VOA TEMPO
Velho corpo devastado,
músculos flácidos, olhar desatento, passos trôpegos, carnes bambalhonas, mãos
úmidas e frias.
Mas minha vida foi
vivida.
Já ouço bem próximo o
rumor da torrente que me levará ao escuro calabouço.
Nada fiz. Nada vi. Nada
ouvi.
Tudo agora se foi.
Tarde demais para
agarrar-me a uma pedra, qualquer voz que me dê alento na espera das quedas
finais enquanto consciência houver.
É noite. Nada vejo.
Tudo desaparecerá em algumas horas.
Vivi?
Acho que sim. Esta sim
foi a página que o Destino me tocou.
Noite quente, feia e
sem lua. Todas foram assim. Nada a esperar.
Sempre o mesmo do
mesmo.
Que me resta?
Vamos, tempo!
Voa.
Leva-me depressa em sua
torrente ...
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>