quarta-feira, 29 de abril de 2015

= ATÉ MAIS VER =



Foi ontem ao entardecer.  Um lindo poente daqueles que, avermelhando nuvens, deixa depois um rastro de luz, tingindo de amarelo ouro toda vegetação. Era um sol de despedida, pensei eu. Os campos, o canavial, as árvores todas estavam como que pintadas em ouro.  Há anos não passava por ali.  Tive nítida impressão justificada, que esta seria mesmo a última vez em companhia do filho que, juntos, faríamos aquele mesmo trajeto. Nada já nos interessava por aqueles lados. Toda luta terminara. Era como se fosse ontem e, a um só tempo, como se milhares de anos tivessem passado. Ações não justificavam que lidássemos nestas comarcas.
       Ali, naquela região que vai até Rio Preto, tanto ele como nós tivemos, concomitantemente, quatro concordatas em três cidades.  Duas grandes e duas pequenas.
       “Peão do trecho” passávamos outrora mil vezes em uma pista sem acostamento, sob chuva, a noite e madrugadas até que, agora, era uma moderna estrada de duas vias. Mas não servia mais para nós. Tudo mudara. Mesmo o aeroporto, que não conheci mais, estava lá quando nos aproximávamos em furtivos vôos pela redondeza.
       Tive saudades daqueles bons péssimos tempos. Tudo era correria, ansiedade, mandados de segurança e até habeas corpus. Mas pedia e, simplesmente, vinha minha vontade de luta. Talvez a saudade seja de mim mesmo. Do meu filho, um jovem rapaz iniciando-se na advocacia e eu ainda com muito ímpeto, “pajeando” as intricadas ações.  
    Tudo fora, desaparecera. Somente no espírito ficara a lembrança daquelas “lutas”.
       Aquele por de sol era sim o deitar de todo um tempo que terminara para sempre. Dentro de minutos o véu da noite cobriria todas minhas saudades.
    De repente uma lágrima rolou lenta pelas faces, era a despedida que minha alma vinha fazer. 
J.R.M.Garcia.



sábado, 25 de abril de 2015

= UM DIA DE CIRCO =



         Faz dois anos.
       Perto aqui de casa, em uma área na frente do estádio de futebol, aportou um “circo de Moscou”. Parece que todos os circos são de Moscou.
         Este era.
     Não seus artistas. Não eram russos. A maioria brasileiros “enrolando a língua” para parecerem estrangeiros.
         Passei durante uma semana na frente.
         Circos sempre me encantaram.
         Acho mágico.
         Não só o espetáculo em si.
         O fato de ficar sob uma lona, entrar em um ambiente que isola o mundo lá fora, aguardar o começo do show, ver as luzes apagarem-se e surgir o apresentador, invariavelmente com voz retumbante, toda esta transição, do claro ao escuro, sempre me trouxe um sentimento único.
         Bem, como ia dizendo, após uma semana “rodeando” o circo todos os dias, resolvi ir ao espetáculo.
         Era uma quarta feira, lembro bem.
         Fui devagar, caminhando, até a entrada.
         Não tinha muita gente. Na verdade, pouca.
     Comprei o ingresso sem problemas. A bilheteira era uma mocinha simpática e alegre.
      Antes de entrar propriamente fiquei observando o “acampamento” em volta do circo. Alguns furgões e trailers. Um varal ao vento. Uma criança correndo. Um mundo à parte, pensei. Sempre me encantou o artista circense, rodando o mundo e apresentando sua arte.
         Fui para a primeira entrada. Era uma espécie de “hall”, uma mini lona.
     Ali tinham barracas com algumas comidas típicas e lembranças: cachorro quente (que adoro), algodão doce, pipoca, maçã do amor, barraquinha com ursinhos e coisas assim.
        Um cachorro quente e uma pipoca depois me acomodei na cadeira.
         O circo era simples mas a lona estava em bom estado.
       O palco não era tão grande mas não poderia dizer que era pequeno.
         Tinha uma música alta, alegre, dominando o ambiente.
         Fiquei observando as pessoas chegarem.
         Uma mãe e um pai novinhos, com seu filho de dois anos.
         Um “rolo” sem fim para o menino comer uma maça do amor que era quase maior que ele. Tinha uma pontada de saudades.
         Mais atrás sentou um avó com dois netinhos. Comportados e a avó feliz com eles.
         Uma outra família com papai, mamãe, uma menininha bem novinha e uma (supus) irmã adolescente, muito contrariada de estar ali com os pais e a irmã. Não largava o celular. Compreensível. Queremos tanto quando somos jovens abandonar a juventude para, depois, ficarmos suspirando por esta idade perdida em nossas lembranças.
         Um casal sem filhos. Muito amorosos, muito contentes.
         Todos sentaram-se.
     O sistema de som anunciou, para os que ainda estavam nas barraquinhas, que o show iria começar em 5 minutos.
         Não pude deixar de sentir a mesma emoção que senti na primeira vez que fui a um circo.
         O rufar de tambores, o apagar das luzes, tudo soou como se dentro de meu coração com emoção crescente.
     O apresentador, em um smoking impecável e um tanto aberrante, entrou.
         Anunciou o espetáculo.
   A primeira atração era do palhaço. Justamente desmentindo o apresentador.
         O número de mágica, os malabares, o globo da morte.
         E por aí fui conduzido, por duas horas, a este mundo da fantasia.
         Fui embora com o coração leve.
         Eis que nesta semana o mesmo circo voltou.
       Daqui de casa ouço os números em sucessão. Um após o outro. Acho que nestes dois anos poucas modificações houveram.
         O circo voltou.

