BRASILEIROS
Época houve
em que derrubamos uma “croa” (estágio de terras cuja vegetação média fica entre o mato e o cerrado) na fazenda e lá semeamos, com algum calcário, um
pasto de uns dez alqueires de colonião. Nooossaaaa !!!! Nasceu que foi uma
maravilha. Cresceu, ficou vigoroso. A terra agradeceu e dissemos para nós
mesmos: “Este Brasil é muito rico. Aqui tudo se plantando dá.” Somávamos o jargão
com aqueles dos que aqui aportavam vindos de terras da velha Europa.
E
assim foi. Primeiro ano o gado regalava-se empastado. Segundo ano um pouco mais
fraco. Terceiro já precisamos dar um descanso maior. Quarto ano começou a
nascer um tal de cipozinho que tínhamos por toda fazenda, lobeira (planta com
espinho nas folhas) e unha de bode (praga nativa que destrói os pastos). Quinto
ano tudo desapareceu medrando somente estas pragas daninhas que nada valiam a
alimentação do gado. Tatu, lagartos, cobras, pássaros pequenos e pouco mais.
E deste modo experimentamos todo
tipo de capim possível e imaginável. Do Jaraguá nativo ao colonião, a baqueará,
a humidícula, tudo. No final o solo tornava-se cerrado novamente.
Era
uma grande extensão de terra e, tudo que economizávamos, desaparecia na terra.
E
deste modo passaram-se 40 longos e torturantes anos. Mas jamais estas três
pragas foram vencidas: unha de bode, lobeira e o maldito cipozinho.
Já
estava para desanimarmo-nos quando começamos a plantar sob a orientação de uma
usina inglesa, a British Petroleum. Corrigimos a terra,
gradeamos, aramos, plantamos soja e, ao final, cana. Já a terra era outra. Com “novas
propriedades”. Mas, se abandonamos esta
faina ela voltará ao que era. Prova está que vimos no campo de aviação da
propriedade o mesmo cipozinho às margens da pista.
E
essa foi a única solução. Mas assim ficou para mim uma lição eterna sobre nosso
cerrado invencível: solo = flora = fauna = homem.
Daí
nasce toda nossa preguiça, desânimo, desespero,
furtos e abestalhamento geral. Nosso solo é fraco, nossa flora embora
diversificada é daninha, nosso animais são todos de pequeno porte pois a
vegetação nativa não comporta de maior porte e, por fim um homem desmazelado,
frágil, incapaz, sem inteligência, sem criatividade e propício a uma vida fácil,
ao roubo, ao vício em geral até um governo desmoralizado, vagabundo, sem valor
e voraz.
Chega.
Não
analisarei mais.
É
isso.
J.
R. M. Garcia.