Me perguntam por que
sou sem teto e sem carro.
Minha resposta franca é:
“Porquê cansei de ter teto e cansei de
ter veiculo.”
Que teto é este que, para mim, é somente
uma espécie de prisão? Que condução é esta que tenho de zelar?
Juro. Juro mesmo que, quando perguntam-me
o endereço, não sei fornecê-lo. E isso já faz algum tempo.
Fui para Bertioga, Santos, Praia Grande e
Guarujá. Antes já fizera um teste em Caraguatatuba. Por lá fiquei mais ou
menos quase três anos. Perambulei entre estas cidades por este período e, durante eles,
alugaram minha casa (chamava-a, “meu museu”), venderam um automóvel lindo que
tinha --um Puma cor prata, praticamente re-feito-- , doaram grande parte de minha
modestíssima biblioteca para terceiros e a mobília desfizeram-na como entendiam.
Se fiquei triste?
Não. Não fiquei. São coisas da vida. E,
aliás, eu autorizara.
Daí então optei por ser um “sem teto”.
Não quero apartamento, não quero casa
térrea, não quero nada disso. Moro ora
em pousada, ora hotel, ora em outro hotel, ora na casa de um parente e vou por aí.
Ultimamente estou pensando em
ir para Arroio Chuí, extremo sul do Brasil.
CHUÍ
E minha família?
Esta está criada e encaminhada.
E, para onde vou?
Exatamente vou para o lugar comum de todos
nós: para a casa de cremação ou para o cemitério. Ainda não escolhi o local.
Tem momentos que penso em pedir para ser cremado, acho um enterro muito
trabalhoso. Mas fico em dúvida, pois imagino que, sendo católico, não fica bem.
Assim saibam: quem vos escreve é
literalmente um “sem teto”.
Abraços.
J.R.M.Garcia.