         Vamos ao circo. 
(COLABORAÇÃO DE UM LEITOR AMIGO)

domingo, 19 de abril de 2015

= SOU LOUCO MESMO ? =



Hoje, logo ao levantar, uma pessoa mostrou-me a frase de um texto a título de abertura no prefacio de uma obra.
Li. Dizia mais ou menos assim: “Que a primeira voz que alguém ouve ao nascer, é a de sua mãe...”
Fiquei assim meio calado. Não achei verdade no texto. Dúbio pelo menos era. Nada expressivo...Sempre tive a impressão de que alguém ao nascer,  ouvisse muitas vozes, gritos, sons estranhos e até correria.
Mas a pessoa insistiu: “O que desejo dizer, é que essa voz é a voz da pátria...”
Bem. Aí calei-me. Porque a ausência deste Brasil faz bem a todos nós.
E ainda respondi: “Quem está indo embora é ele. Não gosta do Brasil.”
A resposta desta pessoa veio sem nem pensar: “Conversar com louco não adianta...”
Isso levou-me a memória há muitos, muitos anos passados. Quase na minha infância. Aliás de má memória, pois ajudou a matar meu pai.
Na ocasião Moacyr Franco lançou uma música de carnaval que se intitulava “Oi!  Me dá um dinheiro aí.” Foi sucesso. A piada, tolinha, era assim. O cidadão chegava perto de outra pessoa e perguntava: “Se você se visse em uma condição de pobreza e fome extrema, você roubaria ou pediria esmola?”
Logo a pessoa responderia imediatamente: “Pedia esmola....” E o indagador responderia, estendendo a mão, diria: “Oi, me dá um dinheiro aí?”
E eu respondi: “Roubava...”
Ao que a pessoa acrescentou com certa raiva: “Com você não dá para fazer piadas. É louco.”
Bem. Mil anos depois chamam-me de louco outra vez logo ao levantar.
Mas pensando bem, será que sou louco mesmo ?
Bom feriadão.

J. R. M. Garcia. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

= A FORMIGUINHA E A GALÁXIA =


Ontem, lendo pela noite à dentro vi, no piso que é branco, sob a luz do abat-jour, uma formiguinha andando aparentemente ao leu. Uma formiguinha que, de tão pequena, quase invisível. Parava aqui um instante, depois corria um pouquinho, parava de novo, virava, voltava, tornava a andar e, assim, ia. Em menos de cinco minutos ela, sem destino, desorientada, andou no mínimo uns dois metros. Era veloz e tinha pressa. Na proporção de seu tamanho, era como se corresse mais de dois mil metros, suponho.
Indaguei-me: “Qual seu propósito em um quarto ladrilhado, sem nada que a atraísse, tudo limpo, branco, sozinha?”
E ela correndo. E eu pensando.
A natureza é tenaz.
Certas feita, faz algum tempo, vi um imenso avião da Força Aérea Norte-americana, de quatro turbinas, correr solitário na pista, em Carrasco, e colocar-se com extrema dificuldade no espaço. Estava pesado, tanque cheio, engoliu quase toda pista. Ergueu-se e foi. No fim, olhando-o ele pouco mais era que um pingo no céu azul. Aquela coisa enorme aqui, mas pequenino no céu, iria no mínimo percorrer dez mil quilômetros. Era seu destino.
E a formiga também deveria ter um destino que não sei qual, mas teria.
E as galáxias também.
E o universo igualmente.
E toda humanidade, com a terra, seu sol e planetas irmãos, terão um fim.
Uma ótima semana.
J. R. M. Garcia.






