos
desceram e outra população muito diferente encheu o avião e erguemos para a
Marabá.
Nunca
esquecerei a lição.
Todos
devem ter aprendido muito ou desaprendido, nesta curta agonia.
Tenham
um ótimo, alegre e feliz fim de semana. Todos vocês são felizes, sabiam? Podem, ainda, ser felizes.
Abraços.
J.
R. M. Garcia.