Ô SÔ
ZÉ !
E agora ?
Não houve festa.
A luz não foi acesa,
o povo não veio,
a noite está senegalesca,
e agora ?
E agora, cadê o Joaquim?
E agora, você nem existe.
Você que é sem nome,
que não zomba de ninguém,
Você que não faz versos,
que não ama, protesta?
E agora?
Está sem ninguém,
está mudo,
está levando apenas pedradas,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite continua muito quente,
o dia veio com sol escaldante,
o metrô já passou.
O riso converteu em lágrimas,
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora?
E agora?
Sua amarga palavra,
sua febre constante,
seu jejum,
seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
mas não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais!
Sô Zé e agora?
Sozinho no escuro,
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede,
sem cavalo.
Você marcha, Zé !
Para onde, Sô Ze?
J. R. M. Garcia.