Você pode morrer de repente. Mas ficar velho de repente não
pode.
E, ficando velho, você vai notando dia a
dia a entrada neste vestíbulo do além, ou do aquém ou sei lá o quê seja.
São dores nas pernas, nos ombros, nos
pés, fragilidade no passo, preguiça, indisposição para isso, aquilo e o pior:
não pode beber o que deseja e tão pouco alimentar como quer.
Eu digo sempre para minhas sobrinhas: “O
que é ruim é bom”. Toda comida que é ruim é boa para os idosos. É mentira se
alguém disser diferentemente a você.
Os projetos já não são mais o que
deveriam ser. Pois há uma linha visível no horizonte, que limita e delimita o
tempo dos planos. Você sabe que não pode empenhar-se em concepções longas, pois
tem prazo limitado para vê-las frutificar.
“Agora é viver agora”. Nunca esta frase
foi mais verdadeira quando falada a um idoso.
E daí defluir uma séria interrogação.
O quê vem a ser “viver agora”?
Se alguma pessoa disser que este “viver
agora”, é fazer tudo o quê der na cabeça, está muito errado. Nada disso.
Nunca como outrora o idoso terá tantas
limitações. Principalmente físicas, mas, também, muitas outras até de forma
espiritual.
Digo e interrogo-me: “Será que faço o
que gostaria?”
Jamais. Jamais. Jamais.
Gostaria de tomar um carro aqui e,
agora, durante a noite que está linda, ir para fazenda. Adoraria levantar altas
horas e ir jantar em um restaurante. Sair pelas ruas a pé e passear por São
Paulo. Não ter limitações para correr. Poder correr como outrora fazia,
acertando o tempo segundo o método Cooper. Ir pescar até a noite surgir e, nela,
continuar. Ir pela madrugada atrás de serenatas. Dormir horas e horas sem
acordar. Amaria que todas as pessoas trabalhassem menos para termos tempo de
“jogar conversa fora”. Adoraria comer à vontade sem preocupações de engordar.
Namoraria, sem compromisso, muitas “meninas do pedaço” sejam elas de qualquer
idade, mas acima dos cinqüenta anos. E sabe que se não fosse muito amor aos
passarinhos, gostaria de tê-los junto a mim. Deitar na piscina e ficar olhando
o céu noturno, boiando, até dar vontade de dar algumas braçadas e nada ter o
quê fazer depois. Não ter compromisso nem comigo mesmo. Buscar a Folha de São
Paulo na madrugada quando ela começava a ser entregue na redação. E vai por aí
afora.
Bem. Afinal, nem São Paulo já existe
mais como era, nem os rios, nem os restaurantes, nem as ruas, nem as serestas,
nem as estradas e quase nem tudo.
Um ótimo fim de semana para você.
J. R. M. Garcia.