domingo, 24 de agosto de 2014

- AVIÃO QUASE ATROPELA ÉGUA -

AVIÃO  POUSANDO NA NOITE

       Madrugada alta -quatro horas da manhã- pousando em uma cidade cujo nome não identificarei, o comandante, após ter anunciado os procedimentos de descida, interrompeu-os e voltou para outra altitude.
     Explicou e justificou: “A torre avisa que há um animal nas proximidades da pista. Tomaremos altitude e voltaremos até que sejamos novamente autorizados. Pela atenção, obrigado.”        
      Eu sorri. Mas nem todos sorriram. Nada havia a preocupar.
   Os motores aceleram e, novamente, o trem de pouso foi recolhido, os flaps invertidos e voltamos ali para uns mil metros. A cidade, iluminada, apareceu na janelinha. Linda cidade. Muito bela. Como é maravilhoso ver uma cidade cá do céu!
    É como um bolo de noiva iluminado. As fieiras de luzes margeando as ruas bem delineadas, subindo e descendo morros, cheias de curvas algumas, outras retas, todas passando como um filme colorido. Ilhas de escuridão, onde se situam locais não construídos, trânsito parado ainda, carros isolados trafegando. Uma enorme represa com toda iluminação às margens, mais outra e, agora, a perder de vista aquele universo onde luzes e escuridão se confundem.
        Mas, debaixo da terra, o metrô lotado de gente como ratos, sem diferença de sexo, idades e o que mais não valha, vão a estas horas exprimidos, cansados, exaustos cumprirem sua carga terrível de trabalho para somente retornarem lá pelas vinte e duas horas, com sorte. São mazelas de uma vida condenada ao sofrimento. Nasceram assim e assim morrerão. É como respondeu Filipe da Macedônia ao filho Alexandre, sobre o destino cruel dos escravos: “O crime deles é ter nascido.”
“Pouso autorizado.”
       Soou a voz tranquilizadora do comandante.
     E a imensa aeronave tocou a pista deslizando serena até o fim.
Palmas gerais.
       Tenham uma feliz semana. 
       Abraços.
       J. R. M. Garcia.
EM TEMPO: O infeliz animal era uma égua em alegre pastoreio.