quarta-feira, 10 de setembro de 2014

=TIO PACÍFICO PESCOU UM HOMEM=


Já falei dele aqui. Viveu com muitas mulheres e com nenhuma se casou. Muito bebeu. Muito literalmente farreou. Muito dançou. Muito brigou. A muitos atirou e foi atirado. Se matou, não se sabe. Os tempos eram outros. Mas, pelo que sei, não teria matado. Nenhum filho deixou neste mundo. Morreu só, em idade avançada, lúcido, aparentemente dormindo. Dois foram os dias que deram com seu corpo desfalecido em um casebre.
É possível que se possa dizer dele uma pessoa de superlativos.
Brigava por gostar de briga. São muitas as que participou e, diziam, lutava sorrindo.
Seus olhos tinham uma característica peculiar a quem nenhum parente puxou.   Eram em tons acobreados claros, que iam de laranja até o amarelo-alaranjado, com variações do escuro para o mais claro, dependendo de seu temperamento e da incidência de luz. Diziam dele que, para saber se estava com raiva ou alegre, era somente ver a cor de seus olhos. O formato dos olhos eram estranhamente mongóis, um pouco menos rasgados. Quando o conheci já tinha uma basta cabeleira branca ondulada.
Mas, o que quero contar, é que ele pescou um pescador.
Vinha a cavalo, sob chuva torrencial, para atravessar um rio. Rio da Prata.
Do outro lado ficava sua casa. O rio estava “bufando” de cheio, como na época diziam.
Na correnteza ele vê um homem encarapitado sobre uma pedra com a água já pela cintura. Jogou várias vezes seu laço de couro cru. A laçada caia sobre o homem e este não o agarrava. E a água cada vez mais forte e o homem mais fraco, com ela já acima da cintura. Ele agitado, o homem com medo de agarrar o laço. A morte estava próxima.
Ele corre pela margem. Vê a tralha de pesca. Uma linhada grossa, com anzol grande, 10/0 aberto (0,8 cms.), armado na ponta.
Olhou a distância do local mais próximo e do homem afogando na pedra. Pouca. Vinte e poucos metros.
Rodou a linhada com chumbada e tudo e, em um só lance, fisgou o homem. Puxou forte. O cidadão estava realmente fisgado. Sumiu na água e ele puxou rápido e com força. Foram segundos e o pescador veio a tona e ele continuou a arrastar o peixe humano. Ora por baixo da água, ora por cima até que chegou chorando às margens. Isso não levou mais que dez minutos -se tanto- , mas horas para os participantes.
O anzol fisgara exatamente e por sorte no bíceps peitoral. O dano foi grande, mas o “peixe” estava realmente seguro e fora d’água.
O pescador, chorando muito, acusava-o de tê-lo aleijado. O resultado foi que ele, já nervosíssimo com tudo aquilo, deu tantos chutes no cidadão até que este parou de chorar e foram procurar melhor recurso para aquele sangramento sem fim.
Este era o homem que chamava Pacífico. 
Um ótimo fim de semana.
J. R. M. Garcia.