quinta-feira, 31 de julho de 2014

= TUNICA, A DONA DA PENSÃO, ESTÁ DE VOLTA =

TUNICA

   Tenho de interromper aqui as modestas ilações sobre Jung, para trazer uma notícia de última hora.
Então.
      Ela está voltando do SPA. Domingo estará de volta.
      Meu sossego termina.
      Ela, que é viciada em engordar e emagrecer -famoso efeito sanfona-, agora, terei de submeter-me as normas e regras de seus regimes.
    Beber água no míninmo de trinta em trinta minutos, deitar cedo, levantar cedo e ir andar, comer de três em três horas, assumir postura nobiliárquica no assento, banhos duas vezes por dia, fazer barba duas vezes por dia, observar as unhas se estão cortadas (inclusive a dos pés), ver se não existem cravos pelo rosto, depilar pelos faciais indesejáveis, corte de cabelos todas as semanas e, inclusive, cremes faciais.
         Fazer o quê?
      Ela, ao que estou informado, quer também fazer um SPA aqui na antiga pensão.
      Tenho fé em Deus que suas filhas, minhas sobrinhas, façam-na desistir desta idéia.
         Mas, ela já tem uma convicção formada.
         Diz:
         “Ao invés de dirigir-me ao SPA, que ele se dirija a mim.”
         Loucura?
     Nem tanto. Esta idéia até que é razoável, porque no último delírio que teve foi pular da Pedra da Gávea em uma asa delta. E o pior foi que pulou e saiu viva apenas com uma fratura na mão. E sabe como foi a fratura? De tanto esforçar-se para não despencar da asa delta e cair como uma jaca na Mata Atlântica.
         Chegou a pensar no Everest, o que de todo em todo, loucura ou não, obrigaram-na a uma consulta ao psiquiatra. E o pior é que estava convencendo ao psiquiatra de pular com ela.
     Espero que tenha deixado de beber. Pelo menos de beber tanto. De fumar sei que parou. Quanto a emagrecer, fico a esperar a próxima internação em outro SPA ou converter isso aqui em SPA com minha retirada para o Chuí.  
         Vamos ver. Vamos ver. Vamos ver.
     Tenho fé. Deus não me abandonará aos riscos.
         Espere ela chegar que depois conto mais.
         Abraços.
                J. R. M. Garcia.
                

quarta-feira, 30 de julho de 2014

= JUNG DEU ALMA A ESPÉCIE HUMANA =

Carl Gustav Jung

Tudo indica que a humanidade constitui-se em um ente portador de vida própria e, como tal, um ser independente no planeta, individuado como um todo, próprio, definido por suas características adequadas. Enfim, a humanidade é um ser vivo. Age, reage, cresce, evolui, adoece, cura-se, trabalha e busca a vida da mesma forma que um indivíduo procederia. Se um leão, um boi, um gato, um homem é uma unidade em si mesmo, a humanidade também é idêntica. É, evidentemente, única.
A pessoa, o ser humano em si mesmo como tal, é um ser formado por milhares de células que somos nós. Interagimos por muitos processos peculiares, em uma rede bem mais complexa de intercâmbio do que as células vivas dos corpos biológicos, dos quais somos formados. Umas imensidões de células morrem a cada instante em nosso corpo físico e, outra imensidão nasce de igual maneira.Tudo muito semelhante ao corpo social. Nem por isso sofremos descontinuidade em nossa vida como um todo único, tal qual a humanidade. Evoluímos do nascer até a morte, da mesma forma que provavelmente a humanidade no seu todo morreria. Ou não, tudo dependendo de sua adaptabilidade ao Universo e da evolução de si mesma, em organizar-se no planeta e dele conseguir meios para a subsistência.
   Tal qual a espécie nascemos crianças e viemos evoluindo até hoje, trazendo em nossos corpos marcas registrando esta evolução. Sejamos ou não descendentes de uma espécie de macaco. De igual maneira, temos em nosso evoluir as marcas destas alterações físicas. E é evidente que, se na formação de nossos órgãos temos sinais indeléveis de nosso passado biológico, nada mais natural que, também, tenhamos em nosso inconsciente estas mesmas marcas sob a forma primitiva de símbolos, memórias ancestrais que somente habitam em nosso inconsciente.
     E aqui faço lembrança de que Jung, em sua genialidade, lembrou-nos e fez-nos ver que existe um inconsciente coletivo, comum a toda espécie, com variantes grupais e territoriais. Contudo, idêntico nesta memória da espécie. Jung e Freud descobriram o inconsciente individual, mas foi Jung quem, sozinho, percebeu e, afinal, provou a existência do inconsciente coletivo, dando, desta foram, uma “alma” própria e específica a espécie humana.
      Isso equivale a dizer, de alguma outra forma, que a humanidade possui uma “alma”. Uma “alma” individuada, diferenciada de todos demais gêneros da criação. Esta “alma da espécie” não é mística, mas sim real, perceptível e identificável. E, também é válido afirmar que nos bilhões de anos que nos antecederam neste planeta, as espécies que não evoluíram são, exatamente, aquelas que atingiram seu ponto máximo de evolução, estando de conformidade com o meio no qual vivem. Já o ser humano não. Ele ainda não está adaptado ao planeta e, por isso, necessita de maior índice de adaptação e transformação.
    Mas, o que nos faz ser assim desesperados por viver?
      Exatamente nosso instinto de conservação, o que equivale a dizer que a maioria de nós não deseja sofrer dor e tão pouco morrer. A somatória disso impulsiona não unicamente a humanidade para diante, mas sim leva toda a vida existente no planeta com o destino á vida. Leva-nos também a perpetuarmo-nos sob a forma de descendentes.
         Complicado estas assertivas, não é?
         Voltaremos ainda a ela.
         Abraços.
         J. R. M. Garcia.
                  

