sábado, 23 de março de 2024

IDENTIFICO - ME - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA


         Para o bem ou para o mal, nivelo-me com pessoas simples, sem nenhuma sofisticação visível. E, também, elas se aproximam de mim. É um fato natural. Espontâneo. Nada que me custe qualquer esforço.
         Um exemplo.
       Certa feita, na fazenda, tanto quanto quase uma hora, vinha carregando nos ombros um cacho de bananas e conversando com o empregado. Meu sogro, vendo aquilo, disse-me:
       --E a primeira vez que vejo um empregado de mãos livres e o patrão carregando nos ombros a carga.
       Ele não o fez por maldade. Não. Uma observação aleatória e pertinente.
      Papai, vendo-me a tratar com um escrivão, assim comentou:
     --Você não distingue o meirinho do juiz. Para você são iguais.
     Não é bem assim. Há juízes que nunca respeitei e oficiais cuja consideração e grandeza fizeram-me verter lágrimas. De pessoas blasés ou que assim finjam, tenho horror.
      Causas abandonei por não concordar com as pretensões de bons clientes e lutei por outras que, absolutamente, nem custas tinham como pagar.
      De santidade não tenho nada. Repito. É tudo uma questão de querência e estética.  A lógica vai até onde o desgosto suplanta. Com isso, supostamente, muito perdi e continuarei perdendo.
      E, o contraste de tudo isso, está no fato de que a sofisticação deixa-me deslumbrado. Um exemplo: a beleza de uma árvore, que estende destemida seus galhos ao céu na busca de sol, de vida, do amor de Deus. Isso me encanta, deixa-me em êxtase. Os campos verdes após a chuva, brincando com o vento ondulando o horizonte.
     Flores delicadas, à sombra, que tocá-las seria crime hediondo. Animais silvestres livres. Animais domésticos bem cuidados. Pessoas sem sofisticação, livres de afetação, francas, sem maldade, sem malícia, sem inveja.  
     Talvez me identifique com a Estética em letras maiúscula, em seu alcance filosófico.
     E só.
     
     Abraços.
     J. R. M. Garcia.