quarta-feira, 27 de maio de 2015

= EXILADO. EU ? =


Sim. Foi o que me disse um amigo do coração, sobre minha mudança para Montevidéu. Ele não estava criticando-me. Estava espantado, isso sim.
Indagou-me ele, também, o porquê desta alteração radical na vida.
Vou tentar responder.
Não estou fugindo, não devo na cidade, não tenho qualquer problema político, tenho, aliás, muitos amigos e família.
Mas...a despeito de tudo isso, vou.
Vou não por causa de meus amigos, por causa do Brasil.
Gostei muito deste país. Aí vivi até ontem. Aí tenho a vida de todos ascendentes nos grotões de Minas Gerais. Estudei anos em São Paulo, também no interior do estado em colégios internos e aí pretendia morrer.  
Este tal de PT expulsou-me.
Nauseei-me com Dilma, Lula, Zé Dirceu, Cuchiquem, Renan, Genuíno, PETROBRAS e seus escândalos e mais tudo que, como disse Guga, o tenista: “O Brasil nos abateu  a todos...” Abateu a uma geração. Não consigo vislumbrar nem oposição, nem situação, nem partidos capazes de resolver este inferno onde são abatidos a armas mais de 60.000 brasileiros por ano. São Paulo que conheci, nunca foi nojento como está. Era, ainda São Paulo do bonde e da garoa. Ele morreu e eu vou também morrer  longe.
O que vejo é que, enquanto o Judiciário permanecer feliz com seus ordenados, a Câmara regiamente abastecida em cerca de mais de cem mil reais por mês para cada deputado e a presidência feliz com os ordenados vultosos de seus 39 ministérios, nada acontecerá. Estamos na merda.
Os Moros, os Joaquins da vida são poucos. A PF é muito pequena para entrar em todos estes meandros de avassaladores traficantes associados a políticos.
E o povo sofre. Sofre e há muito tempo.
Teremos um país de “diplomados”, mas com a industria descapitalizada e pobre, não servirá de nada.
Uma ou duas geração está “abatida”, senão mais. Isso equivale no mínimo 80 anos.
Vivi um Brasil que agora nada mais tem de mim.
Espero deitar meu último olhar nas campinas infindas do Uruguay.
Um abraço Pérsio Pisani.
A todos um adeus.
J. R. M. Garcia.



sábado, 16 de maio de 2015

= FELICIDADE =


         Eterno tema.
     Rios de tinta riscaram toda a terra falando deste assunto desde que aqui o homem surgiu.
   “Ter riquezas, bem-estar e consumir  muitos bens materiais não é o mesmo  que ter felicidade”, dizem alguns como Pepe Mujica, o ex-presidente do Uruguai.
   Para ele isso é uma verdade, que aliás é facilmente defensável. E completa o texto de maneira quase irrefutável: “Essa é a outra face de nossa angústia, que caminha pelas ruas na forma de milhões de indivíduos submerso na solidão em uma sociedade moderna multitudinária”.
    Segue a linha do mitológico Diógenes que, vivendo em um barril, recomenda a Alexandre dar-lhe mais espaço para tomar sol.
     Muito antes de conhecer o pensamento de Mojica, já eu considerava que o consumo não é saída alguma.
    Imagino que a felicidade é um estado de ânimo que, emanando de uma consciência anímica, não perceptível e, portanto, não descritível, habita algumas pessoas de forma tão indistinta como o estado de graça descrito por Santo Agostinho. É a vontade de Deus.
    Este pensamento, levado a instituição pública, seria trazer à liberdade a quantidade maior de pessoas que, de forma responsável, exercessem em pleno grau  suas motivações.  Assim poderíamos não ter um PIB, mas um IF (índice de felicidade) mensurável.
         Bom fim de semana.
         Abraços.
         J. R. M. Garcia.  
        