terça-feira, 29 de julho de 2014

= GÊNIO DE TODAS AS ÉPOCAS =

Carl Gustav Jung

Muito do que aqui escrevo são conhecimentos adquiridos da psicologia analítica de Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica.(1875/1961). Não é muito, reconheço. Também um pouco de Eugen Bleuler e Alfred Adler. De Freud pouco sei.
         Jung sustenta a individuação do ser humano como meta da Psicanálise. Ele mesmo dizia: “Aquele que chega a mim ateu, sairá ateu. O que chega cristão, protestante sairá em idênticas religiões.” Sua busca, acima da cultura, por sobre as épocas e muito além da moral e dos costumes, era individuar o ser humano.
         Suas pesquisas no limear do conhecimento da Psicanálise foram além, desvendando campos que outros à época sequer divisavam. E ainda agora, mesmo com os quarenta anos advindos após o término de sua vida, ainda é de difícil compreensão.
        Entre muitas de suas descobertas científicas, está o que chamou de “inconsciente coletivo”. Difícil de conceituar, de entender, de expor. Ao que modestamente entendo, ele queria dizer que a Humanidade, como um todo, possui uma espécie de consciência coletiva e, como tal, também um inconsciente. Pois se consciência de sua própria existência a Sociedade não tenha, jamais poderia ter um inconsciente, como ele assim afirmou. A este fato o gênio não atentou.
          No meu entender -e vai aí uma crítica provavelmente tola- ele deveria, antes, ter perseguido a consciência da espécie e, somente depois, tentar verificar onde estaria seu inconsciente.
           Será que os senhores, psicólogos junguianos, achar-me-ão burrinho demais?
      No entretanto -mesmo assim julgando-me- gostaria que raciocinassem sobre este paradigma.
         E digo o porquê: Se a Humanidade for entendida como um ente, toda visão da História, a interpretação dos costumes, da moral, da ética, das tradições, dos símbolos sofrerão novo ângulo e visão e uma nova análise bem como a proposição de estudos mais avençados.
         Muito lhes agradeço pensarem o assunto.
         Abraços.
                J. R. M. Garcia.
               
               
                   
                 

                

