Ontem, lendo
pela noite à dentro vi, no piso que é branco, sob a luz do abat-jour, uma
formiguinha andando aparentemente ao leu. Uma formiguinha que, de tão pequena,
quase invisível. Parava aqui um instante, depois corria um pouquinho, parava de
novo, virava, voltava, tornava a andar e, assim, ia. Em menos de cinco minutos
ela, sem destino, desorientada, andou no mínimo uns dois metros. Era veloz e
tinha pressa. Na proporção de seu tamanho, era como se corresse mais de dois
mil metros, suponho.
Indaguei-me:
“Qual seu propósito em um quarto ladrilhado, sem nada que a atraísse, tudo
limpo, branco, sozinha?”
E ela
correndo. E eu pensando.
A natureza é
tenaz.
Certas feita,
faz algum tempo, vi um imenso avião da Força Aérea Norte-americana, de quatro
turbinas, correr solitário na pista, em Carrasco, e colocar-se com extrema
dificuldade no espaço. Estava pesado, tanque cheio, engoliu quase toda pista.
Ergueu-se e foi. No fim, olhando-o ele pouco mais era que um pingo no céu azul.
Aquela coisa enorme aqui, mas pequenino no céu, iria no mínimo percorrer dez
mil quilômetros. Era seu destino.
E a formiga
também deveria ter um destino que não sei qual, mas teria.
E as galáxias
também.
E o universo
igualmente.
E toda
humanidade, com a terra, seu sol e planetas irmãos, terão um fim.
Uma ótima
semana.
J. R. M.
Garcia.