terça-feira, 12 de maio de 2015

SOLO = FLORA = FAUNA = HOMEM

BRASILEIROS
     
Época houve em que derrubamos uma “croa” (estágio de terras cuja vegetação média fica entre o mato e o cerrado) na fazenda e lá semeamos, com algum calcário, um pasto de uns dez alqueires de colonião. Nooossaaaa !!!! Nasceu que foi uma maravilha. Cresceu, ficou vigoroso. A terra agradeceu e dissemos para nós mesmos: “Este Brasil é muito rico. Aqui tudo se plantando dá.” Somávamos o jargão com aqueles dos que aqui aportavam vindos de terras da velha Europa.
         E assim foi. Primeiro ano o gado regalava-se empastado. Segundo ano um pouco mais fraco. Terceiro já precisamos dar um descanso maior. Quarto ano começou a nascer um tal de cipozinho que tínhamos por toda fazenda, lobeira (planta com espinho nas folhas) e unha de bode (praga nativa que destrói os pastos). Quinto ano tudo desapareceu medrando somente estas pragas daninhas que nada valiam a alimentação do gado. Tatu, lagartos, cobras, pássaros pequenos e pouco mais.
     E deste modo experimentamos todo tipo de capim possível e imaginável. Do Jaraguá nativo ao colonião, a baqueará, a humidícula, tudo. No final o solo tornava-se cerrado novamente.
     Era uma grande extensão de terra e, tudo que economizávamos, desaparecia na terra.
        E deste modo passaram-se 40 longos e torturantes anos. Mas jamais estas três pragas foram vencidas: unha de bode, lobeira e o maldito cipozinho.
         Já estava para desanimarmo-nos quando começamos a plantar sob a orientação de uma usina inglesa, a British Petroleum. Corrigimos a terra, gradeamos, aramos, plantamos soja e, ao final, cana. Já a terra era outra. Com “novas propriedades”.  Mas, se abandonamos esta faina ela voltará ao que era. Prova está que vimos no campo de aviação da propriedade o mesmo cipozinho às margens da pista.
       E essa foi a única solução. Mas assim ficou para mim uma lição eterna sobre nosso cerrado invencível: solo = flora = fauna = homem.
     Daí nasce  toda nossa preguiça, desânimo, desespero, furtos e abestalhamento geral. Nosso solo é fraco, nossa flora embora diversificada é daninha, nosso animais são todos de pequeno porte pois a vegetação nativa não comporta de maior porte e, por fim um homem desmazelado, frágil, incapaz, sem inteligência, sem criatividade e propício a uma vida fácil, ao roubo, ao vício em geral até um governo desmoralizado, vagabundo, sem valor e voraz.
         Chega.
         Não analisarei mais.
         É isso.
         J. R. M. Garcia.
         

segunda-feira, 4 de maio de 2015

= TRISTEZA =

        
Disse-me uma leitora - cujo nome omito por discrição - que me inquino a escrever sobre temas tristes.
         He ! Talvez ela tenha razão.
         Contudo, pensem comigo.
         Não sei porquê, mas falar de dramas, levantar estes temas, é muito mais fácil do que fazer sorrir. Mesmo na comédia há, sempre, bem no fundo, um tema de tristeza, um algo que não indo bem nos leva a sorrir. Vejam as comédias de Chaplin, dos irmãos Marx, do Gordo e o Magro. E até em tombo aqui, outro ali, uma frustração óbvia que nos leva dobrar de rir. Mesmo na monumental na obra Don Quixote, Cervantes nos leva a gargalhadas pela idiotice de seus personagens. Até William  Shakespeare, esquece o drama para colocar algumas passagens cômicas.
         Assim, por preguiça, abordo temas dramáticos.
         Mas hoje vou deixar a indolência de lado.
         Passado muitos anos, Maria encontrou Orlando em uma fila de supermercado.
         --Não está me conhecendo? Perguntou.
         Pensando. Olhando bem, com mais calma, respondeu:
         --Você é Maria ?
         Sorriram.
         Dito os tratos casuais como o tempo, o quê haviam feito neste período, quantos filhos etc. Maria disse impulsivamente.
         --Você Orlando, era minha paixão de infância.
         Grato pelo elogio ele sorriu feliz e, encabulado, respondeu:
         --Nunca imaginei que fosse assim. Eu era apaixonado por você e nunca passei daquele bom dia boa tarde. Sonhava com você. Nunca a esqueci.
         --E eu com você.
         Ficaram ambos olhando um ao outro meio sem graça, até que ela disse:
         --Adeus. Até mais. E se foi sorrindo.
         Ele continuou parado, rememorando sua adolescência no colégio.
         J. R. M. Garcia.      

sábado, 2 de maio de 2015

= INGRATIDÃO ENOJA-ME =

MARTA e MARIA 

            É bíblico.
         Marta e Maria (aqui Maria não é a mãe de Jesus) eram irmãs -narra o evangelista- e optam uma por estar na cozinha, preparando comida para Jesus, enquanto na sala a outra, sentada aos pés dele, ouvia suas palavras e sua doutrina.
    Maria cuidava da comida em azáfama na cozinha e reclama de Marta que, serenamente, ouvia a pregação do Mestre:
-- Por que ela aí fica sentada, enquanto eu, aqui, labuto na feitura e cozimento da refeição?
         Até hoje a resposta do Mestre confunde teólogos e doutrinadores cristãos.
-- Marta, Marta...Ela escolheu a melhor parte. Ouve-me enquanto estou aqui, pois logo irei e já não me terá.
Estranha resposta. Uma está a trabalhar, enquanto a outra ouve o som musical das palavras de Jesus e esta é elogiada, em detrimento da outra que se acumula de serviços, a dar-lhe o quê de comer.
         Mas pelo visto Jesus pensava exatamente assim. Mais importância dava naqueles que ouviam suas palavras do que aos quê, religiosamente, o serviam.
         Para mim, embora surpreso, valorizo ambas atitudes. Tanto daquele que labuta nos afazeres, quanto daquele que doutrina os grandes temas valia igual. Mas, talvez a história não seja exatamente esta e, de mais a mais, a verdade é exata quando o ser humano deixa os valores do amor, da gratidão, da humildade em troca do dinheiro e vantagens.  A ingratidão enoja-me.   
Mas não creio que Maria fosse assim, pois do contrário não estaria a preparar a "bóia" para Deus.
Bom domingo.
J. R. M. Garcia.