= ATÉ MAIS AGORA =



Pode ser que seja de mau gosto, mas na verdade não é.
Perdoem-me a franqueza. Não me queiram mal.
    Uma hora você levanta cedo e sente que a manhã não é a mesma, que seu corpo longe está do que foi, que ao erguer-se já não é o mesmo, que tudo está mais pesado do que era, que suas faces não tem mais o viço de outrora, que seu ânimo na verdade passa apenas de fantasias que não sustentam bem seu vão entusiasmo.
       Triste isso?
       Por quê?
   Porquê em passado ido você viveu em plenitude a imensidão do tempo que teve e, assim, jogou na roleta da vida, tudo que tinha direito?
      Perdeu, ganhou, chorou, sorriu, usou de suas fantasias e emoções até o quantum necessário à sua vida?
         Ora!
     Ao contrário. Imagino que o limite de sua auto-consciência está saudavelmente apontando-lhe  seu tempo agora. Esta é sua realidade. É o seu momento hoje. Esta pode ou não ser ou não o que chamam hoje de “zona de conforto”. Mas, se deixa a vida fluir com a natureza do próprio ser, esta é a sua vida. Ela está aos poucos, no deslizar do tempo, completando-se em você como completou em todo seu passado, se assim você se permitiu.
       Amiga(o). Não impeça a vida de se cumprir em você. Não a resista. Não brigue com ela. Não a segure com a força do desespero. Tenha-a com o mesmo carinho com que seguraria delicada e carinhosamente um pássaro no aconchego de suas mãos. E se esta ave, delicada, carinhosa, cheia de amor quiser ir, deixe que vá livre, solta, cheia de amor pelo espaço afora.
      Fique alegre, mantenha o riso em seus lábios, pois teve em si a vida para amar, odiar, desejar, ir e vir. Entenda que esta bênção tem um fim e que, agora, é o instante necessário a que esta ave se vá.
         Com muito amor.
         J. R. M. Garcia.  

sábado, 26 de julho de 2014

= E VOCÊ ? =



Um dia você volta para dentro de si mesmo. Pára. Se coloca a pensar e inicia um processo de julgamento de si mesmo.
       Fala assim para si proprio:
       --Por quê minha vida foi assim e não assim?
       --Onde houve as encruzilhadas?
       --De que forma você reagiu a esta ou a aquela circunstância?
       --Como o julgaram? Como você julgou a si mesmo?
     --Será que seria possível que agisse deste e daquele modo, e não de outro?
       Bem.

      Quando isso houver, com real sinceridade, já é muito tarde para estas perguntas. Provavelmente terá vivido toda sua vida e o quê lhe resta, seja tão pouco, que não há mais como mudar nada. Tempo esgotado. Está próximo o apito final do jogo.

Cuál es el camino?
El camino es la propia caminada” 

      Este é o diálogo entre personagens do poeta Garcia Lorca.
       Por onde se caminha é a caminhada. E para conhecê-la é preciso fazê-la e para fazê-la, o único modo é vivê-la.
    Desta maneira, no verídico incontestável parâmetro do poeta, a única forma de saber o caminho é fazendo-o, vivendo-o e, assim, somente podemos saber qual é após tê-lo feito.
       Por isso, sempre será tarde demais.
       Já estou no fim do jogo, quando tudo é tarde demais.
       E você?
       Tenha um excelente domingo.
       J. R. M. Garcia.  
      




= BEM E MAL =



Não há bem que se lhe não tenha mal que o compense.
Nem sorrisos sem lágrimas que os aflijam.
Nem sonho bom que se não acorde.
Nem alegria sem tristeza.
O mal e o bem juntos andam a afligir-nos.
Companheiros inseparáveis vivem, neste mundo, a atazanar nossa existência.
Que coisa é essa, onde um e outro sempre estão de mãos dadas?
A ausência de dor já é dor.
Que se não pense em culpa, pois os culpados são também vítimas.
Estou certo de que Deus não conseguiu fazer coisa melhor.
Mas será que Ele tentou?
Talvez esteja ainda tentando, não é mesmo?
Um fim de semana abençoado para todos vocês.
Abraços.
J. R. M. Garcia.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

= UM DIA =


Há um dia que você compreende quase tudo.
Porquê tudo seria divino ou infernal.
Há um dia em que você vê quase tudo.
Porquê tudo seria divino ou infernal.
Há um dia que você se arrepende de quase tudo.
Porquê de tudo seria divino ou infernal.
Há um dia que você se lembra de quase tudo.
Porquê de tudo seria divino ou infernal.
Há um dia que você desiste de quase tudo.
Porquê de tudo seria divino ou infernal.
Há um dia que você não compreenderá, não verá, não se arrependerá, não lembrará, desistirá de tudo.
Porquê neste dia tudo será divino.
J. R. M. Garcia.

- MORTE AOS VELHOS !



