CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
LUZ DEMAIS CEGA
O
comum, o usual, o costumeiro, o trivial não é notado pela imensa maioria de
nós.
Certamente por isso civilizações
inteiras, apesar de suas dificuldades diárias, não inventaram a roda, por
exemplo. Os maias, os astecas, os pueblos edificaram pirâmides executando cálculos complexos de engenharia e nunca
usaram a roda.
O vento, assim como as distâncias, é o
elemento mais comum no planeta, e destas civilizações nenhuma delas usou a vela,
limitando-se ao remo.
O óbvio se esconde sob um manto tão
evidente, que na verdade parece que não o notamos.
Não sei, exatamente, se a clareza destas
conveniêncas nos saltam à vista de forma tão evidente, que seu próprio brilho
nos inibi ou se, de algum modo, força dominadoras nos tange a ignorarmos por
padrões culturais contrários ao novo, ao fazer diferente. A verdade é que
fatores adversos impedem a criação de novas idéias. Sejam pelos que exercem o
poder em qualquer tribo, sejam pelos detentores do poder.
Aqui, no Brasil, isso aconteceu por 20
anos ou mais. Mentiam-nos que tudo estava bem, que teríamos escolas, serviço de saúde, transporte etc. Todos, até o mais ignorante de nós sabíamos que a
riqueza de uma nação não se faz em poucas décadas e, agora, esta desgraceira de
um débito de US$ 482 bilhões em débitos
no exterior, incluindo as faturas do governo.
Tudo
era um logro que sabíamos de sua existência, (govêrno, imprensa, judiciário, congresso,
povo) mas fizemo-nos de cegos e, sem “inventar a roda”, estamos todos sendo
arrastados nesta miséria de dívida impagável.
Era o óbvio
ululante que não quinemos ver. A evidência era muita.
Cegou-nos.
Cegou-nos.
Uma
boa semana.