quinta-feira, 10 de julho de 2014

= ELE TAMBÉM CHOROU =



Já era o fim do expediente forense. Uns poucos advogados ainda permaneciam nos cartórios. Mesmo os escrivães, alguns, já haviam saído.
O Fórum, à época, era pequeno. Quatro varas.  Os juízes acumulavam o movimento Cível e Criminal. Quatro cartórios.
Este era o momento que ele mais gostava. Todos descontraídos indo lentamente para suas casas, sem aquele movimento frenético do meio do dia. E, no caso, era uma sexta-feira. O sábado e o domingo, naquele tempo, ele o tirava para si. Iria ao clube com os dois filhos. O maior já sabia nadar. A pequena não. Mas, de uma forma ou de outra, teria dois dias de folga inteirinhos.
Ele, naquele tempo, adorava os fins de semana. Esperava-os com alegria. Os filhos, a esposa ia almoçar fora na maioria das vezes no domingo. Mas já no sábado saiam à noite para comer doces, tomar sorvetes, ir à quitanda.
Geralmente ia a pé para casa. Não era longe.  Mas às vezes passava no banco e o gerente lhe dava carona. Naquela época não eram todos que tinham carros e ele não tinha. Mas hoje resolvera que ia mesmo a pé.
Ele cumprimentou o pipoqueiro da esquina. Mas este, embora olhando-o, não o viu. Sorriu de si para si balançando a cabeça.
Continuou andando. Seriam apenas uns oito quarteirões, o que cobria em menos de meia hora.
Passou pelo ponto de taxia da esquina. Nenhum dos amigos que lá estavam -todos o conheciam- mas nenhum o cumprimentou.
Pensou em se dirigir a eles, mas não o fez. Pensou que, talvez, tivessem distraído ouvindo as notícias do rádio, o qual estava muito alto.
Continuou andando, passou pela praça, pensou em comprar pão na panificadora e não o fez.
Encontrava-se leve, feliz sem qualquer explicação.
Aumentou o passo e chegou a casa.
Entrou e viu, assustadíssimo, sua mulher chorando em prantos.
Não entendeu nada. Abraçou-a e ela chorando sem dar-lhe qualquer atenção sentada em um sofá. Havia alguns amigos. Dirigiu-se a eles e nenhuma resposta. Estavam aflitos. Era com se ele não estivesse ali. Entrou pela casa, passou na sala correndo e abraçou seu filho, procurou a filha...
Ninguém o via. Ninguém dava pela presença dele. Nem os filhos, nem os amigos, nem a esposa.
Olhou para um lado e viu sorrindo sua mãe já falecida, seu pai, seu tio, sua filha já uma moça crescida, loira, linda. Todos falecidos há muito tempo.
Não abraçou mais ninguém.
Sentado no chão, no canto da sala, descalço, convulsivamente "ele também chorou".
Abençoado fim de semana para todos.
J. R. M. Garcia.