          É isso mesmo. Esta é a notícia sim.
       Não sei se na China ou na França --ambos países são capazes desta medida-- estão pensando em criar uma lei que limita o tempo de vida das pessoas velhas no planeta.
          Assim.
       Uma pessoa, ao atingir certa idade, não pode passar deste limite. Então é encaminhada a uma espécie de “hospital” onde, por morte assistida, entrega-se a eutanásia com todo conforto, carinho e muitos com o desvelo de familiares.
      Poderá haver festejos após a desencarnação, se podemos chamar assim.
   Teria salão de festa próximo, onde aqueles que, tendo deixado bens a partilhar, dariam uma comemoração para os vivos.
     Os pobres não teriam estes salões. A solenidade é simples. Mas garantem que seria também indolor a injeção letal.
      É permitido aos mais emotivos chorarem. 
    Alguns chorariam por verem-se aliviados do fardo pesado do ancestral. Outros de alegria, pela fortuna que usufruiriam. Muitos sentir-se-iam felizes, pelo desencargo da pesada obrigação.
      Mas, honestamente, todos que comparecerem no “velório” --chorando ou não-- lá bem no fundo, presumivelmente, sentir-se-ão aliviados.
       E o ânimo dos velhos? Os descartáveis.
       Penso que de uma forma geral, a maioria compreenderia esta medida saudável e clínica.
       E, também, haverá de ter uma penalidade. Toda Lei sem pena, não o é.
       Assim, os velhos que resistissem ou furtassem-se a esta medida, teriam punições equivalentes a morte.
       Não sei se esta Lei “pega”, mas se “pegar”, aqui no Brasil nada há a espantar, pois já convivemos e aceitamos tranquilamente o assassinato de 65.000 mil brasileiros por ano, na maioria jovens.  Seria mais barato que se colocassem estes velhos na lista destes assassinatos. Principalmente os políticos em geral, não é mesmo?
       Uma ótima semana.
       Abraços.   
       J. R. M. Garcia.

terça-feira, 22 de julho de 2014

=A TUNICA, A DONA DA PENSÃO, SUMIU=

TUNICA


      
       Quer dizer.
       Sumiu de tudo não. Há exagero nesta afirmação.
       Ela foi para um Spa. Longe daqui.  
     Mas eu não tenho o telefone e nem sei onde é, e muito menos o nome.
     Agora sem teto, sem veículo, sem dinheiro que o Santander não me libera.
       Vejam que situação braba.
       Estou aqui como se diz, como um “gato de tapera”.
     Para quem não sabe, “gato de tapera” é aquele que os moradores vão embora e o gato fica na casa.
        E ela não foi para lá fugindo de mim não, viu?
       Ela andava bebendo. Foi para lá para recompor-se física e espiritualmente.
       Na minha opinião ela E não bebia muito não.
       Mas a Tunica é invocada. Geniosa.
       Quer mesmo parar de beber.
       Eu acho que não conseguirá, mas...sabe lá, né!
       Se antes eu sentia-me só, agora então...
       Explicando. Tunica é minha irmã, a responsável pela casa onde habito transitoriamente.
       Mas, como estou pensando em ir para Chuí, no extremo sul do país, talvez não a espere voltar.
     Contudo, de uma forma ou de outra, darei aqui informações sobre meu paradeiro.
       Tenham uma semana abençoada.
       Abraços.
       J. R. M. Garcia.
P.S. Estou sem corretor ortográfico de modo que qualquer erro ortográfico não é equívoco não. É ignorância mesmo.
       

segunda-feira, 21 de julho de 2014

= SOLIDÃO =




Que tédio !
       Ou seria depressão?
       Ou, ainda, prostração?
´      É noite.
       Ao longe, na praça, uma música remota, caipira de péssimo gosto, chega-me.     
Na rua um silêncio fúnebre.
       Televisão desligada.
       Rádio nenhum.
       No micro, ninguém.
       Cansado de ler.  O dia todo.
       Ânimo!!!
       Por quê? Para quê?
       Ouço-me...
       Apenas um leve arfar e as batidas do coração.
       O telefone toca. Atendo. Engano.
       Ninguém, sempre.
       “Quem te viu e quem te vê, hein?”
       E ainda há quem diga que o poeta é um fingidor.
       Boa noite.
       J. R. M. Garcia. 