domingo, 12 de abril de 2015

= DOR DE CABEÇA =

Isso está nos livros de Psiquiatria, mas com pequeno destaque.
A dor é, ao que se observa, uma das primeiras sensações que o ser humano tem neste mundo.  No momento em que nos vemos fora do líquido amniótico, temos a imensa sensação de frio e da própria gravidade. Com esta consternação vimos ao mundo chorando. E estas lágrimas iniciais é que nos trás à vida, desenvolve nossa sensação de prazer, de desagrado, de fome, de alegria. Dá-nos, enfim, a impressão de identidade própria, separando o mundo de nós próprios. E daí, pela tentativa de acerto e erro, vamos avançando e acumulando conhecimentos neste mundo até tornarmo-nos seres cognoscitivos.
 A consciência dolorosa é pois o destaque de nossa vida aqui e é o que afirma Schopenhauer em sua extensa obra, louvada por  Freud,  Nietzche e Jung entre muitos outros. Assim ele definiu - talvez exageradamente - nossa vida neste mundo: “Por toda a parte o homem encontra oposição, vive continuamente em luta, e morre segurando suas armas.”
  Este traço da intimidade humana com a amargura pertence ao ser denominado “normal”. Mas não o é entre os que disso destoam muito.
   Há aqueles entusiastas da dor. Amam-na. Estes são masoquistas.
  Mas há um faixa cinzenta entre os amantes da dor (masoquistas) e os que dela fazem uso apenas como expressão da tristeza de seus sofrimentos, força de fuga, agressividade, defesa de si mesmo etc.  
           Nesta faixa cinza –pode parecer absurdo-  mas ha pessoas, que por qualquer razão não podem ser felizes. Contudo mal vê de si aproximando algum momento de felicidade arrebenta-o todo. São destrutivas de si mesmas e acabam estourando o humor de todos que em volta a cercam.
          Que Deus afaste de nós este tipo de gente! Ele arrebenta nossa vida. Calcina nosso espírito. Destrói nossos dias. Arruina-nos a existência.
           Essa dor é malsinada, fortuita e desnecessária. Ela nem é de todo masoquista e tão pouco sincera, mas o parceiro explode a gente.
             Pensem nisso.
             Boa semana.
                   J. R. M. Garcia.

        

       

sábado, 11 de abril de 2015

= OS TIJOLINHOS DE DEUS =


"Um físico é uma forma de os átomos pensarem sobre átomos."

(ANÔNIMO)

Muito interessante !
Todos somos feitos de átomos. 
Melhor. Diz Feynman "Olhe a sua volta. Tudo são átomos.  De um mínimo ponto aos trilhões de galáxias. Tudo. E eles estão aí em número realmente inconcebíveis."
Logo nossos pensamentos, nossos desejos, nossas vontades, angústias, desespero, medos, amores, poesia, música, arte também originam dos átomos.  
Poderia dizer como os gregos: "São os tijolos de Deus."
E nosso pensamento?
É evidente que muito mais este do que as outras formas de ser. As sinapses que nos dão as idéias, liga nossa memória, nosso aprendizado, nossos movimentos são meras articulações do cérebro. Se o víssemos por um raio "x" ultra potente, observaríamos dentro do cérebro apenas raios saltando de um pedaço de massa cinzenta a outro, como se nuvens fossem. E cada uma destas humildes e invisíveis fagulhazinhas, é a troca de informação entre uma e outra parte de nossa mente. 
Somos isso. 
Apenas isso.
Um milagre de Deus.  
Bom domingo. 
J. R. M. Garcia

quinta-feira, 2 de abril de 2015

= SEXTA FEIRA DA PAIXÃO =



De vez en cuando hay que hacer
una pausa,

contemplarse a sí mismo
sin la fruición cotidiana.

Examinar el pasado
rubro por rubro,
etapa por etapa,
baldosa por baldosa

y no llorarse las mentiras
sino cantarse las verdades.



Lee todo en: Pausa - Poemas de Mario Benedetti http://www.poemas-del-alma.com/mario-benedetti-pausa.htm#ixzz3WBirIO7d

J.R,M.Garcia