CRÔNICA E CONTOS (Borges e Garcia)
ELE ESTAVA SEM CELULAR
A temporada
já estava no fim. Após o carnaval e todos já iam embora. As praias, aos poucos,
esvaziavam.
Ele, sentado
ali fora na varanda, aproveitava a brisa ainda fresca da manhã.
--Antônio. Traga-me o de sempre.
O garçom foi
e trouxe a vodca pura com limão. Ele fazia questão de espremer as fatias.
Bebeu um gole curto e
ficou a olhar o movimento daqueles que se preparavam para viajar.
Passou mais
de hora e ele pediu outra vodca.
Mais uma
hora.
E nada.
Ele pensou:
“Estranho! Ela disse que viria aqui antes de viajar...”
Distraia-se
com os carros que iam pegar estrada. Uns com bicicletas sobre o teto. Outros
terrivelmente cheios. Alguns com crianças e pais nervosos tentando alojá-los
dentro. Um porta bagagem que não fechava de modo algum. Esquecidos voltavam
correndo ao prédio, para um último objeto. Era aquele clima de voltar para casa
e pegar no batente.
Ora ele
imaginava-se vendo-se ir pescar com os novos amigos, jogando a rede ao mar para
ao amanhecer ir busca-la. O movimento seria menor e seria mais tranquilo. Ora
pensava nela. Afinal foram dez dias de troca de ideias, de murmúrios, de
conversas sobre o que iam descobrindo um do outro. Tudo novidade. O novo é
sempre uma esperança. Era como se aos
poucos fossem descobrindo cada reentrância do corpo e da alma. Fora ótimo.
Haviam se despedido na noite anterior, depois de uma volta na praia e ela
somente com um vestido longo sem nada sob ele. Hoje esperava dizer-lhe como se
encontrariam novamente.
De repente a
mulher surgiu afobada.
--Antônio, ele apareceu aqui?
Ela
perguntou ansiosa.
--Sim, madame. Ficou até agora mesmo.
Com um gesto
de raiva ela pediu.
--O mesmo que ele tomou....mas em dobro.
De bermudas
ele não usava o celular.
J. R. M. Garcia.