CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
A NOITE É MINHA
Desde
criancinha, minha finada saudosa mãe, recordava-se que sempre me dava ao sono
muito tarde. É meio que trocava o dia pela noite. Queria ficar acordado até
muito tarde.
E
esse defeito, - se o é - , até hoje mantenho-o.
Durmo
tarde e detesto as manhãs.
Vivi
em internato por quatro anos, deitando-me as nove horas e acordando as cinco.
Foi
um martírio, mas afinal nem só de doces vive a alma. Fiquei vivo e voltei ao
que sempre fui.
Noitadas
de serestas, bebidas, chuva, frio nunca me importaram. A noite foi sempre minha
companheira.
Agora,
velho, surge a Internet, esta libertadora dos notívagos.
Aqui
as vezes encontro papo, alguma pesquisa nem sempre bem feita, mas que me enche
o passar das horas.
Outra
coisa. Sem ler não durmo. Leio deitado vários livros ao mesmo tempo. Sou
eclético no apetite. Poesia é a única
leitura que não me entretém. Minha parca cultura foi feito deitado. A poesia,
para mim, há de ser declamada. Do contrário é uma crônica ruim.
Hoje,
as noites para mim que há muito deixei a mocidade, é proibida. Fico aqui
quietinho pensando crônicas, conversando com vocês. Recordo as veze dias bons,
outros maus. As vezes rezo.
Para
você, que tem remorso em dividir sua noite com a vigília, ligue-se a esta minha confissão
e sinta-se livre.
Um
ótimo fim de semana.
J.
R. M.Garcia.
martinsegarcia@uol.com.br