terça-feira, 12 de maio de 2015

SOLO = FLORA = FAUNA = HOMEM

BRASILEIROS
     
Época houve em que derrubamos uma “croa” (estágio de terras cuja vegetação média fica entre o mato e o cerrado) na fazenda e lá semeamos, com algum calcário, um pasto de uns dez alqueires de colonião. Nooossaaaa !!!! Nasceu que foi uma maravilha. Cresceu, ficou vigoroso. A terra agradeceu e dissemos para nós mesmos: “Este Brasil é muito rico. Aqui tudo se plantando dá.” Somávamos o jargão com aqueles dos que aqui aportavam vindos de terras da velha Europa.
         E assim foi. Primeiro ano o gado regalava-se empastado. Segundo ano um pouco mais fraco. Terceiro já precisamos dar um descanso maior. Quarto ano começou a nascer um tal de cipozinho que tínhamos por toda fazenda, lobeira (planta com espinho nas folhas) e unha de bode (praga nativa que destrói os pastos). Quinto ano tudo desapareceu medrando somente estas pragas daninhas que nada valiam a alimentação do gado. Tatu, lagartos, cobras, pássaros pequenos e pouco mais.
     E deste modo experimentamos todo tipo de capim possível e imaginável. Do Jaraguá nativo ao colonião, a baqueará, a humidícula, tudo. No final o solo tornava-se cerrado novamente.
     Era uma grande extensão de terra e, tudo que economizávamos, desaparecia na terra.
        E deste modo passaram-se 40 longos e torturantes anos. Mas jamais estas três pragas foram vencidas: unha de bode, lobeira e o maldito cipozinho.
         Já estava para desanimarmo-nos quando começamos a plantar sob a orientação de uma usina inglesa, a British Petroleum. Corrigimos a terra, gradeamos, aramos, plantamos soja e, ao final, cana. Já a terra era outra. Com “novas propriedades”.  Mas, se abandonamos esta faina ela voltará ao que era. Prova está que vimos no campo de aviação da propriedade o mesmo cipozinho às margens da pista.
       E essa foi a única solução. Mas assim ficou para mim uma lição eterna sobre nosso cerrado invencível: solo = flora = fauna = homem.
     Daí nasce  toda nossa preguiça, desânimo, desespero, furtos e abestalhamento geral. Nosso solo é fraco, nossa flora embora diversificada é daninha, nosso animais são todos de pequeno porte pois a vegetação nativa não comporta de maior porte e, por fim um homem desmazelado, frágil, incapaz, sem inteligência, sem criatividade e propício a uma vida fácil, ao roubo, ao vício em geral até um governo desmoralizado, vagabundo, sem valor e voraz.
         Chega.
         Não analisarei mais.
         É isso.
         J. R. M. Garcia.