sábado, 19 de julho de 2014

= "EX" =




“Ex”, é o que sou.
Sou ex-estudante; ex-aluno;  ex-professor de Prática Forense; ex-professor de geometria de cursinho; ex-chefe de Gabinete de Prefeitura; ex-Secretário dos Transportes; ex-criador de clube; ex-fundador de partidos políticos; ex-colunista de jornal; ex-ruralista; ex-advogado; ex-marido.
Tudo “ex”.
E qualquer dia vou acordar - acordar ?! - como ex-vivente.
Difícil isso de viver muito, não é?
Mas, diferentemente são poucas as opções que já vi. Pelo menos conscientemente.
Pessoas há que, ao verem-me depois de algum tempo, assustam. E até mesmo sinto que as desagrado. Talvez, olhando-me, vêem-se.
Você está rindo?
Pois é realmente para rir mesmo.
Quando me apresento vou logo dizendo: “Sou ex.”
Frente a curiosidade do próximo, já logo emendo:
--Sou “ex” tudo. E se não sou “ex”, é exatamente do que não fui. Logo, um bom dia, Amigo.
Um cara de pau atropelou-me perguntou-me:
--Você é também ex-amado?
Encabulou-me.
A esta resposta não soube responder.
Mas agora, pensando melhor, acho que não.
Um lindo domingo para você.
Abraços.
J. R. M. Garcia.






quinta-feira, 17 de julho de 2014

= EU SEM TETO =





       Me perguntam por que sou sem teto e sem carro.
       Minha resposta franca é:
       “Porquê cansei de ter teto e cansei de ter veiculo.”
       Que teto é este que, para mim, é somente uma espécie de prisão? Que condução é esta que tenho de zelar?
       Juro. Juro mesmo que, quando perguntam-me o endereço, não sei fornecê-lo. E isso já faz algum tempo.
       Fui para Bertioga, Santos, Praia Grande e Guarujá. Antes já fizera um teste em Caraguatatuba. Por lá fiquei mais ou menos quase três anos. Perambulei entre estas  cidades por este período e, durante eles, alugaram minha casa (chamava-a, “meu museu”), venderam um automóvel lindo que tinha --um Puma cor prata, praticamente re-feito-- , doaram grande parte de minha modestíssima biblioteca para terceiros e a mobília desfizeram-na como entendiam.
       Se fiquei triste?
      Não. Não fiquei. São coisas da vida. E, aliás, eu autorizara.
       Daí então optei por ser um “sem teto”.
       Não quero apartamento, não quero casa térrea, não quero nada disso. Moro  ora em pousada, ora hotel, ora em outro hotel, ora na casa de um parente e vou por aí.
   Ultimamente estou pensando em ir para Arroio Chuí, extremo sul do Brasil.

CHUÍ

       E minha família?
       Esta está criada e encaminhada.
       E, para onde vou?
       Exatamente vou para o lugar comum de todos nós: para a casa de cremação ou para o cemitério. Ainda não escolhi o local. Tem momentos que penso em pedir para ser cremado, acho um enterro muito trabalhoso. Mas fico em dúvida, pois imagino que, sendo católico, não fica bem.
       Assim saibam: quem vos escreve é literalmente um “sem teto”.
       Abraços.
       J.R.M.Garcia. 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

= SENTIMENTO DE CULPA =

CULPA


     Talvez seja este um de nossos problemas mais comuns, impeditivos de nossa felicidade pessoal.
       E até onde eu saiba, ninguém sai por aí confessando suas culpas ou dando depoimentos sobre elas. Escondemos nossos erros, nossos equívocos debaixo de sete chaves e vamos assim, até levá-los para baixo de sete palmos.
   Falo da culpa consciente. Daquela que sabemos como erramos, porquê erramos e onde erramos.
      E as culpas inconscientes?
     Estas são verdadeiras doenças, que nos levam a moléstias físicas muitas vezes trágicas.
      Lidar e distinguir umas de outras, é tarefa gigantesca.
    Vivemos em uma penumbra de inconsciência, permeada com um simples velcro a separar-nos da consciência. Daí, como não sabemos o quê nos causa mal estar, ficamos imersos nesta massa disforme e indefinida. Desconfiamos, mas não temos certeza.
       A culpa inconsciente é aquela que incomoda-nos de uma forma bem diferente da consciente. Não sabemos o porquê sentimos-nos mal em ambientes que, muitas vezes, deveria dar-nos alegria. Irritamo-nos com algo que seria impossível racionalmente irritarmo-nos. Transferimos raiva para outros, sem que saibamos de onde vem a raiva e porque estamos a lançar esta culpa sobre outrem.
    Penso que tanto na culpa consciente como na inconsciente, o quê devemos acautelar-nos, é em procurar saber as razões de nosso comportamento dentro de determinada conjuntura e refletir, meditar, voltar para dentro de nós mesmos e tentar explicar nossa reação frente as ocorrências e aos fatos. Verificar a razão  de ser de nossas atitudes, a frequência delas, a vulnerabilidade a que nos vemos expostos.
       Para um simples Blog não devo e não posso ir além.
       Abraços.
       J. R. M. Garcia. 
        
