segunda-feira, 16 de novembro de 2015

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) "SOMOS DESENVERGONHADOS"

SOMOS     DESENVERGONHADOS


Ou seja: somos sem vergonha. Se não somos sem vergonha, somos hipócritas. Se não somos hipócritas, somos desumanos. Se não somos desumanos, somos burros demais.
Dilma, a presidenta, disse com a cara de pau que lhe é característica: "Devemos combater sem trégua os atos hediondos cometidos em Paris. Reitero minha solidariedade ao presidente Hollande e ao povo francês".
Imagine: 56.000 mil mortos assassinados, em fila pela Av. Paulista ou pela praia de Copacabana, em um cortejo fúnebre.
Será qual seria o tamanho deste desfile? Quantos quilômetros atingiriam?
Ou que todos dias enterrássemos 153 mortos vítimas de assassinatos cometidos no país.
Pois é isso aí!
É esse o número de assassinatos praticados por ano no Brasil, uma média de 153 por dia.
E, no entretanto, ficamos com cara de atônitos quando em Paris ou nos EUA são mortos em um atentado, pouco mais de uma centena ou pouco menos.
Já imaginou todos os dias uma fila de 153 caixões seguindo pela praia de Copacabana? E estes são nossos mortos, nossos irmãos.
“Combater sem trégua” disse ela. Dilma deveria fazê-lo aqui, no quintal de sua casa, na porta de seu Palácio. Combater aqui este horror e não “os fatos hediondos” que aconteceram lá na França, uma nação que não sofre o quê já sofremos todos os dias.
Alexandre Magno morreu no Egito. Seu corpo embalsamado passou por todos países de seu Império para que dele não esquecessem.
Bem que aqui seria válido embalsamar 56.000 assassinados, lacrá-los em caixões próprios e desfilar pelas principais cidades da nação, o cortejo para que todos vissem, sentissem e talvez nos trouxessem um pouco de cor nas faces.
Falando, escrevendo não somos capazes de mostrar esta tragédia.
Somos todos uns cretinos. Inclusive eu.
Perdoem-me o desabafo. Não aguento mais.
Que Deus nos guarde dos bandidos de colarinhos brancos e dos vestidos de seda.
Fiquem com Deus.
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>