quarta-feira, 6 de agosto de 2014

= QUE ME PERDOEM OS VELHOS =

Você pode morrer de repente. Mas ficar velho de repente não pode. 
       E, ficando velho, você vai notando dia a dia a entrada neste vestíbulo do além, ou do aquém ou sei lá o quê seja.
        São dores nas pernas, nos ombros, nos pés, fragilidade no passo, preguiça, indisposição para isso, aquilo e o pior: não pode beber o que deseja e tão pouco alimentar como quer.
      Eu digo sempre para minhas sobrinhas: “O que é ruim é bom”. Toda comida que é ruim é boa para os idosos. É mentira se alguém disser diferentemente a você.
        Os projetos já não são mais o que deveriam ser. Pois há uma linha visível no horizonte, que limita e delimita o tempo dos planos. Você sabe que não pode empenhar-se em concepções longas, pois tem prazo limitado para vê-las frutificar.
        “Agora é viver agora”. Nunca esta frase foi mais verdadeira quando falada a um idoso.
        E daí defluir uma séria interrogação.
        O quê vem a ser “viver agora”?
    Se alguma pessoa disser que este “viver agora”, é fazer tudo o quê der na cabeça, está muito errado. Nada disso.
    Nunca como outrora o idoso terá tantas limitações. Principalmente físicas, mas, também, muitas outras até de forma espiritual.
     Digo e interrogo-me: “Será que faço o que gostaria?”
        Jamais. Jamais. Jamais.
      Gostaria de tomar um carro aqui e, agora, durante a noite que está linda, ir para fazenda. Adoraria levantar altas horas e ir jantar em um restaurante. Sair pelas ruas a pé e passear por São Paulo. Não ter limitações para correr. Poder correr como outrora fazia, acertando o tempo segundo o método Cooper. Ir pescar até a noite surgir e, nela, continuar. Ir pela madrugada atrás de serenatas. Dormir horas e horas sem acordar. Amaria que todas as pessoas trabalhassem menos para termos tempo de “jogar conversa fora”. Adoraria comer à vontade sem preocupações de engordar. Namoraria, sem compromisso, muitas “meninas do pedaço” sejam elas de qualquer idade, mas acima dos cinqüenta anos. E sabe que se não fosse muito amor aos passarinhos, gostaria de tê-los junto a mim. Deitar na piscina e ficar olhando o céu noturno, boiando, até dar vontade de dar algumas braçadas e nada ter o quê fazer depois. Não ter compromisso nem comigo mesmo. Buscar a Folha de São Paulo na madrugada quando ela começava a ser entregue na redação.            E vai por aí afora.
        Bem. Afinal, nem São Paulo já existe mais como era, nem os rios, nem os restaurantes, nem as ruas, nem as serestas, nem as estradas e quase nem tudo.  
        Um ótimo fim de semana para você.
        J. R. M. Garcia.