      
      
      
      
      


terça-feira, 15 de julho de 2014

= ORDEM DE PAGAMENTO =



         Sexta feira, dia 11, antes do final da Copa.
       Tomei banho, vesti uma roupinha mais ou menos, passei água de cheiro e desci para o banco. Logo vi a fila desanimadora, mas ainda assim peguei uma senha na coluna dos velhos. O número de funcionários é muito menor do que os necessitados.
       O banco é o Santander. A agência não vou dizer para não comprometer as vítimas, sejam elas funcionários ou contribuintes.
       Uma hora e trinta depois meu número brilhou no placar.
       Fui lá. Estava na fila errada. Deveria ser na de “pessoas físicas” e eu, até que provem ao contrário, sou pessoa física de carne e osso.
       Entrei em uma fila menor. A de mais ou menos uma hora.
       Fui atendido por um cansadíssimo e amável gerente.
--Identidade. Ele pediu.
      Ele olhou, olhou, conferiu meu rosto com a foto, mas assim meio triste reconheceu-me na foto.
--Endereço?
--Não tenho. Sou sem teto.
--Mas onde o senhor mora?
--Na pensão da Dona Tunica.
       Ele voltou-se para mim e viu que eu estava sério.
--Mas que pensão é essa?
       Prontamente respondi.
--Não é uma pensão oficial. Mas dão-me pouso e comida lá. E, aliás, muito boa.
       Ele ficou assim meio que fora de órbita. Levantou-se e foi até outra mesa, donde vi que ambos olhavam-me pelo vidro.
       Voltou.
--E, como o senhor faz para a correspondência?
--Como fazia em Montivideo. Posta restante.
     Aí ele realmente não entendeu nada. Parecia não conhecer este serviço.
       Voltou à mesa do outro. Olharam-me novamente.
       Disse.
--O senhor precisa preencher uma carta.
--Sim. Concordei.     
    Redigiram uma correspondência solicitando ao Banco Santander que me enviasse para a conta tal e tal a importância por mim solicitada. Demoraram demais a chegar a uma conclusão se esta seria via fax ou digitalizada.
       Bem. Mas nesta altura dos fatos já o expediente estava findando.
       E findou.
       Segunda não voltei. Estava com preguiça demais.
       Hoje, terça feira, fui lá.
Vendo-me o dito atendente da vez passada, adiantou-se.
--Todo aquele serviço foi perdido. O senhor não veio na segunda.
--Pensei que guardassem o dinheiro aí.
--Não. Ele veio e voltou e o senhor teve setenta reais de despesas debitados na conta em Ribeirão.
       Reclamei.
--Isso é impossível.
       Ele respondeu prontamente.
--O senhor pode reclamar.
       Eu disse:
--Já reclamei.
       Ele indagou:
--Para quem ?
       Eu finalizei sorrindo.
--Para Deus, ora.
       Em sorrisos começamos a mesma maratona ou via sacra anterior. Daí já me passaram para uma moça, também muito simpática.
       Um detalhe. Durante o expediente da moça, chegou  um senhor idoso, pessoa simples e a agradeceu quase orando:
--Graça a Deus....Tirei u dinhero. Minha oração foi tendida.
       Ao final não consegui retirar meu dinheirio. O expediente findou novamente.
   Amanhã vou tomar banho, passar água de cheiro novamente e vou lá.
       Vamos ver, né?
     Se eu precisasse mesmo deste dinheiro já não estava entre as “pessoas físicas”, não é ?
       Minha fila seria outra.
       Depois eu conto como será amanhã.
       Abraços.
       J. R. M. Garcia.