quinta-feira, 17 de julho de 2014

= EU SEM TETO =





       Me perguntam por que sou sem teto e sem carro.
       Minha resposta franca é:
       “Porquê cansei de ter teto e cansei de ter veiculo.”
       Que teto é este que, para mim, é somente uma espécie de prisão? Que condução é esta que tenho de zelar?
       Juro. Juro mesmo que, quando perguntam-me o endereço, não sei fornecê-lo. E isso já faz algum tempo.
       Fui para Bertioga, Santos, Praia Grande e Guarujá. Antes já fizera um teste em Caraguatatuba. Por lá fiquei mais ou menos quase três anos. Perambulei entre estas  cidades por este período e, durante eles, alugaram minha casa (chamava-a, “meu museu”), venderam um automóvel lindo que tinha --um Puma cor prata, praticamente re-feito-- , doaram grande parte de minha modestíssima biblioteca para terceiros e a mobília desfizeram-na como entendiam.
       Se fiquei triste?
      Não. Não fiquei. São coisas da vida. E, aliás, eu autorizara.
       Daí então optei por ser um “sem teto”.
       Não quero apartamento, não quero casa térrea, não quero nada disso. Moro  ora em pousada, ora hotel, ora em outro hotel, ora na casa de um parente e vou por aí.
   Ultimamente estou pensando em ir para Arroio Chuí, extremo sul do Brasil.

CHUÍ

       E minha família?
       Esta está criada e encaminhada.
       E, para onde vou?
       Exatamente vou para o lugar comum de todos nós: para a casa de cremação ou para o cemitério. Ainda não escolhi o local. Tem momentos que penso em pedir para ser cremado, acho um enterro muito trabalhoso. Mas fico em dúvida, pois imagino que, sendo católico, não fica bem.
       Assim saibam: quem vos escreve é literalmente um “sem teto”.
       Abraços.
       J.R.M.Garcia.